Histórias do mar: o francês que navegou o mundo com uma galinha viva a bordo
Durante cinco anos (de janeiro de 2014 a dezembro de 2018), a bordo de um veleiro de 38 pés, o francês Guirec Soudée, atualmente com 28 anos, navegou pelo mundo, quase sozinho. Quase? Sim, porque, tal qual o Náufrago de Tom Hanks, ele tinha um “Wilson” para conversar. No caso, uma galinha viva, chamada Monique, que fazia companhia ao velejador, empoleirava no convés, contemplando a vastidão de vários oceanos.
Por que uma galinha?
“Eu queria navegar sozinho, com certeza. Queria ficar sozinho com a natureza, isolado do mundo, mas achei que a viagem ficaria melhor se tivesse ao meu lado um animal de estimação. Então pensei que uma galinha seria uma ideia brilhante, porque eu poderia ter ovos frescos no mar”, explica o velejador.
Deu match! “É estranho dizer isso agora! Formamos um vínculo real. Ela era tão carinhosa e me fez rir muito, como se eu sempre a conhecesse. Aparentemente imperturbável, ela gostava de correr pelo convés, esquivando-se das ondas e atacando peixes voadores que caiam no convés. Ela adora peixe. Por isso, seus ovos tinham um sabor salgado”, conta ele, rindo.
Durante os cinco anos de expedição, Guirec e sua galinha ficaram presos no gelo do Ártico por 130 dias e sobreviveram a ondas de 15 metros, com o Yvinec (esse é o nome do barco) quase emborcando várias vezes. Além disso, ele foi preso brevemente pela guarda costeira canadenses e se tornou o marinheiro mais jovem a navegar solo na formidável Passagem Noroeste entre o Pacífico e o Atlântico.
Com base nessa experiência, Guirec Soudée agora tenta aplicar as lições da vida no mar à quarentena em solo francês, na Bretanha. “O que me ajudou nessa viagem, especialmente durante o inverno no Ártico, foi a minha persistência. Foram 70 dias muitos difíceis. Estava em uma baía remota, sem comunicação, com apenas um saco de arroz e Monique. Sabia que não tinha escolha; se caísse em desespero, não conseguiria sobreviver ao frio”.
Com base nessa experiência, Guirec Soudée agora aplica as lições do mar à quarentena em sua casa, na região da Bretanha, na França. “O que me ajudou nessa viagem, especialmente durante o inverno no Ártico, foi a minha persistência. Foram 70 dias muitos difíceis. Estava em uma baía remota, sem comunicação, com apenas um saco de arroz e Monique. Sabia que não tinha escolha; se caísse em desespero, não conseguiria sobreviver ao frio”, exemplifica.
Para o velejador, estar sozinho é algo indescritível, “porque você aprende a fazer as coisas sem procurar respostas ou a aprovação de alguém”, explica. Porém, no caso do isolamento imposto pelo coronavírus, a situação é um pouco diferente, acredita ele.
“Não foi uma decisão pessoal nem planejada. Além disso, o estresse deste momento não é igual para todo mundo. Imagina o que isso significa para as pessoas que não têm acesso a comida, água ou remédios e que têm de lutar para sobreviver ao confinamento. Isso é dramático para bilhões de pessoas. É difícil ter uma solução global. É na hora em que aprendemos a consumir apenas o que precisamos que vemos o que estamos fazendo de errado há muito tempo”, pondera.
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