A tragédia anunciada para o Três Marias se confirmou. Aleixo Belov cortou o mastro de seu veleiro histórico

03/12/2020

Siga nosso TWITTER e veja a série Dicas Náuticas diariamente.

“Obrigado amigos pela solidariedade. Me desculpem, mas não pude esperar mais. Cortei o mastro da Três Marias. Tinha que terminar a obra do museu. O mastro resistiu a todas as tempestades durante as três longas viagens de volta ao mundo sozinho, mas não resistiu à caneta do Iphan”.

Com essa mensagem, o velejador Aleixo Belov deu por encerrada sua aflitiva disputa com a Superintendência na Bahia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que não autorizou a instalação de uma gaiuta (claraboia) no teto do casarão em que ele está instalando o Museu do Mar de Salvador e que terá o Três Marias como atração principal.

Tombado pelo patrimônio histórico, o prédio no centro histórico da capital baiana tem pé-direito de 10 metros, altura insuficiente para abrigar o mastro de 13,20 metros do veleiro a bordo do qual Belov realizou as três primeiras de suas cinco voltas ao mundo.

Sabendo disso, o velejador consultou o Iphan sobre a possibilidade de manter uma abertura no teto do casarão, localizado no Largo Santo Antônio Além do Carmo. “Depois de permitir fazer a claraboia verbalmente, negaram por escrito”, lamentou Belov, que considera o corte do mastro uma mutilação. “Para um velejador, é quase tirar a alma!”.

Ao saber do impasse, NÁUTICA decidiu comprar a briga do velejador ucraniano de nascimento, baiano de coração, de 77 anos, 71 anos deles vividos em Salvador. Nem pensamos. Botamos a boca no mundo. Como pode, o Iphan, cuja missão é proteger e promover os bens culturais do país, sentenciar o Três Marias a perder parte de seu mastro?

Como resultado, Belov recebeu a solidariedade de dezenas de velejadores, que abraçaram a sua causa. Mas, premido pelo tempo — ele precisa terminar as obras do museu para inaugurá-lo no início de 2021 —, o próprio comandante do Três Marias decidiu fazer o corte, absorver o baque e tocar em frente. “Foi com dor no coração. A obra civil do museu está terminando. Esperei por um ano autorização para fazer uma claraboia. Não podia esperar mais”, diz, quase pedindo perdão.

Leia também

» Velejador Aleixo Belov cria museu para preservar viagens pelo mundo

» Vapor Benjamim Guimarães tem parte submersa durante operação de retirada do Rio São Francisco

» Velejador Aleixo Belov é recepcionado por familiares e amigos após completar quinta volta ao mundo

“Como tem mais detalhes em cima e em baixo, cortei 3,5 metros no meio e emendei o primeiro e o terceiro pedaços”, explicou ele, acrescentando que deverá deixar pedaço cortado do mastro exposto no museu, ao lado do veleiro.

“Na semana que vem, vou ter que instalar o mastro com os estais cortados e as cruzetas relocadas no barco, que está dentro de uma escavação de 2,7 metros abaixo do piso, como se estivesse flutuando, com folga para se ver o casco todo”, complementou Belov.

Faltou bom senso por parte dos técnicos do Iphan. A solução deveria ser outra, construtiva e não destrutiva. Em países da Europa não faltam exemplos de como administrar essa situação. O mais eloquente está na cidade de Estocolmo, a memorável capital da Suécia: o Museu Vasa guarda o navio de guerra Vasa que naufragou em sua viagem inaugural em 1628. O detalhe que chama atenção é que os mastros do navio ficam expostos para cima do telhado.

O Três Marias é um veleiro m Bruce Robert de 36 pés. A primeira de suas três viagens de volta ao mundo foi iniciada em 16 de março de 1980, uma época em que não existia o GPS para navegação nem telefone global. A segunda, em 1986. A terceira, no ano 2000. O barco foi construído do zero pelo próprio velejador, no quintal de sua casa, na capital baiana, no fim dos anos 1970. O nome é uma homenagem à suas duas filhas Marias e à ex-mulher, Maria Belov.

Há cinco meses, o barco foi colocado no casarão onde o museu funcionará, no Centro Histórico de Salvador. Foi necessário um guindaste para erguer o veleiro, de 7,5 toneladas, e colocá-lo lá dentro.

No Museu do Mar de Salvador ficarão expostas diversas peças e conhecimento adquiridos durante as suas viagens (cartas náuticas, cronômetros, fotos dos lugares que visitou, búzios de todos os oceanos, objetos diversos e toda a sua biblioteca), além, é claro, do veleiro histórico com seu mastro mutilado.

Gostou desse artigo? Clique aqui para receber o nosso serviço de envio de notícias por WhatsApp e leia mais conteúdos.

Náutica Responde

Faça uma pergunta para a Náutica

    Relacionadas

    Chegou o dia! Começa hoje o Rio Boat Show 2024

    25ª edição do evento náutico mais charmoso da América Latina tem início neste domingo, na Marina da Glória

    Eletrodomésticos de luxo da Elettromec estarão no Rio Boat Show 2024

    Ao todo, sete produtos da marca serão expostos no evento que acontece de 28 de abril a 5 de maio, na Marina da Glória

    Siga Empreendimentos exibe churrasqueiras e acessórios no Rio Boat Show 2024

    Visitantes poderão conferir produtos em aço inox e madeira teca fabricados pela Vitti

    Fabianne Domingos expõe decorações e enxovais para barcos no Rio Boat Show 2024

    Especialista em projetos personalizados para o mercado náutico também decorou oito barcos expostos no salão carioca

    Especialistas do setor de combustíveis comandam palestra no NÁUTICA Talks

    Pâmela Barreto e Jean Leone conduzem papo sobre o diesel Verana e a gasolina Podium na série de palestras que acontecem no Rio Boat Show 2024