Pioneira na construção de grandes barcos de lazer no Brasil, MCP Yachts completa 40 anos

02/04/2020

São muitas conquistas a comemorar. Na travessia do estaleiro, com dezenas de iates construídos, façanhas como a entrega de um modelo de 142 pés

Essa é a história da MCP Yachts, que em 2020 completa 40 anos de atividades. É a história de um estaleiro cujo fundador, Manoel Chaves, formou-se em engenharia naval pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, no fim da década de 1970, viu que havia espaço no país para a construção de grandes barcos movidos a motor, e ocupou este espaço. Era o período pós “milagre brasileiro” e os anos pela frente prometiam ser difíceis e amargos. A missão não era fácil e o cenário não ajudava. Ainda assim, Manoel Chaves decidiu ir em frente, confiando em sua inclinação natural para o mar, velejador que era. Aposta mais que certeira.

Quatro décadas depois, a MCP Yachts (com sede no Complexo Industrial Naval do Guarujá) já lapidou algumas dezenas de barcos a motor, de 76 a 142 pés. Não são barcos quaisquer, mas verdadeiras joias náuticas, construídas sob encomenda por pessoas exigentes, e que navegam pelos setes mares.

Mais que um aniversário redondo, são muitas conquistas a comemorar! “Apesar de jovem, eu já acumulava certo conhecimento na construção de barcos quando abri a empresa, em fevereiro de 1980”, lembra Manoel Chaves. “De 1978 até o fim de 1979, por exemplo, eu era o gerente de projetos do estaleiro Ebrasa, em Itajaí, que fazia barcos de serviço, e fui o responsável por muitos projetos, como a série AVIN (Aviso e Instrução)”, recorda o comandante da MCP Yachts, referindo-se a três barcos de 28 metros de comprimento. Ainda hoje essas embarcações são usadas para treinamento de todos os oficiais da Escola Naval da Marinha Brasileira.

A primeira encomenda de um motoriate chegou em 1978. “A pedido do artista e ecologista Sepp Baendereck, projetei a transformação de um navio caça-minas, de 138 pés, na época chamado Juruena, em um iate”, lembra Manoel Chaves, revelando parte de sua experiência antes de entrar em cena como empresário, à frente da MCP — sigla de Motores de Combustão Principal, que, com a projeção internacional do estaleiro, foi transformada informalmente em Manoel Chaves Projects, embora o nome seja apenas MCP Yachts.

“Inicialmente, apenas prestávamos serviços de Inspeção e Engenharia Naval para navios, no Porto de Santos. Mas logo passamos a focar exclusivamente na produção de barcos, com projetos assinados por mim mesmo”, ele explica.

O ponto de partida para isso foi uma parceria com a General Eletric, para quem construiu, em série, nada menos que oito iates de 92 pés, a maioria deles ainda hoje em atividade em nossas águas (entre eles, o Ausonia, o St. Germain , o Apolimar e o Raffaella I) e até na Europa (o Algarve). “A GE tinha uma fábrica de locomotivas em Sumaré, perto de Campinas, no interior de São Paulo, que ficou ociosa devido à falta de encomendas. Meu amigo Judimar Piccoli realizou as vendas e me contratou para fazer o projeto de um iate, que desenvolvi a partir de um modelo italiano, da Benetti, cuja autorização para uso do nome Bennetti foi assinada em um guardanapo de papel pelo próprio Ricardo Bennetti, um dos donos da Fratelli Bennetti, que estava pedindo falência”, lembra Manoel Chaves, rindo.

O mais incrível é que todos desenhos desse iate foram desenvolvidos com base apenas em fotografias, tiradas pelo próprio Manoel, na Itália. “Para se ter uma ideia da loucura que foi isso, basta lembrar que, na época, a maior lancha fabricada no Brasil pela Carbrasmar tinha apenas 61 pés”, compara o comandante da MCP. “Imagina a dificuldade para transportar os iates do interior de São Paulo até o mar, naquela época. Grandes aventuras”, lembra Manoel.

Desde então, muitos projetos saíram da prancheta de Manoel Chaves, tornando a MCP reconhecida mundialmente. E ainda tem muita água pela proa. As ferramentas é que mudaram, com a revolução da comunicação na era digital e as consequentes inovações no processo de projetar.

Iluminando sua trajetória com uma lanterna de popa, Manoel Chaves conta que assinou mais de 250 projetos nesses 40 anos — entre iates, barcos comerciais, de pesca e militares, que navegam pelos sete mares —, e faz uma lista das principais embarcações de lazer que ostentam o logotipo da MCP no casco.

Em 1986, ano do Plano Cruzado, a MCP foi contratada pelo empresário Vidal dos Santos Rodrigues, grande amigo do comandante do estaleiro, para um projeto audacioso: a construção do MY Santa Maria, de 37 metros de comprimento (120 pés), maior iate de alumínio feito no Hemisfério Sul até aquele momento. O barco levou cinco anos para ficar pronto, devido as várias crises econômicas pelas quais o país passou. Lançado ao mar em 1991, virou objeto de culto, não apenas por aqui como no exterior.

Equipado com dois motores MTU e propulsão Water Jet da Kamewa, com os quais alcançou na prova de mar 24 nós de velocidade máxima, o MY Santa Maria partiu para a Europa em 1993, na condição de primeiro iate de alumínio construído no Brasil a atravessar o Atlântico, o que depois se tornaria rotina para barcos da MCP. No velho continente, participou de dois salões náuticos importantes: o Mega Iate Boat Show de Nice, na França, e o San Remo Charter Boat Show, na Itália.

De volta ao Brasil, baseado em Angra dos Reis, ainda hoje o MY Santa Maria encanta os olhos daqueles que o veem passar. “Sua tecnologia recebeu um certificado de qualidade estrutural do American Bureau of Shipping, classificador internacional, com sede nos Estados Unidos”, destaca Manoel Chaves.

Próximo destaque da lista de iates by MCP: o Raffaella II, de intermináveis 142 pés (ou quase 43 metros de comprimento), até hoje o maior já construído na América do Sul. Tal qual uma mansão flutuante, tem cinco suítes, sendo a principal delas com dois banheiros e banheira de hidromassagem, e levou dois anos e meio para ser construído. Detalhe: o projeto consumiu 900 plantas de seus compartimentos e envolveu 250 funcionários, até chegar ao resultado final. “Para meu orgulho, o barco foi totalmente produzido no país”, diz Manoel Chaves.

Também marcaram época pela inovação os iates da série TransOcean projetados por ele para ser construídos com casco de aço, como o Trindade, de 95 pés, e o Serena (atual Anua Nua II), de 89 pés.

Outros barcos icônicos do estaleiro foram os da série GFT (Global Fast Trawler), com casco semideslocante, de alumínio, e muita autonomia para travessias mares afora. Foram produzidos cinco modelos GFTs, de 85, 92, 93, 98 e 100 pés, incluindo o Âmbar, GFT 85, que teve como proprietária a apresentadora Ana Maria Braga, no começo dos anos 2000. Vários GFTs de 98 pés e GFTs Europa de 100 pés foram exportados. Alguns já atravessaram seis vezes o Atlântico.

Depois, vieram os barcos da série Classic, de 76 pés, com cinco unidades na água, seguidos por dois motoriates da série 106 LE (Limited Edition): o Mars e o Paradiso, ambos de 32 metros de comprimento. Sem esquecer do THD 925, cujo primeiro exemplar, o iate Ragnar, de 28 metros de comprimento e autonomia de 3 mil milhas, foi apresentado no Rio Boat Show 2019.

Há um ano, a atuação internacional rendeu ao estaleiro paulista uma parceria com o estúdio de design de iates holandês Vripack — de extensa experiência em arquitetura e engenharia naval, com mais de 7 mil projetos consolidados —, com quem a MCP Yachts passa a atuar em conjunto, abrindo um leque de novas possibilidades. “Nosso primeiro projeto a quatro mãos é um motoriates transoceânico de 40 metros, batizado de Seaview. E estamos trabalhando em uma série, com embarcações de 34 metros, com a marca MCP-Vripack. Já temos reservadas janelas para fabricação de dois cascos para este ano”, revela Manoel Chaves. “Serão nossos cascos de nº 93 e 94”, cataloga.

Ao mesmo tempo, a MCP Yachts (agora sem o parceiro holandês) está construindo o seu primeiro veleiro: o Global Exp 66, de quatro camarotes com o padrão de conforto dos iates do estaleiro, confeccionado com alumínio naval (liga 5083 H116) certificado internacionalmente pelo Lloyd’s Register, de Londres. Mais leve e resistente, esse tipo de casco tem durabilidade e performance incomparável. “Com ele, procuramos trazer para o mundo da vela o mesmo grau de conforto e segurança que nossos clientes encontram em nossos motoriates”, explica Damien Chaves, filho de Manoel Chaves e seu braço-direito no estaleiro.

Em fevereiro de 1980, quando criou a empresa, o jovem engenheiro naval certamente acreditava no êxito de seu empreendimento. Mas não poderia prever que, 40 anos depois, estaria à frente do estaleiro que gigantes dos mares. “É toda uma história que atravessa o tempo e que nos orgulhamos de continuar”, resume Manoel Chaves, um homem apaixonado pelo mar e pelo que faz, e que por isso chegou tão longe.

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