Canoagem é vista como ferramenta de desenvolvimento motor para crianças com Síndrome de Down

Por: Redação -
05/10/2020

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O Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) de Petrolina, Pernambuco, está realizando um estudo para crianças com Síndrome de Down. Foram feitas análises em 16 crianças entre seis e 14 anos. Com pouco tempo de intervenção (8 semanas com 2 aulas de 40 minutos por semana), já foi possível observar ganhos significativos nas habilidades motoras globais dos participantes.
Petrolina é banhada pelo Velho Chico, como é chamado popularmente o Rio São Francisco, que cruza mais 520 municípios em cinco estados. O curso das águas do rio se confunde com a história do povo do Nordeste, e remar em suas águas é uma atividade amplamente explorada para fins de lazer da população local e de turistas, mas agora pode ser também mais uma ferramenta de inclusão.
“Efeitos da canoagem nas habilidades motoras de crianças e adolescentes com Síndrome de Down” é o título de um projeto de dissertação de mestrado do discente Natanel Pereira Barros vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) de Petrolina, Pernambuco.
A prática esportiva voltada para crianças com Síndrome de Down parece ainda enfrentar um desafio semelhante. Na plataforma de hospedagem de produção científica Scientific Electronic Library Online (Scielo), há somente seis artigos relacionados à observação da prática esportiva como facilitadora do desenvolvimento motor. Uma delas tem como o remo como ferramenta.  “Surgiu a ideia então de utilizar esse aspecto cultural da região para promover benefícios para crianças com Síndrome de Down” explica Natanael.
Natanael conheceu o esporte em 2017, quando integrou o Grupo de Estudo e Pesquisa em Atividade Física Adaptada (Gepafa) que oferece a população com deficiência de Petrolina e região a possibilidade de praticarem Paracanoagem, chamado de “Paracanoagem: reabilitação e inclusão de pessoas com deficiência na região do Vale do São Francisco”.
Ao todo, já passaram pelo projeto de extensão mais de 40 pessoas com deficiência motora, como lesão medular, amputação, alterações ortopédicas e paralisia cerebral. Atualmente, o público atendido é de 12 alunos.
“Além de atender a comunidade, o Gepafa também é utilizado como meio de formação profissional envolvendo alunos da graduação e pós-graduação da UNIVASF, o que tem possibilitado a produção acadêmica referente a Paracanoagem, por meio dos trabalhos de conclusão de curso, dissertações, iniciações científicas, artigos, etc” explica o professor e responsável Leonardo Gasques Trevisan Costa, que também foi orientador do artigo que avaliou o impacto da canoagem em crianças com SD.
O esporte como ferramenta para o desenvolvimento motor de crianças com deficiência ou mesmo para reabilitação de indivíduos que possuem algum tipo de deficiência de ordem motora não é um fato novo. Historicamente, após a 2ª Guerra Mundial, houve expressivo aumento na documentação de práticas esportivas voltadas à ex combatentes que adquiriram deficiências (distúrbios mentais, deficiência visual ou auditiva, até perda de membros ou movimentos). Neste contexto, o esporte era entendido mais como uma forma de estímulo à socialização do que o desenvolvimento ou reabilitação neuromotora.
O estudo promoveu as análises em 16 crianças entre seis e 14 anos. Com exceção de uma aluna, esse foi o primeiro contato das crianças com a canoagem. Mesmo com pouco tempo de intervenção (8 semanas com 2 aulas de 40 minutos por semana), já foi possível observar ganhos significativos nas habilidades motoras globais dos participantes. “Sugere-se que isso foi possível devido aos estímulos sensoriais e motores que a canoagem oferece ao seu praticante, principalmente, referente aos desafios de manutenção do controle postural no caiaque” explica Leonardo, que também pontua o que pra ele foi um dos maiores ganhos. “Há resultados que não cabem no estudo, como a felicidade das crianças ao realizarem as aulas e da alegria ao remarem pela primeira vez no Rio São Francisco”.
“A participação dos alunos durante todo projeto foi uma experiência fantástica. A alegria, o entusiasmo e a felicidade das crianças ao conduzir a embarcação nas aulas era muito prazeroso de observar. Os pais relatavam a ansiedade das crianças pelo dia de aula” conta Natanael.
A psicopedagoga Ariane explica o que o ganho motor para crianças com SD significa. “Isso possui papel fundamental na ampliação cognitiva e na aprendizagem dos pequenos. É necessário que as crianças conheçam e possuam habilidades sobre seus corpos, as partes que os compõe e quais são os movimentos possíveis para o corpo humano individualmente, isto fará com que a criança se sinta segura e capaz de processar as informações necessárias para o momento e depois agir. Cada fase de desenvolvimento impõe alguns desafios motores que precisam ser adquiridos corretamente para que a próxima fase não seja prejudicada
O encerramento das atividades com todo o grupo aconteceu em águas abertas, no Rio São Francisco. Para Natanael, além de todos os benefícios motores que o projeto oportunizou, há um ganho incalculável no campo social. “O grupo participou da prática esportiva de Canoagem no vale do Rio São Francisco. Auxiliamos na conquista de mais cidadania para esses participantes”.
A procura por vagas no projeto de extensão continua aumentando. Segundo Leonardo, mais do que eles podem acolher. “Atualmente, atendemos apenas a comunidade com deficiência motora devido à escassez de recursos, tanto humanos quanto materiais, mas estamos trabalhando para que seja possível manter o atendimento para as crianças com SD em um futuro próximo”.
Mais do que aprender a remar, as crianças puderam descobrir o esporte como um todo, conta Leonardo. “Tem crianças que não continuaram apenas a fazer canoagem, mas começaram a praticar Stand Up Paddle, por exemplo”
A psicopedagoga Ariane Oliveira explica que, dentro do processo de desenvolvimento de uma criança, o processo motor abrange muito mais do que se imagina, “ele está diretamente ligado ao desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem. Por exemplo, uma criança com déficit motor pode enfrentar dificuldades de postura, de pega correta no lápis, de lateralidade, entre outros aspectos que impactam também na capacidade de concentração das crianças e, futuramente, na apreensão do conteúdo desenvolvido em sala de aula”.
Ela também ressalta a importância que as crianças com Síndrome de Down recebam o acompanhamento de especialistas como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e educadores físicos. Tudo isso auxilia a desenvolver sua capacidade de forma mais ampla e objetiva. “É necessário para que as crianças com SD possam aumentar a sensibilidade dos dedos, aumentar a percepção visual, erguer e sustentar a cabeça por mais tempo e com autonomia, sentar corretamente, ampliar a noção espacial, e fortalecer a firmeza para condução do lápis em seus projetos de desenho e escrita, por exemplo, além da socialização, imprescindíveis para a vida escolar e expressão de seus pensamentos” explica a psicopedagoga.
A Síndrome de Down (SD) se caracteriza por distribuição numérica inadequada dos cromossomos, mais precisamente, no chamado par 21. A característica mais evidente para o olhar leigo é a deficiência intelectual e as de ordem física, no entanto, há outras particularidades de ordem motora associadas à essa condição genética, que são pouco conhecidas. Tais como: hipotonia, que é a redução do tônus muscular, bem como, a flexibilidade exacerbada, que promovem um déficit no desenvolvimento motor. Para garantir à essas crianças a vivência de brincadeiras como: pega-pega, esconde-esconde, pular corda, amarelinha e jogos de tabuleiro, fundamentais para o desenvolvimento no contexto escolar e pessoal, é preciso um olhar atento de vários profissionais.

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