500 km de caiaque pelo litoral: amigos enfrentam o mar entre o Paraná e Ilhabela a remo
Dois amigos e um caiaque entre sol e água, tanto doce quanto salgada. Parece um tema de livro ou filme, não é? E pode até ser, mas seria um daqueles inspirados em uma história real, vivida à flor da pele.
Arthur Aguiar e Matheus Navarro, ambos de 25 anos, se conhecem desde o Ensino Médio, mas foram viver o melhor capítulo dessa amizade há pouco mais de um mês, quando saíram de Matinhos, no Paraná, e foram até Ilhabela, em São Paulo, de caiaque. Pois é, uma expedição de 39 dias, no total, e mais de 500 quilômetros navegados.
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Os dois são de Londrina, cidade no norte do Paraná e longe do litoral. Há dois anos eles treinam caiaque-pólo, uma modalidade parecida com o pólo aquático, mas sobre um pequeno caiaque individual.
Diante do isolamento social, provocado pela pandemia de covid-19, os amigos pensaram nessa travessia no meio do ano passado. “O maior desafio da viagem foi fazer acontecer. Como a gente não é do litoral, essa foi a parte mais difícil. Uma coisa é falar, outra é fazer”, disse Matheus e ainda pontuou que quem falou, subestimou a viagem. “Muita gente, amigos e familiares, foram contra nossa viagem. A gente não podia se abalar”.
Eles treinam na Escola de Canoagem e Remo de Londrina e são amigos do dono da escola, que emprestou o caiaque oceânico aos amigos. Durante pouco mais de um mês, o barco foi praticamente a vida dos dois, que carregavam tudo nele. “Levamos tudo no caiaque: barraca, saco de dormir, fogareiro, alimento, roupas”, disse Arthur.
Com o caiaque e a confiança de partir, não perderam tempo: chegaram em Matinhos no dia 18 de janeiro, mas foram impedidos de prosseguir. “Quando chegamos, uma frente fria chegou junto. Ficamos uma semana esperando ela passar”, conta Arthur. Demorou, mas passou. Enfim puderam zarpar e, no dia 25 de janeiro, a expedição foi oficialmente iniciada.
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Em frente pela corrente
Inicialmente, trilharam um pequeno trecho por mar até Superagui, quando, através de um braço de mar (ou estuário), foram por dentro do continente até a cidade de Iguape, já no litoral sul de São Paulo.
“Era uma mistura de água salgada com doce, no meio de manguezais. Foi bem roots”.
Saindo de dentro do continente, na Barra do Ribeira, perceberam o mar mexido, em pleno lugar mais deserto do litoral de São Paulo. “Antes de chegar em Peruíbe a gente ficou bem receoso, o mar estava estranho e pensamos ‘será que a viagem vai ser inteira assim?’”, revela Matheus.
Quando chegaram em Peruíbe, não puderam seguir viagem pelo mar. “Por conta de um ciclone, no Sul, o mar estava em péssimas condições. Não tinha nem pescador no mar”, disse Arthur. Do mesmo modo, eles não podiam parar. “Tivemos que agir rápido, não dava para ficar tanto tempo parado. Fomos de carro até São Vicente”, explica.
Depois disso, a viagem transcorreu sem tantos problemas. De pouco em pouco, eles iam ganhando terreno, mas sempre acompanhando a costa. Parando de praia em praia, até cansar na remada, eles armavam barraca e passavam a noite.
De vez em quando, eles aproveitavam. “Como a gente estava remando pra caramba, precisávamos de comida. Começamos a comer em alguns restaurantes, nossa vida dependia disso”, explica Matheus.
E assim foi, de Santos ao Guarujá, depois Bertioga, praia de Guaratuba, Barra do Sahy e, enfim, Ilhabela. Êxtase total. “Quando a gente chegou foi uma sensação boa por concluir, mas uma triste porque acabou”, revela Matheus.
Três semanas depois de zarparem, os amigos voltaram a atracar em terra sem o objetivo de sair, pelo menos não tão cedo. Em Ilhabela, fizeram um merecido descanso: duas semanas aproveitando uma das ilhas mais bonitas do Brasil.
Novos objetivos em novos cenários
Com a confiança lá em cima, os amigos já planejam novas expedições. “A gente pensa em fazer uma travessia de Florianópolis à Ilha do Mel, talvez agora para o meio do ano. Também gostaríamos muito de fazer uma Santos-Rio”, confessa Matheus.
Um pouco mais à frente, mas ainda com os pés no chão, a dupla pretende recordar uma rota histórica deixada de legado pelos portugueses e espanhóis, quando colonizaram o Brasil e outros países da América do Sul.
“Queremos sair de Londrina e chegar até o mar pelos rios. Primeiro o Rio Tibagi, depois o Paranapanema, Rio Paraná, pegando território do Paraguai, Argentina e Uruguai, saindo no Rio da Prata. Seriam 2 400 km de remada nos rios até o mar. De Londrina para o Mar”, conta Arthur.
“Nesse caso, seria um preparo muito maior. Geralmente, rios são menos povoados que o litoral e como são outros países pode ter alguma zona de narcotráfico. Seria uma viagem de três meses, no mínimo, não dá para fazer sem um patrocínio, não é?”, detalha e brinca Matheus.
Mesmo sabendo que não eram experientes na canoagem, sobretudo no mar, eles não se subestimam e, o mais importante, não subestimam o todo. “A gente se cuida o máximo, estudando sobre o clima e até noções de sobrevivência. Apenas confiamos em nós mesmos”, finaliza Matheus.
Depois desse primeiro desafio, concluído na medida que diversas adversidades os surpreendiam, ambos confidenciaram a sede pela aventura, mas vigiada de perto pela segurança. Sonhos existem para serem realizados, entretanto, não o serão sem a coragem de se arriscar, correndo riscos calculados, como a dupla de amigos de Londrina.
Por Gustavo Baldassare sob supervisão da jornalista Maristella Pereira
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