O peixe-leão e a ameaça que representa: conheça o terror dos biólogos brasileiros
Depois de invadir o Caribe e se tornar um problema seríssimo, o lindo (mas terrível) peixe-leão asiático começou a surgir, também, nas águas cariocas de Arraial do Cabo, para terror dos ambientalistas, que sonham em exterminá-lo. A última aparição aconteceu em janeiro deste ano, em Fernando de Noronha. Por quê? Motivos é o que não faltam.
Aconteceu, pela primeira vez, em maio de 2014, e voltou a se tornar uma possível ameaça de 2019 para cá. Quando mergulhavam nos recifes de Arraial do Cabo, no litoral norte do Rio de Janeiro, um grupo de mergulhadores deu de cara com um lindo —mas aterrorizante — exemplar de peixe-leão (Pterois volitans), nadando tranquilamente nas águas da cidade.
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O que para qualquer leigo em biologia marinha seria uma sorte e tanto (a de ver, solto na natureza, um peixe admiravelmente bonito, que aqui só é visto em alguns aquários), para aqueles esclarecidos mergulhadores soou como a sirene de um alerta vermelho: o invasor havia chegado ao mar brasileiro!
Não se tratava de nenhum cardume. Era apenas um — só um! — peixinho, com cerca de 30 centímetros, que foi imediatamente capturado e levado para ser analisado por especialistas. Mas ele significava muito. Era a quase confirmação daquilo que os biólogos tanto receavam: a possibilidade da chegada do temido peixe-leão à costa brasileira.
O que há de errado nisso? Primeiro, o peixe-leão não pertence ao mar brasileiro e sim aos oceanos do outro lado do mundo. Ele é nativo do Indo-Pacífico, região onde as águas do Índico encontram a do Pacífico, entre a Malásia e a Indonésia. E toda vez que uma espécie é inserida em um habitat diferente do seu, prejudica a biodiversidade. Mas isso nem seria um terrível problema, não fossem algumas características perversas deste peixinho aparentemente fofinho.
Uma delas é que ele é extremamente voraz e devora praticamente tudo o que caiba na sua boca — de crustáceos a peixes bem maiores. Ao caçar, o que faz o tempo todo, o peixe-leão encurrala a presa erguendo seus enormes espinhos dorsais (os mesmos que o tornam tão gracioso aos olhos dos incautos, porque mais parecem bandeirolas presas ao corpo) e, num movimento fulminante, a engole por inteiro.
Ou em bocadas, caso a vítima seja bem maior do que ele, o que acontece com frequência, já que o seu estômago pode se expandir até 30 vezes. Um único peixe-leão é capaz de devorar, em pouco mais de um mês, 80% de todos os organismos de um recife de coral com 10 000 m².
Se forem dois exemplares, comerão tudo em apenas três semanas. Sua simples presença numa área pode comprometer até a indústria da pesca. É como um felino dentro de um galinheiro — daí, não por acaso, o “leão” no seu nome. É um predador e tanto. E o pior de tudo: aqui, ele praticamente não tem predadores. Este é o grande problema.
A rigor, os únicos predadores naturais do peixe-leão em águas brasileiras são os meros, cada vez mais escassos no nosso litoral. Além disso, uma única fêmea de peixe-leão é capaz de gerar dois milhões de ovos por ano, o que explica por que este peixe se tornou uma praga em certos mares do mundo que não têm nada a ver com o seu habitat. Como o Caribe. Ali, para deleite dos mergulhadores mal informados — e pânico dos biólogos e ambientalistas —, o peixe-leão já virou epidemia.
Estima-se que os primeiros exemplares deste peixe asiático de furor desenfreado tenham chegado às águas azuis do Caribe apenas duas ou três décadas atrás, no rastro de algum furacão que tenha destruído aquários na costa leste americana, arrastando-os para o mar. Ou como meros descartes de quem não queria mais tê-los em casa — para o peixe-leão garantir a sua sobrevivência, não é preciso mais do que um ingênuo ato desse tipo.
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Bastam alguns exemplares no mar para a espécie proliferar. Daí a preocupação nada exagerada dos especialistas brasileiros com os dois exemplares já encontrados em Arraial do Cabo. No Caribe, os peixes-leões se alastraram de maneira fulminante.
Começaram dominando as águas de Cuba, Jamaica e do Golfo do México, onde, rapidamente, os pescadores notaram a diminuição na quantidade de pescado — os peixes tinham virado comida para o invasor, que, por ser desconhecido pelas espécies locais, não era percebido como um predador.
Depois, avançaram pelo litoral da Costa Rica, Panamá e Colômbia. Mais recentemente, invadiram toda a costa da Venezuela. E é de lá que, teme-se, possam descer (ou já estejam descendo…) para a costa brasileira. O peixe-leão já é considerado a maior ameaça à vida nos recifes do Atlântico.
Para alguns especialistas, não há mais como erradicá-lo. A menos que façamos com ele o mesmo que ele faz com outros peixes. Ou seja, comê-los.
A alternativa vem sendo amplamente divulgada em campanhas nos países caribenhos afetados pela praga deste peixe de aparência cinematográfica. Nas Bahamas, a sua captura já é largamente incentivada. E na Jamaica, uma agressiva campanha tenta convencer os jamaicanos a experimentarem a novidade na panela.
Recentemente, os EUA patrocinaram a viagem de cinco renomados chefs de cozinha a Porto Rico, a fim de divulgar pratos culinários feitos à base de peixe-leão. Quem já provou, gostou. Sua carne é branca e delicada, apesar de exigir cuidados, tanto na captura quanto no preparo, por causa dos espinhos do seu corpo, que são venenosos. Mas não têm toxinas.
“O que deveriam fazer é parar de vender este bicho vivo”, diz a diretora para a América Latina do Programa Global de Espécies Invasoras, a brasileira Sílvia Ziller. “Se o peixe-leão não estivesse nos aquários das casas, diminuiriam os riscos de ele ir parar, acidentalmente ou não, no mar”, explica.
Exagero? Talvez não. No Caribe, pode ter começado assim. Com um único exemplar solto na natureza, no lugar errado.
Os dois exemplares encontrados em Arraial do Cabo podem ser fruto do mesmo expediente: o simples descarte do bicho no mar. Mas isso ainda está sendo analisado. O grande temor é que eles sejam as primeiras evidências da migração dos peixes-leões para o litoral brasileiro, em busca de alimento.
Eles podem até já estar aqui, porque sabe-se que estes peixinhos são capazes de nadar bem fundo e que sua invasão costuma começar por baixo. Talvez, o fato de só terem sido encontrados dois exemplares em mares brasileiros até agora tenha a ver com esta capacidade de o peixe-leão chegar incógnito, pelas profundezas.
Quando começam a surgir nas partes mais rasas é porque toda a área já está infestada. Por essas e outras, é fácil saber por que ele é, atualmente, o peixe mais temido e odiado dos mares. Apesar da sua extraordinária beleza.
Como um peixinho tão bonito pode ser tão perigoso? A resposta está em todos os mares por onde ele já passou. E tomara que isso também não esteja acontecendo por aqui. Por isso, se ver um gracioso exemplar de peixe-leão nadando no mar brasileiro, faça um favor à natureza: acabe com ele.
A outra bela praga do litoral
Se o peixe-leão ainda não é uma ameaça real ao nosso litoral, outro ser marinho de aparência igualmente extraordinária já é uma dor de cabeça e tanto para os ambientalistas da região de Angra dos Reis: este aqui, o bonito coral-sol.
A razão está no seu próprio apelido: coral-assassino — porque ele se alastra rapidamente e sufoca os corais nativos. Ele é originário do Pacífico e acredita-se que tenha chegado à baía de Ilha Grande grudado às plataformas de petróleo, que ali fazem reparos.
A ilha já está bem infestada, apesar dos esforços dos biólogos da Estação Ecológica de Tamoios em aniquilá-los. Em vão. O coral-sol se espalha infinitamente mais rápido do que eles conseguem arrancá-los. É como enxugar gelo.
Mesmo assim, os ambientalistas preferem que as pessoas não ajudem na captura dos invasores. Por dois motivos: primeiro, porque podem confundi-lo com outros corais nativos. E segundo, porque não basta arrancá-lo e jogá-lo no fundo. Ele continuará vivo. Este coral é fogo. E não apenas no nome.
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