Apaixonado por fotos do mar, Clark Little lança seu terceiro livro

Com fotografias mostrando as grandes ondas do Havaí por outras perspectivas, o fotógrafo americano lança novo projeto e fala com exclusividade à Náutica

Por: Redação -
14/12/2022

O renomado fotógrafo Clark Little nasceu na Califórnia, mas ainda criança mudou para a ilha de Oahu, no Hawaí. Nos anos 1980 e 1990, a família Little ficou conhecida pelo irmão mais velho, Brock Little, destemido big rider. Clark logo se tornou surfista referência no shorebreak de Waimea Bay, mas foi em 2007 que ele descobriu sua verdadeira paixão: fotografar as ondas de uma perspectiva rara e perigosa — de dentro delas.

Ele mora e fotografa no North Shore de Oahu, onde ondas muito grandes quebram no raso, o perigoso shorebreak. “Adoro quando as condições do oceano ficam extremas e estou lá capturando imagens que a maioria das pessoas nunca poderia ver tão de perto”.

Apesar dos riscos envolvidos, Clark Little conquistou o mundo com suas fotos incríveis. Ganhou renome para além do mundo do surf, foi tema de documentários, coleciona prêmios, participou de vários programas de televisão e fez exposições em sua Galeria em Haleiwa e por todos os Estados Unidos.

 

 

Ao lançar seu terceiro livro, The Art of Waves, Clark deu uma entrevista exclusiva para Náutica.

 

NÁUTICA: O que é melhor: a adrenalina do surfe ou o risco de ser atingido pela onda?

Clark Little: Ambos são ótimos. Os dois têm um elemento de perigo e risco, então são grandes descargas de adrenalina. Desde que comecei a fotografar, há 15 anos, quase não surfo mais. Eu amo fotografar ondas. Com uma prancha de surf, posso ser atingido por ela, pode ser perigoso. Além disso, quando caio de uma prancha de surf, às vezes caio do topo da onda — é um longo caminho para baixo.

 

Ao fotografar ondas, estou mais perto do fundo, mas posso ser atingido pela câmera que está sempre próxima à minha cabeça. Um golpe da câmera e eu posso morrer. Quando estou fotografando e as ondas são muito grandes e vejo que estou com problemas, às vezes deixo a câmera de lado. Tenho um leash que prende a câmera a meu pulso. Mesmo solta, a câmera está conectada ao meu braço. O leash é longo o suficiente para que a câmera não bata na minha cabeça se meu braço estiver esticado.

 

NÁUTICA: Você já se feriu gravemente ao fotografar?

CL: Fui atingido na cabeça pela câmera algumas vezes e levei alguns pontos. E também aterrissei com força na areia uma vez e desloquei o ombro. Mas nada de ossos quebrados. Algumas vezes cheguei perto de me afogar quando as ondas estavam realmente grandes. Sem fôlego e debaixo d’água por muitas ondas seguidas, estava começando a ver estrelas. Você realmente tem que prestar atenção e estar em boa forma para não se machucar.

 

Pode haver alguma sorte envolvida também. Nestes últimos anos aprendi a não sair mais em ondas grandes e loucas, pois é muito perigoso. Tenho uma família que amo e quero estar aqui para eles. Não quero morrer fazendo isso.

NÁUTICA: Você desenvolveu sua própria técnica para fotografar as ondas por dentro delas?

CL: Quando eu comecei, ninguém fotografava ondas de shorebreak. Fui o único a fazer isso por alguns anos. E tive que aprender. As pessoas fotografavam surfistas e os fotógrafos registravam ondas que quebram no recife, mas não shorebreak. Shorebreak é onde as ondas quebram muito perto da costa, às vezes bem na costa. Geralmente na areia.

 

É único. Adoro o fundo de areia porque me sinto um pouco mais seguro. A cor da água também fica linda ao explodir na areia. Essas ondas são diferentes das que pessoas surfam. Por causa disso, tive que criar minhas próprias técnicas para obter as fotos. As praias em que fotografo não têm recifes para desacelerar as ondas grandes ou enfraquecê-las antes que cheguem à praia.

 

 

Como resultado, ondas muito grandes podem quebrar bem na costa. Na costa norte do Havaí, temos algumas das maiores e mais belas praias do mundo. Quando as ondas quebram assim, não consigo nadar para fotografá-las porque não há água onde elas quebram. Observo da praia e, quando vejo uma boa onda chegando, corro e me jogo na areia seca, às vezes fico sentado, às vezes deitado.

 

Então tenho alguns segundos para esticar o braço e tirar algumas fotos antes que a onda exploda. Depois que ela explode, a água me manda voando de volta para a praia, às vezes mais longe do que meu ponto de partida original. Fico coberto de areia da cabeça aos pés. Chamo esse método de técnica “Run and Gun”. Ainda assim, posso me machucar se não pegar uma onda com um bom tubo.

 

NÁUTICA: Depois de tantos anos fotografando ondas, você ainda se encanta com a beleza delas?

CL: Sempre! Nunca me canso da beleza do oceano e de suas ondas. Cada onda é diferente, cada tempestada que faz ondas é única. Além das ondas, tudo muda com a direção do vento, luz do sol, nuvens, marés, condição da areia, palmeiras ao fundo. Existem muitos elementos que afetam a fotografia, especialmente quando você está fotografando a Mãe Natureza em movimento.

 

E de vez em quando vejo uma foto que me chama a atenção. Fotografo há 15 anos e provavelmente tirei mais de 1 milhão de fotos. Mesmo assim, ainda me emociono quando clico algo especial. Fotografo de 2 a 6 horas por dia, às vezes saio de manhã, na hora do almoço novamente e depois ao pôr do sol. Tenho um flash que uso à noite também. Em um dia, eu posso tirar cerca de 2 mil fotos, mas apenas 1% ou menos vai chamar minha atenção. Quando capturo uma joia, ainda é tão emocionante como quando comecei a fotografar.

 

 

NÁUTICA: Nenhuma onda é igual a outra?

CL: Correto. São como flocos de neve: cada um é diferente. Às vezes, as ondas podem apresentar semelhanças, mas existem tantas condições que nunca são as mesmas. Se parece previsível, pego um flash e fotografo à noite ou vou pela manhã capturar o nascer do sol ou viajo para fora do Havaí a fim de fotografar tubarões e tartarugas. Detesto ficar entediado, por isso sempre adiciono coisas novas que me mantém animado. Se perder o entusiasmo, paro de fotografar. É tudo sobre ter uma paixão que me move.

 

NÁUTICA: Em seu novo livro há fotos aéreas também. Está explorando as ondas de um novo ângulo?

CL: Comecei a tirar fotos aéreas quando um vulcão estava em erupção no Havaí, há alguns anos. Subi em helicópteros para fotografar a lava quente que descia a montanha. Fiquei tão animado vendo o mundo do alto, tudo parecia tão diferente que comecei a fotografar a costa e as ondas do céu também.

 

Gosto de ver as coisas de uma perspectiva diferente. Quando estou fotografando nas ondas, dentro do tubo no shorebreak, estou em uma perspectiva muito próxima, provavelmente um lugar que a maioria das pessoas nunca estará, pois é muito perigoso.

 

As tomadas aéreas também oferecem uma perspectiva diferente. A visão de um pássaro das ondas. Não é tão perigoso fotografar do ar (a menos que o helicóptero caia), mas oferece uma nova maneira de ver o mundo.

NÁUTICA: Qual é a sua foto favorita do livro The Art of Waves?

CL: Eu amo a capa do livro. A foto chama-se Céu Azul e eu nunca pensei que se tornaria capa. Na verdade, eu nem lembrava dela até que minha esposa a viu. Eu estava vendo as imagens que tinha feito em um dia de trabalho e passando por mais de mil fotos rapidamente no meu computador, em casa. Minha esposa estava andando atrás de mim quando essa foto apareceu e chamou sua atenção.

 

Teria me passado despercebida, mas porque ela perguntou, eu olhei com atenção e me surpreendeu a forma como a foto ficou bonita e desajeitada, e com todo aquele azul e branco e algumas palmeiras no canto! No dia em que cliquei Céu Azul, eu estava fotografando tartarugas e peixes do lado de fora dos recifes no North Shore, numa praia diferente da minha localização normal de ondas shorebreak.

 

 

Não há areia no fundo, só coral vivo; é muito raso e a sensação da água é de apenas 2 graus. Eu não planejei fotografar nenhuma onda nesse dia, já que eram muito pequenas. Depois de clicar a vida do oceano, nadei sobre os recifes e tirei algumas fotos das pequenas ondas, antes de ir para casa. Por sorte, o foco na minha câmera estava definido como automático porque eu estava fotografando a vida marinha.

 

Quando clico ondas, normalmente tenho o foco definido para infinito. Com o foco no automático, consegui capturar essa pequena onda de perto, com detalhes nítidos. Na fotografia, há sempre um elemento de acaso. Este é um dos meus clicks de sorte, que eu não esperava, e é tão bom que se tornou a capa do meu novo livro. Uau, sou grato à minha esposa por descobri-lo.

Clark Little – The Art of Waves

Livro de capa dura com 249 páginas e mais de 150 das melhores fotos de Clark Little, retratando incríveis ondas de um jeito que não estamos acostumados a ver, a vida marinha diversificada do Havaí e fotografias aéreas alucinantes.

 

É uma coleção de suas fotos mais amadas, trabalhos que nunca foram publicados em livro, com histórias e insights de Little por toda parte. O jornalista Jamie Brisick contribui com ensaios sobre como Clark consegue a foto, como as ondas são criadas, nadar com tubarões e muito mais.

 

Com prefácio de Kelly Slater, 11 vezes campeão mundial de surf, e um posfácio do autor sobre sua prática e técnica fotográfica, Clark Little: The Art of Waves oferece uma visão rara da onda.

“Faz 15 anos desde que peguei uma câmera e a levei para o oceano para tirar a foto de uma onda para pendurar na parede do meu quarto, a pedido da minha esposa. Este livro captura a aventura e todas as minhas fotos favoritas desde aquele fatídico dia. É muito louco ver aonde as coisas chegaram”, disse Clark.

 

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