Estudo inédito diz que capitão do famoso naufrágio de Endurance sabia de riscos da embarcação

Pesquisador afirma que algumas falhas já eram conhecidas pela tripulação antes mesmo do veleiro iniciar viagem

Por: Nicole Leslie -
10/10/2025
Imagem dos destroços do Endurance debaixo d'água. Foto: Falklands Maritime Heritage Trust / Divulgação

O famoso navio Endurance, que afundou em meio ao gelo antártico em 1915 sob comando de Sir Ernest Shackleton, já foi alvo de muitos estudos — e agora mais um veio à tona. O professor e pesquisador Jukka Tuhkuri, da Universidade Aalto (Finlândia), publicou um artigo inédito que revela novos bastidores desse caso histórico. Entre eles, a tese de que o capitão sabia dos riscos da embarcação antes mesmo de iniciar a viagem.

O Endurance fez parte da famosa expedição de Shackleton à Antártica, que navegou pelo Mar de Weddell em 1915. Por muitos anos, acreditava-se que o navio era extremamente resistente e quase inabalável.

 

O novo estudo, porém, quebra essa ideia. Publicado na revista científica Polar Record em 2025, o artigo reúne análises de documentos oficiais, como diários e cartas, além de uma revisão técnica da estrutura do navio no contexto da época.

Professor e pesquisador Jukka Tuhkuri, nome à frente do novo estudo. Foto: Jaakko Kahilaniemi / Universidade Aalto / Divulgação

As aparências enganam

Entre as conclusões de Jukka Tuhkuri está a de que o Endurance não era o navio mais forte de sua época e possuía pontos fracos já no desenho estrutural. A sala de máquinas, por exemplo, tinha menos vigas de reforço do que o ideal para suportar a pressão do gelo antártico.

A popa do Endurance submersa com o nome e a emblemática estrela polar. Foto: Falklands Maritime Heritage Trust / Divulgação

Embora o leme tenha sido arrancado durante a destruição do navio, Tuhkuri mostra que ele não foi o principal fator do afundamento. O golpe decisivo pode ter sido o deslocamento da quilha — a estrutura central que dá sustentação ao casco.


O estudo também conclui que o navio foi esmagado pelo gelo, que fez pressões laterais tão intensas que provocaram rupturas internas no casco. Tuhkuri ainda comparou o Endurance com outros navios polares contemporâneos e observou que muitos tinham reforços diagonais para resistir melhor às pressões — algo que o Endurance não possuía.

Fica evidente que Shackleton estava bem ciente das fraquezas do Endurance, mesmo antes de sua expedição partir para a Antártida– escreveu Tuhkuri

O pesquisador ressalta que Shackleton e outros tripulantes sabiam das fragilidades do navio antes mesmo da partida. Em cartas escritas antes da expedição, o comandante expressou preocupação com a força da embarcação — mas não o suficiente para desistir da jornada.

Cortes transversais idealizados de antigos navios antárticos. À esquerda, modelo do Endurance. À direita, modelo de outros navios polares da mesma época. As setas representam a pressão causada pelo gelo. Foto: Pesquisa “Por que o Endurance afundou?” / Polar Record / Divulgação

História resiste embaixo d’água

Depois de 107 anos sob as gélidas águas do Mar de Weddell, o Endurance foi encontrado em março de 2022, a cerca de 3 mil metros de profundidade, por cientistas da missão Endurance22. As imagens subaquáticas da expedição, analisadas por Tuhkuri, são compatíveis com suas hipóteses sobre o deslocamento da quilha.

Leme do Endurance na popa. Foto: Falklands Maritime Heritage Trust / Divulgação

As fotos também mostram que o leme foi encontrado próximo à popa (parte de trás do navio), confirmando que ele foi arrancado durante o colapso do casco. Mas, embora o estudo esclareça vários pontos, ainda há perguntas em aberto nessa investigação.

 

Algumas partes danificadas podem estar enterradas sob sedimentos, ocultando outros danos estruturais. Tuhkuri também observa que, embora o comandante soubesse da necessidade de reforços, não há registros claros sobre por que o Endurance não recebeu essas melhorias antes de partir rumo à Antártica.

 

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