Abertura emocionante
As regatas de abertura da Ilhabela Sailing Week levaram à prova as tripulações inscritas na principal competição de oceano da América Latina. Conforme a previsão, o vento entrou no Canal de São Sebastião exatamente no momento da largada neste sábado (4), com rajadas de 30 nós (60 km/h), provocando ondas de dois metros. Quebras e abandonos por precaução se tornaram inevitáveis.
O veleiro gaúcho Camiranga, um moderno Soto 65, cruzou a linha de chegada às 18h20m03, mas passou pelo ponto de registro às 18h09m03, estabelecendo novo tempo, 6h04m03s, para a Regata Alcatrazes – Marinha do Brasil. A melhor marca para o percurso de 60 milhas (110 km) pertencia ao S40 argentino Cusi V desde 2009, com 6h12m29. A organização aproveitou para instituir a partir deste ano o recorde para a classe RGS. O tempo de referência passa a ser do Inaê Transbrasa, com 9h34m37.
A prova que contorna o Arquipélago de Alcatrazes, neste ano em homenagem aos 150 anos da Batalha do Riachuelo, abre a competição desde 1999. “Foi a Alcatrazes mais desafiadora e uma das mais importantes de todos os tempos devido ao recorde. Primeira vez em que o vento sudoeste entrou e o mar subiu desde a largada”, analisou o diretor da Comissão de Regatas (CR), Carlos Sodré, o Cuca.
Dos 119 barcos que largaram em frente ao Yacht Club de Ilhabela, no rumo sul, para três percursos distintos, 59 desistiram. Em relação a Alcatrazes, 60 veleiros partiram e apenas 34 concluíram a prova. “Teve gente que desistiu antes mesmo de chegar ao trajeto da balsa, mas as regatas foram muito bem-sucedidas. O navio-patrulha Guaporé, da Marinha do Brasil, guarneceu a flotilha até às 2h da madrugada de domingo, garantindo a segurança das tripulações, principalmente na área de Alcatrazes”, concluiu Sodré.
Maior embarcação entre as que correram até Alcatrazes, o Camiranga, do Veleiros do Sul (RS), veio a Ilhabela com objetivo estabelecido: quebrar o recorde da regata que contorna o arquipélago. Missão cumprida, o coordenador da tripulação gaúcha, Team Crioula, Samuel Albrecht, avaliou as condições da nova marca. “Achamos que não seria possível bater o recorde porque o vento sudoeste, bem na cara, nos obrigou a velejar em ‘zig-zag’ até Alcatrazes. Andamos o dobro do que poderíamos navegar com um leste, por exemplo”.
Tripulação e equipamentos do Camiranga receberam elogios do timoneiro. “Em um barco desse tamanho é muito difícil não quebrar nada sob essas condições, mas o equipamento se comportou de forma exemplar. Velejamos com média de 21 nós e rajadas de 26 e mar muito grosso. Com amadores e convidados, entre os 14 tripulantes, adotamos uso obrigatório de coletes salva-vidas”, informou Samuel, que retornará ao Rio de Janeiro nesta semana para seguir em campanha olímpica para o Rio 2016 na classe Nacra, com Isabel Swan. O próximo desafio do Camiranga será a Santos-Rio, em outubro.
O vento com rajadas de até 30 nós, quase 60 km/h, levou emoção também à Regata Toque-Toque. Mastro quebrado, velas rasgadas e equipamentos avariados provocaram várias desistências. Em meio ao festival de imprevistos, a prova com 18 milhas (32 km) teve como Fita Azul, primeiro barco a cruzar a linha de chegada, o C30 Caballo Loco, seguido pelo Loyal CA Technologies, com o HPE 30 Tahiti Nui em terceiro lugar.
Para completar a regata, as tripulações tiveram de superar muitas dificuldades. “Na velejada em popa, no retorno ao Yacht Club de Ilhabela, nossa vela balão estourou. Tivemos de dar uma segurada. O Loyal largou muito bem, mas logo em seguida o vento apertou. O Caballo Loco é muito bem adaptado ao vento forte. Ganhamos porque conseguimos velejar bem perto do baixio de São Sebastião para fugir da correnteza do canal”, analisou Mauro Dottori, comandante do Caballo Loco.
Dotori viveu momentos de emoção provocados pelo vento e pelas ondas. “Este barco a uma velocidade de 18 nós, média que mantivemos, é água para todo lado. Você fica no meio da espuma. Dá um medo do capeta. Dedico a vitória à minha tripulação e ao almirante Lima Filho, que estava na fragata Greenhalgh. Ele sempre é pé quente para o Caballo Loco”, comemorou.
Mesmo com vento em popa, muitos veleiros fizeram a segunda metade da regata sem balão. “Estivemos sempre próximos do Caballo Loco. Registramos uma rajada de 33 nós, que nos fez planar a 18 milhas por hora. Uma regata muito difícil, com muito vento”, relatou o trimmer do Loyal, Alexandre Muller. “No popa tivemos de tirar o balão para sobreviver. A disputa foi emocionante e equilibrada”, comentou o comandante do Loyal, Marcelo Massa.
O atual campeão da Ilhabela Sailing Week na C30, Zeus Team, foi o terceiro da classe. A tripulação catarinense sofreu com a interferência das fortes rajadas. “O sul entrou com força e foi apertando. Estávamos disputando o segundo lugar com o Loyal e fomos ousados. Colocamos muita pressão e o balão estourou. Pusemos uma segunda vela que também não aguentou e rasgou”, contou o comandante Inácio Vandresen.
A classe HPE 25 abriu a competição com a disputa do Troféu Renato Frankenthal, de posse transitória. Os barcos precisaram de muito esforço dos quatro tripulantes para enfrentar o vento. Ginga, Fit to Fly e Atrevido foram os três primeiros. Um dos favoritos, Suzuki Bond Girl, retornou ao YCI com o mastro quebrado.
“O cabo de popa estourou na rajada. Logo em seguida o mastro dobrou bem no meio e caiu no convés”, relatou o tático do Bond Girl, Douglas Thisted. A avaria não impedirá o retorno do barco às regatas a partir de quarta-feira (8). “Vamos instalar um mastro emprestado a tempo de testarmos as novas regulagens até a próxima largada”, assegurou o timoneiro Rique Vanderley, sem maiores lamentações. Apesar do cobiçado troféu, a regata inaugural não contou pontos para a HPE 25.
O vencedor Ginga é o atual campeão da classe. “Tivemos o cuidado e a sorte de não quebrar. Pelo bigode da espuma, acho que no popa atingimos a velocidade de 25 nós. Prevaleceu a habilidade da tripulação”, enalteceu o comandante Breno Chvaicer. O Ginga é tripulado por velejadores caiçaras, exímios conhecedores das raias de Ilhabela. “Só voltaremos a competir quarta-feira, mas treinaremos em todos os dias”, avisou.
O segundo colocado Fit to Fly viveu momentos dramáticos com a queda de um tripulante em pleno vento em popa. “Nós e o Ginga largamos escapados, mas nos recuperamos muito bem. Na segunda metade da regata demos uma atravessada de balão em uma rajada de 28 nós. Bateu a onda e a retranca lambeu a água. O Beto de Jesus, nosso timoneiro, foi pro mar, mas conseguiu se agarrar a um cabo e foi possível resgatá-lo”, contou o trimmer Cesinha de Jesus.
Resultados
Regata Alcatrazes por Boreste – 60 milhas
ORC Geral – Angela Star VI (Peter Siemsen)
IRC – Angela Star VI (Peter Siemsen)
RGS-A -Inaê/Transbrasa (Bayard Freitas Umbuzeiro)
RGS-B -BL3 (Pedro Rodrigues)
Regata Toque-Toque – 18 milhas
C30 – Caballo Loco (Mauro Dottori)
RGS-C – Cação (Escola Naval)
Clássico – Cangrejo (Ricardo Carvalho)
HPE 30 – Thaiti Nui (Juninho de Jesus)
Mini – Jacaré (Pedro Fukui)
Bico de Proa – Viveree (Atanawe Boechat)
Troféu Renato Frankenthal – 12 milhas
HPE 25 – Ginga (Breno Chvaicer)
Confira as fotos da regata:
Fotos Marcos Méndez / SailStation
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