Criado pelo mais famoso projetista de veleiros do Brasil, o Pop 25 pode ser feito em casa
Por Daniel Borghetti | Fotos Bruno Castaing
Às vezes, a aquisição do barco ideal é o maior empecilho para fazer do mar um lar. Quando isso acontece, a construção por conta própria pode ser a solução. É nisso que o escritório do ex-cruzeirista Roberto Barros, o Cabinho (autor de inúmeros projetos de barcos a motor e, principalmente a vela, para construção amadora, entre eles o Samoa 29 e o Multichine 28), e família, trabalha, e foi de lá que saiu o Pop 25. O projeto, vendido por AU$ 300 (cerca de R$ 650), é de um pequeno veleiro oceânico com quilhas e lemes duplos, ótima capacidade de água, opção de motor elétrico e tão fácil de construir que mais de 100 pessoas do mundo todo já compraram as plantas.
“O Pop 25 está fazendo uma bonita carreira. Hoje temos mais de 100 veleiros em construção ou já navegando em 16 países. As pessoas com quem tenho falado estão contentes com seus barcos. Tenho orgulho de ter sido o gerente desse projeto em parceria com o talentoso designer Murilo Almeida”, afirma Cabinho, de Perth, na Austrália, onde vive atualmente.
“Algumas soluções do design foram criadas para ele, e sendo inovativas, e não havendo recursos nem tempo disponível para testá-las, o jeito foi confiar na tacada. Por sorte tudo deu certo e hoje começo a ver barcos europeus usando algumas dessas ideias. Hoje estou trabalhando em um novo projeto, um upgrade do Pop 25. O objetivo é criar um barco de cruzeiro praticamente sem pegada ecológica negativa. O Pop 25 já foi pioneiro nesse segmento, mas a evolução foi enorme, o que está em parte requerendo esse upgrade. Até o fim do ano esse novo projeto, que se chamará Waverider 25, deverá ser lançado. Em seguida já existe o plano de um 30 pés com conceitos semelhantes”, completa.
Projeto e início da construção
Quem quiser construir um Pop 25 pode comprar um plano de estudo (veja no site), que inclui plantas e um manual de 235 páginas, com ilustrações, tabelas e informações sobre o espaço necessário, métodos de colagem, sistemas elétrico e hidráulico, lemes e por aí afora, ensinando passo a passo a trabalhar cada detalhe. O projeto todo custa AU$ 300; e o plano de estudo, 10% desse valor — tudo em meio digital/eletrônico. Este barco tem muitas partes planas, que dão rapidez à construção. Após terminar as anteparas e alinhá-las no picadeiro, coloca-se uma camada de compensado e instalam-se nervuras para proporcionar espessura e rigidez. Antes de fechar o casco com outras chapas de compensado, formando um sanduíche, os espaços vazios são preenchidos com isopor, que propicia isolamento térmico, estanqueidade e o torna insubmergível. Após o chapeamento, vêm a laminação com fibra de vidro, o acabamento e a pintura.
Interior
Após virar o casco, começa a montagem do interior, o fechamento do convés, as instalações hidráulica, elétrica, do motor, das gaiutas e das ferragens de convés, a construção e a montagem dos lemes. Nesta etapa, também são montadas as quilhas, que não requerem molde nem fundição — só um bom torneiro para usinar tarugos de aço em forma de torpedos e um soldador para unir as outras partes, formando o conjunto das quilhas, de modo bem mais barato que as quilhas fundidas. A grande vantagem de construir o próprio barco é ter controle do ritmo, gastos e do estilo pessoal que cada dono deseja imprimir, de acordo com as suas possibilidades.
Como ele é
O Pop 25 não parece ter só 25 pés, e reúne mesmo números de barcos maiores: boca de 2,80 m, pé-direito de 1,80 m na entrada da cabine, camas para seis pessoas, plataforma de popa bem razoável, 260 litros de água — mais que o dobro do normal em um 25 pés. Além disso, tem quilhas duplas para navegar em águas rasas e que, na maré baixa ou na marina, viram um apoio para o barco, sem precisar de carreta; possui compartimentos estanques na proa, popa e ao longo das camas; pode usar motor auxiliar elétrico e, principalmente, ser construído a partir de cerca de R$ 80 mil. Tais características o recomendam para travessias mais longas e têm atraído clientes até da Turquia, Argentina, Portugal, EUA, Nova Zelândia, Alemanha, Austrália, República Tcheca, Áustria e Espanha.
No cockpit, com capacidade para seis pessoas, há uma área ampla para o timoneiro, que pode sentar-se na borda de barlavento ou na parte interna, protegida por braçolas, à ré do carrinho do traveller. Não há estai de popa, pois o mastro, com 9,90 m de altura, é fracionado com dois pares de cruzetas anguladas, que eliminam a necessidade desse cabo. Os ovéns são presos no costado, sem prejudicar a circulação no convés, a retranca é alta e os controles das velas e do motor são bem acessíveis para que uma pessoa leve o barco sozinha. Duas catracas nº 16 para as escotas da buja e reacher dão conta do recado e a amarração é feita por cinco cunhos, sendo dois na popa e três na proa, mas, no barco testado, o Solaris XVI, dois eram de náilon, que não é tão resistente quanto o alumínio e, muito menos, o aço inox. Como não estamos falando de um veleiro construído em série, a montagem e a escolha de materiais ficam a critério do construtor; então, um barco nunca é igual a outro.
No Solaris, o dono colocou uma targa maior que a do projeto, para apoiar quatro painéis solares, que também servem de capota no posto de comando. Na cabine, naturalmente clara e ventilada, tudo é bem dimensionado e há bons nichos para guardar objetos. Esse veleiro estava equipado com dois bancos formados por quatro baterias de 12 V de excelente qualidade ligadas em série, totalizando 48 V e 150 Ah. A recarga é feita pelas placas solares, pelo carregador de cais e pela própria motorização, que, quando o barco veleja acima de certa velocidade, funciona como gerador, por meio do hélice e do motor, enviando energia para as baterias. Para as necessidades de 12 V (iluminação, rádio e bomba de porão), um conversor transforma 48 V em 12 V, sem precisar de mais uma bateria para isso.
Como veleja
Considerando que a vocação do Pop 25 é a navegação oceânica de cruzeiro, seu desempenho foi muito bom mesmo com os ventos entre 4 e 8 nós do dia do teste, fracos demais para medir seu ângulo máximo de orça, estimado em 33 graus em condições ideais. Velejamos então entre 40 e 50 graus. Começamos só com a mestra, que, por não haver estai de popa, tem valuma com grande aluamento e boa área. O barco mostrou-se muito estável e o leme, preciso e rápido, mesmo quando usamos a buja, em orça apertada.
Com velocidade de 2,4 nós, o Pop não adernou mais de 3 graus e reagiu prontamente ao leme, que em momento algum ficou pesado. Em orça folgada e com a vela reacher bem caçada, velejou a 3,6 nós, com inclinação de 2 graus. No través e com a reacher mais folgada, deslizou a 3,2 nós, mantendo o rumo sem precisar tocar o leme, uma prova de equilíbrio. Com vento pela alheta e o barco “sentado” na água, a 2,2 nós, a sensação era de estar parado. No posto de comando, tem-se visão total do barco e, embora seja necessário rizar a mestra no pé do mastro, onde ficam os cabos de rizes e adriças, foi fácil subir e descer a vela.
Apesar de não termos levado o barco ao limite, devido ao pouco vento, ele mostrou-se capaz de registrar bons números com ventos fortes. Quanto ao uso do motor auxiliar elétrico, de 5,5 kW, que corresponde a 7,4 hp e funciona a 48 V no modo performance e 24 V no econômico, não houve barulho até cerca de 1 200 rpm, navegando a 3 nós. Acima disso, ouvimos um certo ruído, causado talvez pelo hélice, que ainda estava sendo ajustado. A velocidade máxima foi de 5,1 nós, com autonomia estimada de mais de uma hora, a uma média de 1 400 rpm e aproximadamente 4 nós.
O projeto é bem detalhado e foi todo pensado para tornar a execução fácil e rápida. Já são mais de 100 unidades em construção ou navegando
Por dentro do Pop 25
Apesar de ter só 25 pés, o casco é seguro para navegar mar afora — obteve classificação B pelo índice de estabilidade STIX, adotado na Europa — e oferece sala-cozinha versátil e três camas de casal
Camarote de proa
A cama, em V, mede 1,90 m por 1,50 m na largura máxima na cabeceira. Sob ela, há compartimentos estanques e dois paióis onde o dono do Solaris instalou as baterias, para compensar o peso da targa, maior e mais pesada que a do projeto, na popa. Uma vigia fornece ventilação natural a este ambiente.
Cozinha e salas
A cozinha, que admite um fogão de uma boca e uma pia redonda, tem bons armários e prateleiras. Ela fica ao lado de um dos sofás, que recebem até quatro pessoas e têm paióis atrás dos encostos e sob os assentos. Outro aspecto que agrada é que a cabine não é atravessada pelo pé do mastro, porque ele é apoiado na superestrutura.
Estilo
As linhas são as dos modernos veleiros inspirados nos modelos de competição, com casco leve e resistente, em formato de delta, costado reto, fundo plano e gurupés que suporta o lançador de âncora e uma vela reacher, que é como uma gennaker achatada, usada com enrolador sob ventos de través e alheta — o projeto do barco está sendo atualizado para levar também uma gennaker de verdade.
Banheiro na proa
O banheiro, com 1,57 m de altura, fechado por cortina, vai de lado a lado no corredor entre a cozinha e o camarote de proa. A área para banho — com um chuveiro tipo sunshower, que usa o calor do sol para esquentar a água, ou com uma duchinha acoplada na pia — fica sob a gaiuta. Essa localização permitiu que os projetistas colocassem duas camas de casal na popa.
Camas na popa
Há duas camas de casal, com 1,90 m por 1,08 m, sob as laterais do cockpit — por isso, o banheiro fica na proa. “É uma opção de projeto. Poderíamos pôr o banheiro e a cozinha na popa, mas ficaríamos com só uma cama, e atravessada. Num barco oceânico, as camas nas laterais dão mais conforto quando se navega adernado”, explica o projetista Cabinho. Os dois tanques de água do barco, de 130 litros cada e interligados, ficam sob essas camas e têm bocais de abastecimento externo. Além dos tanques, há dois paióis e um compartimento estanque em cada bordo, atrás dos beliches.
Mesa de navegação
A mesa de navegação, junto ao sofá a bombordo e com um conveniente armarinho debaixo dela, tem um porta-objetos onde cabem as cartas náuticas dobradas e alguns apetrechos. As pernas cabem sem dificuldades sob a mesa.
Cabine alta
Excepcionalmente grande para o tamanho do veleiro, com muitas janelas e luz natural, a cabine tem 1,80 m de altura na entrada. É ótimo poder ficar em pé mesmo com a gaiuta fechada dentro de um barco desse porte!
Motor
O motor, sob a escada da cabine, pode ser elétrico ou a diesel com eixo direto ou rabeta; ou, ainda, ser de popa (instalado na plataforma).
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