O navegador sem noção

Por: Redação -
19/04/2016

O RIPEAM (Regulamento Internacional para Evitar Abalroamentos no Mar) parece não ser levado  muito em consideração em nossas águas. As pessoas são obrigadas a estudá-lo desde a prova de Arrais, mas parece que depois ele cai no esquecimento. Em sua páginas as ilustrações, explicam de forma prática, a maneira como cada embarcação deve se comportar ao cruzar com outra qualquer, e isto para dizer pouco.

Já passei por inúmeras situações de risco devido ao não cumprimento das regras. E olhe que elas são fixadas obrigatoriamente à vista de quem ocupa o posto de pilotagem e, portanto, não tem desculpa. Na Bahia, no Paraná, no Caribe, em Angra dos Reis e em quase todos os locais por onde já naveguei, vi gente trocando as bolas na hora de guinar.

Em Angra, há um código secreto que é baseado no tamanho da marola do barco que você vai cruzar e sua velocidade em relação a ele. Levando estes importantes dados em consideração, o barco “opositor” guina a boreste ou a bombordo, de acordo com sua própria vontade.

Como são emocionantes os finais de tarde nos corredores criados entre as ilhas da baía da Ilha Grande! É  barco de tudo que é lado, cada um fazendo o que bem entende e todos utilizando o máximo que seus motores permitem, pois depois de ficarem parados por horas a fio, bebendo, comendo, conversando, azarando e se divertindo, todos são tomados por uma pressa sem limites e decidem que precisam chegar em terra imediatamente.

À noite a coisa piora! Bólidos irresponsáveis cruzam no breu em alta velocidade. Às vezes sob chuva e em condições de baixa visibilidade, e nestas ocasiões costumam haver os problemas, com colisões, encalhes, abalroamentos e todo tipo de acidente. Além de ser lamentável, devemos lembrar que tais acidentes poderiam (na imensa maioria das vezes) ser evitados.

Concordo que somos obrigados a aprender algumas regras que praticamente não são utilizadas, como linguagem de apitos e outras coisas do gênero, como gongos e badalar de sinos, porém, manobra é segurança e deveria ser levada muito a sério!

Sabemos que barcos muito grandes e igualmente rápidos geram marolas gigantescas, e que seus pilotos não se preocupam com a esteira que causam, mas para tudo tem limite. Isto me faz lembrar de outra regra que foi bagunçada pelos navegadores:

– Veleiros tem prioridade sobre barcos a motor.

Isto é quase um fato, mas apenas quando, de fato, o barco estiver velejando!

Já passei por esta situação muitas e muitas vezes. Um veleiro vem pelo meu bombordo, belo e faceiro e cruza a minha proa como se fosse o dono do oceano. Porém, apesar de ser um veleiro, esta com as velas arriadas, bem atadas à sua retranca e acredita que apenas por ter um mastro, tem preferência na manobra, o que está bem longe da realidade. Caros velejadores, quando seu barco estiver sendo impulsionado pelo seu próprio motor, você é tão barco a motor como qualquer uma daquelas lanchas que você tanto odeia! A bem da verdade, veleiros não fazem quase marola, mas nem por isso tem “licença poética” para interpretar a regra a seu favor. Se acha que pode, tente fazê-lo com um navio em manobra de aproximação pelo canal. Vais tomar um “buzinaço” e ainda vai ser rebocado na marra pela lancha do prático! Se der tempo, é claro.

Já tive vários problemas com barcos de todo tamanho e procedência, já vi barbeiragem de navios, de práticos pilotando navios, de veleiros, de muitas lanchas e eu mesmo já devo ter cometido uma navalhada ou outra, mas evito sempre fazê-lo, ou não teria cabimento estar passando isto para vocês.

Considero que o RIPEAM deveria ser exaustivamente rememorado, para o bem e a segurança de todos que tem no mar o seu lazer, o seu esporte ou mesmo seu meio de vida. Por fim, as autoridades navais e policiais também deveriam dar o exemplo, exigindo de seus comandados o cumprimento das mesmas regras mencionadas acima, afinal estamos em tempos de paz.

Alvaro Otranto é navegador de longas travessias, um dos mais antigos colaboradores da revista Náutica e criador da Moana Livros, primeira livraria na internet especializada em temas de mar e aventura.

Náutica Responde

Faça uma pergunta para a Náutica

    Relacionadas

    Após 7 anos de proibição, ICMBio libera turismo ecológico com barcos na Ilha dos Lobos

    Turistas poderão realizar passeios sem desembarcar ainda no 1º semestre; região abriga lobos e leões-marinhos

    Rio colorido e passeio em geleira: conheça destinos encantadores no Dia Mundial da Água

    Em homenagem à imensidão azul, NÁUTICA preparou lista onde a água doce é destaque

    Eventos náuticos impulsionam o turismo e atraem investimentos

    Especialista no turismo das águas, Bianca Colepicolo explica como cidades podem se preparar para se tornar destinos náuticos

    A bordo de seu novo barco, uma Schaefer V44, Gisele Bündchen e Joaquim Valente curtem Miami

    1ª aparição do casal após a modelo dar à luz ao terceiro filho foi no barco do estaleiro brasileiro, que estará no Rio Boat Show 2025

    Empresa cria boia capaz de transformar as ondas do mar em energia

    Tecnologia da Seaturns passou por testes na França e é forte alternativa limpa para a geração de eletricidade