Morre Jaime Alves, da Flexboat, o homem que fez o Brasil navegar em infláveis tão confiáveis quanto ele próprio
Fundador da Flexboat, Jaime Alves fez dos barcos infláveis um símbolo da náutica brasileira. O empresário morreu neste domingo aos 72 anos


Há pessoas que constroem barcos — e há aquelas que constroem rotas, abrindo caminhos. Jaime José Alves Filho, o “senhor Flexboat”, que morreu neste domingo, 16, aos 72 anos, sempre transitou entre essas duas categorias. Visionário, inquieto, apaixonado pelo mar e pelo trabalho, transformou uma frustração pessoal — um golpe na compra de uma lancha — em missão de vida. Assim, ajudou a escrever um capítulo fundamental da história náutica brasileira.
Flexboat comemora 35 anos com 22,5 mil embarcações produzidas
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Em 1988, o então dono de uma empresa de consultoria — formado em administração e análise de sistemas — decidiu fundar um estaleiro ao lado da esposa e parceira de jornada, Eliana Cândido. Já radicado em São Paulo, Jaime foi buscar na Itália e na França as melhores tecnologias e matérias-primas para fabricar os mais avançados barcos infláveis do Brasil. Dois anos depois, em junho de 1990, o sonho virou realidade.




Sem imaginar, Jaime dava início a um legado capaz de inspirar gerações e que transformaria a sua Flexboat em sinônimo de infláveis no Brasil. Atibaia, no interior de São Paulo, longe das ondas, mas perto de tudo, foi escolhida por ele para abrigar seu sonho.
Do zero — literalmente — ergueu uma fábrica, reuniu uma equipe e, sobretudo, cultivou uma cultura. Ali, qualidade não era meta: era obrigação. Era a única forma que ele aceitava de fazer as coisas.




Com teimosia de inventor, espírito de marinheiro e fé inabalável, Jaime deu aos barcos infláveis um novo destino, elevando-os a um novo patamar no Brasil. Transformou o que muitos viam como meros brinquedos ou equipamentos de trabalho, em símbolo de embarcações versáteis, modernas e seguras — tão confiáveis quanto ele próprio.
Foi assim que os infláveis Flexboat se tornaram onipresentes em nossas águas, nas mãos de amantes das águas, de famílias, de bombeiros, da Polícia Ambiental e da Marinha do Brasil.


Em mais de três décadas de Flexboat, foram cerca de 23 mil embarcações entregues. Mas números, para Jaime, nunca foram o ponto de chegada. O que realmente importava era o compromisso com cada pessoa que confiava na marca.
“Jaime foi muito mais do que um grande amigo de jornada: foi um dos pilares que ajudaram a moldar o setor náutico brasileiro como é hoje. Seu legado segue navegando em cada marina, embarcação e história que ele inspirou”, diz Ernani Paciornik, presidente do Grupo Náutica, que acompanhou a trajetória do criador da Flexboat desde o primeiro minuto — movido não apenas pela obrigação profissional, mas, sobretudo, pela admiração pelo amigo.


“O Jaime foi um grande empresário, um dos nomes mais importantes da náutica. Começou lá atrás, inovando, sempre evoluindo e fazendo a empresa e o setor crescer com muita coragem. Além disso, era um grande amigo, querido por todos. Perdemos alguém enorme. Ele deixa um legado enorme e uma saudade ainda maior.”, relembra Marcio Schaefer, da Schaerfer Yachts.
“Eu o chamo de FlexJaime”, diz Marcio Dottori, outro amigo e admirador de carteirinha, do homem e do empresário. “Seu nome e o da Flexboat tornaram-se indissociáveis, quase sinônimos — como Gillette para lâmina de barbear. As pessoas dizem ‘comprei um Flexboat’, e não um inflável. E isso nenhum vento muda”, defende o consultor técnico da Revista Náutica.


Conviver com o Jaime era aprender todos os dias o valor da persistência, da confiança e do amor pelo que se faz– lembra Otto Aquino, diretor de conteúdo da Revista Náutica .
Ele era desses empreendedores que não se contentavam em vender barcos. Também queria que cada um deles carregasse uma história. Por isso, fazia questão de entender o desejo de cada cliente e realizá-lo com o mesmo cuidado com que construía seus barcos”, completou.


Não se trata de meros elogios ou de exageros: é a justa medida de respeito que o empresário conquistou ao longo de uma vida dedicada ao mar.


De cada recomeço, Jaime fez um aprendizado. Quando um incêndio atingiu a fábrica em 2023, consumindo estrutura, materiais e anos de dedicação, ele não desistiu. Pediu ajuda, organizou uma “vaquinha”. Recebeu muito mais do que isso: recebeu afeto.
Amigos, clientes, fornecedores — gente que reconhecia sua integridade e seu trabalho incansável — estenderam a mão e o ajudaram a reerguer tudo. Foi a prova definitiva de que o respeito e o carinho que ele construiu eram indestrutíveis.
“Nosso objetivo sempre foi realizar sonhos”, repetia o empresário. Talvez por isso a empresa tenha crescido tanto, não apenas no Brasil como no mercado internacional. Seus barcos estão presentes em duas dezenas de países.


“Jaime Alves foi um dos grandes pilares da indústria náutica brasileira. Sua visão, integridade e dedicação elevaram o setor a um novo patamar. Seu legado seguirá inspirando todos nós.”, lembra Eduardo Colunna, presidente da Acobar.
Nada disso teria existido sem a força de Eliana, companheira incansável e mãe de seus dois filhos, e de tantos colaboradores que se tornaram família, como o saudoso Chico, motorista que o acompanhou por 30 anos.


A Flexboat nasceu de um casal movido por confiança, suor e carinho. E seguirá seu caminho, crescendo como um organismo vivo, independentemente de quem esteja ao timão.
Cada barco entregue, cada cliente satisfeito, cada história inspirada pelo trabalho de Jaime manterá viva a marca de quem transformou os infláveis em ícones do mar brasileiro.
E, em cada Flexboat que corta as águas do Brasil, há um pouco do sonho de Jaime Alves, o homem que nunca deixou de acreditar no poder do mar.
Os amigos e familiares prestarão uma última homenagem na Capela do Cemitério Parque das Flores, em Atibaia, interior de São Paulo, no dia 17/11, das 8 às 16 horas.
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