Após décadas de abandono, iate conhecido como “a Casa Branca Flutuante” está sendo restaurado
Desde 20 de janeiro de 2021, quando se instalou na Casa Branca, o presidente Joe Biden passou a contar para os seus deslocamentos pelo ar com um Boeing 747 (o Air Force One) e um helicóptero Sikorsky VH-3D Sea King (o Marine One). O estado lhe concede ainda uma limusine Cadillac blindada para trânsito terrestre e uma casa de campo presidencial em Camp David, nas montanhas de Maryland, para temporadas de férias.
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Já para as travessias marítimas, atualmente, o ocupante da Casa Branca não dispõe de um barco exclusivo. Mas durante um longo tempo, mais precisamente entre 1931 e 1977, os líderes do país mais poderoso do mundo podiam usufruir de um belo iate, o USS Sequoia, que entrou para a história como “a Casa Branca Flutuante”.
Projetada em 1921 pelo arquiteto naval John Trumpy, sob encomenda do banqueiro Richard Cadwalader, e construída pelo estaleiro Mathis Yacht Building Company, de Nova Jersey, a embarcação, de 32 metros de comprimento (cerca de 104 pés), com casco de madeira mogno, foi para a água pela primeira vez em 1925.
Pouco depois, foi vendida ao empresário texano William Dunning. Já estava, portanto, com seis anos de vida quando passou para o domínio do governo dos Estados Unidos e foi convertida em iate presidencial, por decisão do 31º ocupante do Salão Oval, Herbert Hoover (no poder entre 1929 e 1932).
Em sequência, oito presidentes americanos tiveram o USS Sequoia à disposição, a saber: Herbert Hoover; Franklin Delano Roosevel, Harry Truman, Dwight Eisenhower, John F. Kennedy, Lyndon Johnson, Richard Nixon e Gerald Ford.
Durante esse período, o iate sediou e foi testemunha de acontecimentos memoráveis. Em 1963, John F. Kennedy comemorou seu 46º e último aniversário a bordo, com sua família, amigos e uma garrafa de Dom Perignon 1955. Herbert Hoover usava o barco para visitar sua mãe na Flórida.
Além disso, Franklin Delano Roosevelt e o general Dwight D Eisenhower teriam planejado a bordo do iate o chamado Dia D (o desembarque das tropas Aliadas nas praias Normandia). Roosevelt, que era cadeirante, instalou um elevador entre os deques, para que pudesse usar o Sequoia como base operacional durante a II Guerra Mundial. Lyndon Johnson, mais tarde, substituiu o elevador por um wet bar. Harry Truman acrescentou um piano ao salão principal.
No poder entre 1969 a 1974, Richard Nixon foi o presidente que mais tempo passou a bordo do iate, geralmente, navegando no rio Potomac, que banha a capital americana, Washington, D.C., e os estados da Virgínia e Maryland. A bordo do Sequoia ele negociou o tratado de armas nucleares SALT I com o secretário-geral soviético Leonid Brezhnev.
Foi a bordo do Sequoia, também, que Nixon anunciou para a sua família a decisão de renunciar ao cargo e, assim, escapar do processo de impeachment; em entrevista a jornais, o capitão do barco disse, na hora, que mandou tocar no piano presidencial a música patriótica “God Bless America”.
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Ou seja, durante 45 anos, o iate fez parte e marcou a história dos Estados Unidos, seja como refúgio presidencial ou como instrumento diplomático. Até que, ao chegar à Casa Branca, em 1977, o presidente Jimmy Carter — mantendo sua promessa de campanha de conter gastos — vendeu o USS Sequoia em leilão por US$ 286.000, pondo fim à era da Casa Branca Flutuante.
Privatizado, o Sequoia manteve o nome original (que lhe foi dado em homenagem a uma árvore, comum na Califórnia), incluindo o USS que o antecede. Durante algum tempo, fez operações de charter em Washington, DC. Já pedindo uma restauração, foi retirado da água em 1984. Mas bastou a remoção de algumas tábuas de sua quilha para problemas graves virem à tona.
Os restauradores encontraram tanta podridão que 50% do fundo do iate teve de ser substituído. Foram necessários US$ 3,5 milhões para o Sequoia voltar a navegar, dois anos depois, a tempo de participar do desfile de embarcações pelo porto de Nova York para a celebração do centenário da Estátua da Liberdade.
Haveria ainda um último grande momento: em 1988, adquirido por uma entidade sem fins lucrativos (a Presidential Yacht Trust), o Sequoia participou do “Celebrate America!”, um tour por 100 cidades de 22 estados americanos. A cada parada o público expressava uma mensagem clara: foi um erro vender o iate presidencial.
Porém, envolvido em ações judiciais, com três empresários requerendo a sua propriedade, mas ninguém se dispondo a pagar a conta da restauração (que, àquela altura, já chegava a US$ 8 milhões), a antiga “Casa Branca Flutuante” acabou atracada em um galpão de telhado de zinco, em um estaleiro de Norfolk, onde permaneceu por 12 anos, envolta em lonas de plástico.
Atualmente, o “monumento móvel”, como alguns devotos chamam o iate de 104 pés, pertence a um fundo de private equity (modalidade de investimento focada em empresas não listadas em bolsa) e se encontra no estaleiro French & Webb, no Maine, onde passa por uma nova restauração, de proa a popa.
Quando ficar pronto, o Sequoia ficará baseado em Washington DC e será usado para ensinar história presidencial, constituindo-se, provavelmente, em uma das principais atrações turísticas da capital americana.
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