Arqueólogo recriou itinerários ocultos da Era Viking em 26 viagens
Greer Jarrett refez rotas em barco semelhante aos usados pelo povo medieval e descobriu novidades sobre o comportamento deles


Embora já reconhecidos, os grandes feitos da Era Viking (800-1050 d.C.) na mobilidade marítima acabam de ganhar uma nova perspectiva. Isso porque o arqueólogo Greer Jarrett embarcou em 26 viagens para refazer, na prática, as rotas do povo famoso pelo domínio do mar. Nessa jornada, ele descobriu que os itinerários eram bem mais complexos do que se sabia até então.
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Jarrett é pesquisador e doutorando na Universidade de Lund, na Suécia. A experiência, por sua vez, faz parte de um estudo publicado na Journal of Archaeological Method and Theory, em maio de 2025.
A análise buscou reconstruir os itinerários marítimos da Era Viking combinando métodos experimentais e digitais, de modo a superar as limitações das evidências tradicionais. Isso porque, até então, acreditava-se que aquele povo navegava apenas por sítios costeiros — afirmação que nunca convenceu Jarrett.
Muitas vezes, só conhecemos os pontos de partida e chegada do comércio que ocorria durante a Era Viking (…) O que me interessa é o que acontecia nas viagens entre esses grandes centros comerciais– disse o pesquisador à Universidade de Lund
Mão na massa e descobertas
Para confirmar sua tese, o pesquisador conduziu expedições ao longo da costa oeste da Península Escandinava, conhecida em nórdico antigo como Norðvegr, em barcos construídos na tradição de Åfjord, com direito a casco de tábuas sobrepostas (clinker) e vela quadrada, semelhantes aos usados há mais de mil anos.


Assim, ele pôde observar na prática como a tripulação lidava com correntes, ventos de fiordes e mar aberto, além de identificar os locais mais adequados para abrigo, descanso e reparos.
Um dos pontos que chamou a atenção de Jarett foi o de que os locais de parada ideais dos vikings muitas vezes não eram grandes portos, mas sim ilhas menores e promontórios costeiros, capazes de oferecer abrigo e acesso seguro em trajetos longos.
Minha hipótese é que essa rede descentralizada de portos, localizada em pequenas ilhas e penínsulas, foi fundamental para tornar o comércio eficiente durante a Era Viking– explicou Jarett
A afirmação é baseada em reconstruções digitais de topografia, parte da tecnologia que acompanhou o estudo. A ferramenta consegue ajustar o relevo atual às condições de cerca de 800 d.C., considerando variações do nível do mar e o chamado rebote isostático (elevação gradual da crosta terrestre após a última era glacial).


O método ainda ajudou o pesquisador a identificar quatro possíveis “havens” (abrigos usados por navegadores vikings na costa norueguesa) — todos inéditos para a arqueologia. Espalhados por ilhas e penínsulas remotas, os havens funcionariam como paradas informais e estratégicas para marinheiros que navegavam entre centros conhecidos como Ribe (Dinamarca), Bergen (Noruega) e Dublin (Irlanda).
Para Jarrett, esses pontos indicam que a rede de navegação era descentralizada, formada por diversos “nós” menores distribuídos pelo litoral — o que contrasta com a ideia de que apenas grandes portos concentravam o tráfego marítimo. Na prática, os vikings eram estratégicos e se apoiavam em paradas intermediárias, criando um sistema flexível e eficiente de mobilidade.
Por outro lado, o estudo também mostra que, com o passar do tempo, essa rede mudou. Fatores naturais, como o assoreamento e a variação do nível do mar, somados aos avanços na construção naval e às políticas de centralização patrocinadas por reis escandinavos, resultaram em uma malha reduzida e concentrada de portos no final da Idade Média.
Surpresas pelo caminho
Embora um dos grandes pilares do estudo seja o uso da tecnologia, o saber popular não passou batido pelo pesquisador. Para identificar rotas vikings específicas, Jarrett também entrevistou marinheiros e pescadores sobre as rotas tradicionalmente usadas no século 19 e no início do século 20, quando barcos a vela sem motor ainda eram comuns na Noruega.
Usei a experiência das minhas próprias viagens e o conhecimento tradicional dos marinheiros para reconstruir possíveis rotas de navegação da Era Viking– destacou o arqueólogo
Parte desse conhecimento ainda vive especialmente porque os vikings não navegavam usando mapas, bússolas ou sextantes, mas sim “mapas mentais”, baseados em memórias e experiências.
Dessa forma, mitos ligados a diversos pontos de referência costeiros foram ganhando força e espaço entre os marinheiros ao longo dos anos, principalmente quando envolviam alertas sobre perigos e marcos de navegação.


Perigos, inclusive, também foram enfrentados também por Jarret. Em um dos episódios da saga de 26 viagens, a verga da vela quebrou em alto-mar e precisou ser concertada em um improviso da equipe, composta, principalmente, por estudantes e voluntários.
Tivemos que amarrar dois remos para segurar a vela e esperar que ela aguentasse– relembrou Jarred
A aproximação inesperada de uma baleia-de-minke também foi um dos pontos altos da pesquisa. “Ela subitamente emergiu e bateu sua enorme barbatana caudal a poucos metros do barco”, conta.
Por meio de uma abordagem inovadora, que uniu prática, tecnologia e memória, Greer Jarrett conseguiu reforçar a ideia de que a Era Viking não dependia apenas de grandes centros, mas de uma rede dinâmica, descentralizada e adaptada à geografia costeira.
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