Exclusivo: CEO da Azimut Benetti revela nova fase da fábrica brasileira, barcos inéditos e planos de expansão

Marco Valle, CEO global do Grupo Azimut Benetti, está no Brasil para conduzir a transição de liderança da Azimut Yachts, em Itajaí, reforçando o papel estratégico do país dentro do grupo

Por: Otto Aquino -
07/10/2025
Marco Valle, CEO do grupo Azimut Benetti. Foto: Azimut Yachts

O CEO do Grupo Azimut Benetti, o italiano Marco Valle, está no Brasil para conduzir pessoalmente a transição de liderança da fábrica da Azimut Yachts, em Itajaí, Santa Catarina, após a saída de Francesco Caputo, que ocupava o cargo de CEO desde 2021.

Desde 1996 no grupo italiano, Marco Valle há cinco anos é CEO global do Grupo Azimut Benetti, um dos mais importantes construtores de iates de luxo do mundo.

 

Com décadas de experiência no setor náutico, Valle comanda as operações internacionais das marcas Azimut e Benetti e foi o responsável por consolidar a expansão global da Azimut Yachts.

 

Agora, lidera presencialmente a nova fase da fábrica brasileira, em Itajaí — única unidade de produção da Azimut fora da Itália.

 

Em entrevista exclusiva à Revista Náutica, Marco Valle reforçou o papel estratégico da operação brasileira dentro do grupo global e revelou planos de expansão e novos produtos que serão desenvolvidos no país.

Brasil, um pilar estratégico do grupo Azimut

Em entrevista, Marco Valle reforçou que o Brasil representa um ponto central na estratégia global da Azimut, fruto de três décadas de investimentos e parcerias. Segundo ele, o processo de implantação da marca no país foi longo e desafiador, exigindo persistência e dedicação de todos os envolvidos.

Marco Valle. Foto: Azimut Yachts

“O Brasil é uma base estratégica muito importante dentro do grupo. Não é segredo que estamos investindo há cerca de 30 anos aqui. Foi um processo cheio de desafios. Fomos persistentes ao longo dos anos, porque foram muitos os obstáculos, e as pessoas que estavam aqui durante esses 15 anos foram essenciais.”

 

Valle explicou que sua vinda ao país neste momento tem dois objetivos principais: garantir uma transição sólida de liderança e reforçar a integração entre as equipes locais e italianas.

Ética, gestão e confiança

A Azimut do Brasil passa por uma transformação importante em sua direção. O grupo italiano Azimut Benetti anunciou a saída do CEO Francesco Caputo, que estava à frente da Azimut Yachts Brasil desde 2021, comandando a fábrica da marca em Itajaí. Além dele, Gustavo Hoffmann também deixou sua função comercial na companhia.

Houve uma perda de confiança devido a algumas ações que não condiziam com nossa política comercial, e, por isso, decidimos encerrar essa relação profissional com certeza de 100% – explica Marco Valle

“A Azimut segue diretrizes éticas muito claras, que devem ser seguidas por todos. Quando essas regras são quebradas, não podemos compactuar com atitudes que demonstrem falta de comprometimento com suas diretrizes e valores. Na próxima semana, receberemos um representante da Azimut no Brasil, um italiano com muitos anos de experiência na indústria náutica, que será responsável por acompanhar todos os nossos clientes e potenciais vendedores, com total transparência e sem riscos.”

Sucessão e fortalecimento da equipe brasileira

Marco Valle ressaltou que a transição da gestão local da Azimut no Brasil é estratégica e envolve o fortalecimento da equipe e a valorização do talento nacional. Segundo ele, o processo atual busca criar um ambiente de criatividade, inovação e colaboração entre as equipes brasileiras e italianas, garantindo que as operações do dia a dia se mantenham sólidas durante a mudança de liderança.

Fábrica da Azimut. Foto: Azimut Yachts

“Neste momento, estamos trabalhando em um ambiente que incentiva a criatividade e a inovação, com processos colaborativos entre as equipes locais e as italianas. Na área financeira, acompanhamos cada passo juntos, desde a elaboração até a execução dos projetos”, revela Valle.

 

“Temos equipes que mantêm contato constante com os líderes italianos e nossos colaboradores locais. Quando pensamos no futuro CEO, estamos considerando as possibilidades para que ele seja brasileiro. Para nós, é muito importante garantir que as operações do dia a dia não sejam afetadas”, completa.

Andrea Consolini. Foto: Azimut Yachts

Enquanto o novo CEO não é anunciado, Andrea Consolini, atual CFO da Azimut no Brasil, assume um papel de destaque, representando a liderança executiva e garantindo a continuidade dos projetos. “Neste momento, Andrea Consolini é a pessoa responsável e algumas vezes irá representar o CEO. Nossa equipe acredita que o próximo CEO virá do Brasil e terá um papel muito importante, porque nosso objetivo aqui é desenvolver e preparar a equipe local para assumir responsabilidades maiores.”

 

Para conduzir esta nova etapa, a governança será fortalecida com a chegada de Roy Capasso, executivo de consolidada experiência internacional no setor, que assume como diretor comercial, e com o suporte estratégico de Giorgio Gallia, conselheiro de administração do grupo. Proveniente de uma família com tradição na náutica, Roy Capasso é campeão mundial de offshore, alia a paixão pelo mar a uma carreira executiva de alto nível, com vasta experiência em estratégias comerciais e desenvolvimento de mercados globais em marcas como Club Swan Yachts. Já Giorgio Gallia incorpora a expertise em gestão e operações internacionais, desenvolvida em posições seniores no Grupo Iveco, para garantir o alinhamento estratégico e a excelência operacional.

 

Do mercado local à referência global

Marco Valle ressaltou como a Azimut evoluiu no Brasil, destacando a transformação da fábrica em um centro de desenvolvimento estratégico dentro do grupo. Segundo ele, o país passou a ter um papel ativo na criação de embarcações que combinam padrões italianos com adaptações brasileiras, abrindo caminho para a produção de modelos inéditos localmente.

Fábrica da Azimut em Itajaí. Foto: Azimut Yachts

“No passado, todos consideravam o mercado brasileiro apenas como um local para vender modelos antigos de iates. Depois, começamos a produzir embarcações que seguiam padrões italianos; então, qualquer produto tinha algumas adaptações brasileiras, mas era o mesmo modelo feito na Itália. Atualmente, estamos desenvolvendo uma estratégia para lançar modelos totalmente novos no Brasil. Esse é um desafio, porém certamente uma oportunidade para o futuro.”

 

Um dos exemplos é a Azimut Verve 47, originalmente desenvolvido no Brasil para o mercado americano. “A Verve 47 foi desenvolvida aqui para o mercado americano, tendo a produção posteriormente transferida para a Itália. Foram produzidas mais de 200 unidades desse modelo, um enorme sucesso. Pretendemos repetir essa fórmula com outros modelos.”

Novos investimentos e planos de expansão

Marco Valle detalhou os próximos passos da Azimut no Brasil, destacando como o país se tornou um ponto estratégico para o grupo, não apenas como mercado consumidor, mas também como referência em desenvolvimento e exportação. Segundo ele, os investimentos locais visam aumentar a eficiência e explorar novas oportunidades dentro e fora do país.

Fábrica da Azimut em Itajaí. Foto: Azimut Yachts

“Temos o plano aprovado há um ano para melhorar a eficiência e estamos avaliando novas localizações. Também utilizamos a Azimut do Brasil como referência dentro do grupo, especialmente para acabamentos em marcenaria, porque temos aqui os melhores recursos e equipamentos comparados a todas as unidades do grupo.”

 

O executivo reforçou ainda que o Brasil é um ponto estratégico de exportação e desenvolvimento regional. “Quanto aos desenvolvimentos e oportunidades para a Azimut no mercado latino-americano, o Brasil não é apenas um mercado local, mas um ponto estratégico. Quando vendemos para a América Latina – incluindo países da América do Sul, da Colômbia até a Argentina –, tomamos a Azimut do Brasil como exemplo. Assim, os vendedores da Azimut do Brasil também são responsáveis por desenvolver esses outros mercados.”

Produção local e dois novos modelos

Marco Valle destacou o sucesso de iniciativas recentes da Azimut no Brasil, mostrando como a colaboração entre equipes locais e internacionais tem impulsionado o desenvolvimento de novos produtos. Ele citou como exemplo a Azimut 25 Metri, modelo desenvolvido em parceria entre as equipes italiana e brasileira e lançado mundialmente no Marina Itajaí Boat Show, em julho.

Fábrica da Azimut em Itajaí. Foto: Azimut Yachts

“O lançamento da Azimut 25 Metri foi feito em colaboração entre os departamentos técnicos da Itália e do Brasil, com um gerente de projeto local para acompanhar o desenvolvimento. O CTO — diretor técnico — estará aqui nas próximas semanas para validar o produto. A ideia é que esse modelo não será vendido só no Brasil, mas internacionalmente”, explica.

 

“A Azimut 25 Metri foi lançado no Marina Itajaí Boat Show e já foram vendidas seis unidades. É um produto muito procurado, até pela equipe de vendas europeia que deseja comercializá-lo.”. E adiantou:

Nos próximos cinco anos, dois novos produtos serão desenvolvidos no Brasil – revela Marco Valle

 Um mercado maduro e com grande potencial

Marco Valle observa o mercado náutico brasileiro com otimismo. Para ele, o Brasil combina maturidade do consumidor e oportunidades de crescimento, oferecendo um terreno fértil para expansão da indústria, diferentemente de outros mercados mais consolidados.

Fábrica da Azimut. Foto: Azimut Yachts

“Na minha visão, o mercado brasileiro continuará crescendo. Não vejo a mesma desaceleração que ocorreu em outros países nos últimos anos. Comparando o mercado brasileiro com o europeu, o europeu é muito mais consolidado, ou seja, a base de clientes é grande e estável, e o crescimento de novos compradores é relativamente lento”, destaca Valle.

No Brasil, o mercado ainda está em expansão, com um aumento consistente de clientes que desejam iates, mas a produção local ainda pode crescer para atender a essa demanda. Portanto, é uma boa oportunidade para nós

“Eu penso que o mercado náutico no Brasil está muito desenvolvido. Os clientes usam os iates de forma adequada e extensa, mais do que em muitos outros países. Dizer que o mercado brasileiro é emergente não é verdade; é um mercado maduro, onde o cliente sabe exatamente o que quer”, finaliza.

 

Uma relação de longa data com o Brasil

Marco Valle aproveitou a entrevista para compartilhar lembranças e reflexões sobre a trajetória da marca no Brasil, um mercado estratégico para a companhia há décadas. Segundo ele, a relação da empresa com clientes e parceiros brasileiros vai além dos negócios: é marcada por experiências pessoais e profissionais intensas, conquistas e amizades duradouras.

 

“São muitas experiências felizes com os brasileiros. Lembro claramente de 2009, um ano difícil globalmente, mas o mercado brasileiro continuou forte. Na época, visitei muito o Brasil e, em dois anos, vendemos e entregamos 110 unidades. Foi incrível, uma história fantástica. Conheci muitos clientes pessoalmente e tivemos longas noites de trabalho, com jantares até altas horas, algo típico no Brasil”, lembra, descontraído.

 

“Desde então, o mercado não diminuiu. Embora o câmbio tenha variado (naquela época o dólar estava a R$ 2,5 e agora está a R$ 5,35), investimos e expandimos a produção local, que atualmente supera 40 unidades anuais, muitas das quais são exportadas. Desse período, ainda tenho grandes amigos aqui. Isso é um bom sinal porque, depois de tantos anos de parceria, manter amizades é sinal de sucesso.”

 

Com um tom firme e otimista, Marco Valle deixa claro que o futuro da Azimut Yachts Brasil está ligado à valorização da equipe local e à consolidação do país como centro de desenvolvimento de novos produtos dentro do grupo italiano. “Investimos no Brasil porque quanto mais forte for a Azimut aqui, mais forte será a marca em todo o mundo – existe uma conexão direta.”

 

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