Conheça a baleeira salva-vidas de navio que virou barco de pesca


A primeira reação é sempre de surpresa — que geringonça será aquela? A segunda, de curiosidade — ninguém resiste a olhar de perto. E a terceira, de perplexidade: não, aquela “coisa” não é um submarino, embora mais pareça um tubo colorido. A “coisa”, no caso, é o Isaías 35, uma baleeira salva-vidas marítima que o criativo morador de Caraguatatuba, Marcelo Marques, transformou no mais original barco de pesca oceânica do litoral norte de São Paulo. “Eu queria um barco que aguentasse qualquer tranco e não achei nada mais resistente do que essa baleeira, que foi feita para despencar do alto dos navios sem despedaçar”, explica Marcelo. “Mas, também, era só o que o meu dinheiro dava para comprar”.


Marcelo achou o que procurava num anúncio de uma empresa de equipamentos usados para navios na internet. “O cara que me atendeu achou que eu queria dar curso de sobrevivência no mar ou coisa parecida. Quando falei que ia transformar a baleeira em um barco para pescar, ele só não riu para não perder o negócio”, recorda. E não ficou só nisso. Apaixonado por, digamos, “operações complexas” (“Adoro uma encrenca”, diz Marcelo), ele não só resolveu instalar um convés em barco feito para ser totalmente fechado, como decidiu retirar um pedaço da cabine e emendar no resto, encurtando a casaria em mais de um metro. “A cabine tinha 38 bancos e mais parecia um micro-ônibus. Tirei tudo e instalei três camas e um banheiro, além de mudar o posto de comando de lugar. Essa engenharia caiçara deixou o barco um pouco menos cara de supositório”, analisa, bem-humorado.


A baleeira transformada em barco de passeio de Marcelo é do tipo Free Fall (“Queda Livre”), que são ejetadas dos navios — daí ser toda fechada. “Se ela mergulhar, sobe de novo. Se capotar, desvira sozinha. E, se inundar, ainda flutua”, garante Marcelo. Ele a comprou para poder pescar com tranquilidade nas águas nada mansas da plataforma Mexilhão, em alto-mar, a 140 milhas do litoral norte de São Paulo. “Lá não tem ninguém pra dar risada do meu barco”, brinca. Mas como ele é lento feito uma tartaruga no asfalto, leva 12 horas para ir e outras 12 para voltar, “fora as paradas para vomitar, porque nem estômago de caiçara aguenta tanto balanço”, acrescenta. “Outro dia, convidei um amigo de 75 anos para ir junto, mas ele disse que não podia, porque não dava tempo de voltar vivo”.


A mulher de Marcelo também há muito desistiu de sair para passear no Isaías 35 (o nome é uma referência ao salmo que, em linhas gerais, diz que, ao final, tudo dará certo, como, aliás, comprova o próprio barco). “Ela diz que prefere a balsa de Ilhabela, porque, pelo menos, tem espaço ao ar livre”. Mesmo assim, Marcelo não se arrepende nem um pouco do curioso barco que passou a ter, especialmente depois que ele ganhou uma espécie de torre de metal para pescarias de corrico, que, de longe, lembra um mastro. E nem pensa em vendê-lo. Até porque nunca apareceu nenhum interessado. “Mas todo mundo que vê o Isaías, chega perto”, diz Marcelo. “Nem que seja para decifrar que treco é aquele”, diverte-se.
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