O império contra-ataca

Por: Redação -
18/08/2014

Lendo e relendo as estatísticas recentes do mercado americano de construção de barcos, e os comentários associados a estas informações, notei que existe grande chance de que a tendência de recuperação do mercado náutico americano tenha começado. O problema é que números estatísticos são confiáveis quando você sabe quem está por trás da pesquisa. Se a pesquisa é auditada existe maior chance dos números mostrarem uma determinada tendência, mas é difícil de acreditar que por uma simples amostragem seja possível aceitar a validade de todos os números.

Se eu disser, por exemplo, que na raia da baía de Guanabara, onde serão corridas as regatas da próxima Olimpíada, 70% das rondadas de vento vem da direção leste, não quer dizer que na dúvida eu tenha que ir para o lado esquerdo da raia. A mudança de direção do vento depende da frequência dos ventos, direção da corrente, temperatura da água, altura da maré e vários outros fatores. Aceitar um número impresso como parâmetro estatístico para uma decisão pode ter consequências drásticas.

Entretanto, lendo o resumo da pesquisa publicada recentemente é possível notar sinais de recuperação da indústria náutica americana, que foi tremendamente afetada com a crise de hipotecas de 2008, gerada no próprio país. Os primeiros 6 meses do ano seguinte amargaram a redução da capacidade produtiva da fabricação de barcos em quase 70%. O recorde de produção de barcos novos em 2007 foi de 280.000 unidades e neste ano a fabricação de novos modelos ainda vai estar 40% abaixo do valor pré-crise. Se tudo correr bem, como as projeções estatísticas mostram que em 2014 serão fabricados 180.000 barcos.

Mas isto não quer dizer que o sol está brilhando para todo mundo. Os americanos têm hoje mais de 1.100 construtores de barcos e iates e, analisando com mais detalhes as estatísticas, o volume de barcos com motor de popa acima de 25 pés construídos em fibra de vidro ainda está 50% abaixo do valor de 2007, e os barcos fabricados em fibra de vidro com motores de rabeta, 70% abaixo. A razão pela preferência de barcos com motor de popa vem dos avanços tecnológicos deste tipo de propulsão e um menor custo inicial de instalação.

A maior parte da recuperação do mercado americano vem no segmento de barcos para a classe de idade e de consumo mais alta, que cobrem barcos do tipo pontoon fabricados em uma combinação de alumínio e fibra de vidro. A venda de barcos entre 40 e 60 pés ainda está bem abaixo dos níveis de cinco anos atrás, embora este mercado não possa ser ignorado por muitos fabricantes, pois pertencem a uma linha de produtos que produzem uma maior margem de lucro do que a de barcos menores.  Neste mercado estão inseridos fabricantes europeus, principalmente italianos, que ainda amargam duras perdas na Europa.

Se o mercado de barcos a motor mostra alguma recuperação, o segmento de veleiros ainda está no centro de uma calmaria, sem vento e sem nenhuma possível brisa no horizonte. A quantidade de barcos a vela produzidos e vendidos em 2013 foi 13% menor que no ano anterior, embora este valor seja de aproximadamente 6.000 unidades, que é incomparavelmente maior do que a produção deste segmento no Brasil. Fabricantes americanos e europeus (instalados nos Estados Unidos) disputam, rajada por rajada, este negócio que vem mostrando sinais de fraqueza ano a ano.

Já o mercado de barcos de pesca, muito popular há muitos anos por aqui e nos Estados Unidos, é um dos segmentos com maior prosperidade, apresentando números significativos no aumento de vendas. Alguns construtores informaram um aumento de vendas superior a 10% em relação ao ano passado. Muitas marcas modernizaram sua linha de produtos e a maioria desses barcos utiliza motores de popa, com um custo de aquisição e instalação menores que os de rabeta e centro. Os ganhos de produtividade foram tão expressivos que forçou um dos maiores fabricantes de barcos a vela, com sede na França, a adquirir quatro marcas americanas de barcos a motor (Four Winns, Glastron, Wellcraft e Scarab). Alguns fabricantes tradicionais deste mercado, normalmente com um barco de comprimento médio de 25 pés, têm projetos para a construção de novos modelos entre 30 e 42 pés, o que reflete o aumento de procura deste tipo de produto.

Durante os últimos três anos, a NMMA (Associação Americana dos Construtores de Barcos) tem investido de forma obstinada para conseguir elevar o número de produção e faturamento do mercado americano, gerando mais empregos e garantindo a recuperação do segmento náutico. Nos Estados Unidos, o mercado náutico emprega mais de 350 mil pessoas e gera um impacto na economia americana de mais de 36 bilhões de dólares.

Foto: Divulgação

 

Jorge Nasseh é especialista em construção e composites e costuma viajar os quarto cantos do mundo em busca de novidades no meio náutico

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