Opinião: o que causou o “Ciclone Bomba” no Brasil foi uma série de fenômenos raramente vista. Entenda

Por: Redação -
01/07/2020

Por Cap. Herman Jr*

“O termo em inglês ´Perfect Storm´ (ou ´Tempestade Perfeita´, em português) não significa necessariamente algo bom, pelo contrário, mas algo incrível pelo ponto de vista da combinação de eventos significativos que podem ocorrer ao mesmo tempo e causar grandes desastres.

Apelidado de “Ciclone Bomba”, nesta terça-feira (30), um grande ciclone se formou no oceano de forma bastante atípica, pois além de estar muito próximo à costa, se formou com grande intensidade entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina com ventos registrados de até 97 nós, ou seja, 180 km/h! E deste sistema, uma grande linha frontal de instabilidade se formou, principalmente, nas regiões de Santa Catarina e Sul do Paraná.

Mas vamos aos fatores que se juntaram e como isso aconteceu.

Um ciclone possui baixa pressão atmosférica em seu núcleo. Como o ar se desloca de um lugar de alta pressão para um de baixa pressão, esse vento vai em direção ao núcleo do ciclone. Nesse caminho, ele sofre uma deflexão que é responsável pelo formato circular que o mesmo adquire. Essa deflexão é causada pelo movimento de rotação da terra, um efeito conhecido como força inercial de Coriolis. Ao girar, o ciclone suga o ar para dentro de seu núcleo.

Como estamos falando de um evento de escala sinótica (uma escala grande o suficiente a ponto de podermos visualizar em um mapa), o ciclone desta terça teve, por estar muito próximo à costa, a capacidade de sugar o ar de regiões do interior do país. Como se formou na região Sul, esse escoamento que sai do continente em direção ao núcleo criou uma curva enorme de instabilidade sobre o estado de Santa Catarina.

Não foi só esse deslocamento de ar para o centro do ciclone que causou todo o problema, mas sim uma série de tempestades que se formaram nessa linha de instabilidade

Quando falamos em linha de instabilidade, estamos falando de chuva e tempestades. Essas duas podem se combinar numa explosão conhecida como Microburst ou Downburst. Essas explosões acontecem quando nuvens de desenvolvimento vertical, como as CBs (Cumulonimbus) – que mais parecem um cogumelo no céu – se formam, ficam carregadas e, quando despejam a água, produzem uma grande turbulência que espalha o vento de forma radial.

Ou seja, para todos os lados, em alta velocidade. Esses eventos duram pouco tempo, mas são capazes de produzir rajadas que destelham casas, derrubam árvores e podem até virar um barco.

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Na tarde da última terça (30/06), tivemos esse fenômeno criando, então, esses diversos pontos de tempestade, e podemos dizer, também, que o vento do escoamento para dentro do ciclone contribuiu para muito do que vimos em imagens e vídeos compartilhados nas redes sociais, mas não foi o grande vilão causador do desastre.

Devido à baixa resolução dos modelos numéricos, é difícil prever alguns eventos menores, como essas micro explosões, que possuem um tamanho, em média, de 4 km. Os modelos numéricos geralmente estão com uma resolução acima de 9 km, que nada mais é que o tamanho da área transformada em uma grade de célula tridimensional usada por supercomputadores para realizar os cálculos da previsão.

O entendimento desses fenômenos certamente trará mais segurança e confiança à navegação

A tendência, a partir daí e para quarta e quinta-feira, é que, com a dissipação dessa linha de instabilidade, ainda ocorram rajadas que trarão mais frio do que chuva, e devemos sofrer uma queda de temperatura em toda a região Sul e Sudeste, mas com céu limpo que é uma característica pós frontal. Contudo, o mar deve continuar agitado, por toda essa turbulência gerada no oceano, até a região de Cabo Frio.

Importante salientar que algumas tragédias anunciadas, no que diz respeito a questões meteorológicas, estão sendo cada vez mais observadas e estudadas. Desses estudos e da ciência da previsão, hoje dotada da tecnologia da meteorologia numérica, surgem muitas possibilidades de se evitar certos problemas. Vimos portos operando normalmente, barcos no mar, e tudo isso pode custar vidas e perdas consideráveis. O entendimento desses fenômenos certamente trará mais segurança e confiança à navegação.”

*Cap HERMAN JUNIOR é Especialista NÁUTICA em meteorologia e fundador dos Grupos Mayday e iNavegate.

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