Conheça a história dos associados do Veleiros do Sul que realizaram o sonho de morar em veleiro

Por: Redação -
27/07/2021

O sonho de viver a bordo se tornou realidade para o casal Ana Mähler e Vitor Pereira. No dia 5 de abril deste ano, os associados do Veleiros do Sul, clube de Porto Alegre (RS), deram início a uma nova jornada com a pretensão de rodar o mundo.

A bordo do veleiro Papillon, um Jeanneau, Ana e Vitor, na companhia das shih-tzu Linda e Star, saíram do VDS, inicialmente, rumo ao Recife, passando por Rio Grande, Florianópolis, Porto Belo, Itajaí, São Francisco, e subindo a costa brasileira.

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No início, o planejamento era “depois de Recife, cruzar para Portugal devido à nossa vontade de ficar pelo Mediterrâneo”, afirmou Vitor. Por causa da pandemia e das dificuldades de transitar entre os países. porém, o casal ficou de avaliar a situação. “Outra opção, melhor em questão de rota, é ir para o Caribe, e de lá subir de Saint Martin a Portugal”, completou com relação ao percurso.

O casal, que planejava os detalhes da partida rumo à vida a bordo há um ano, hoje, vivem a mais esperada aventura de suas vidas. O sonho de morar a bordo se tornou realidade!

De Porto Alegre a Rio Grande, Florianópolis e Itajaí, foram muitas as experiências e os desafios vividos pelo casal nestes primeiros meses de mudança. Confira o relato de Ana e Vitor, e viva um pouco do início desta jornada de volta ao mundo com eles:

Zarpamos no dia 8 de abril do Veleiros do Sul rumo a Rio Grande, com muitas expectativas sobre como seria o resto de nossas vidas. Ainda na véspera da partida, um amigo disparou: “Olha, a Ana tem certeza do que irá enfrentar?! Acho que espero vocês lá em Floripa, com uma petição de divórcio”… Já que a passagem do temido e repleto de folclore litoral gaúcho para esposa e dois dogs seria um grande desafio.

Ledo engano, descemos a Lagoa com vento NE médio de 23 nós, só no pano e com o barco muito bem equilibrado. Fomos recebidos com uma gentil fiscalização da Marinha do Brasil para documentos, salvatagem e informações sobre nosso roteiro. Atracamos no Museu Oceanográfico, uma vez que o trapiche de fora do RGYC estava lotado, com outros veleiros aguardando a frente S que nos levaria a SC.

Então, no dia 12 de abril, perto das 7 horas da manhã, partimos rumo ao nosso próximo destino. A descida até os Molhes de Rio Grande leva umas 2 horas e são horas de expectativa, então perguntas como “como será que está a ondulação? O vento será o mesmo da previsão?” e tantas outras sobre o barco e o tempo do percurso são comuns.

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Saímos da Barra com razoável ondulação, já que com Frente S era de se esperar. Seguimos tranquilos, organizados e preparados para o trecho. Aproximadamente 26 horas após o zarpe, nosso motor desligou no través de Tramandaí. Sem sinal de telefone, internet, sem vento e com ondas de 2,5 metros, ficamos um tempo à deriva. Subimos as velas mesmo sem vento e conferimos o equipamento na busca de uma solução.

Nesse momento, toda a tripulação se manteve serena, equilibrada e com movimentação proativa. A união de todos, cada um a seu modo, foi mágica e trouxe toda energia positiva que era necessária para aquele instante.

Conseguimos religar o motor em baixa rotação, o que nos ajudou a equilibrar o barco, manter um deslocamento e aguardar o vento, que algumas horas depois encheu as nossas velas e nos levou até Laguna com segurança.

Conseguimos manter média de 4 nós a 1 300 rpm e decidimos entrar pela Barra Sul de Florianópolis rumo ao Veleiros da Ilha, onde teríamos mais condições de fazer o reparo necessário. A entrada da Barra foi mais um desafio, pois só com o motor e em baixa rotação tivemos que vencer algumas ondas grandes que se formam ali naquelas condições com um grande swell.

A chegada foi fantástica, emoções à flor da pele, uma gratidão imensa e o sentido de missão cumprida. O veleiro nos leva a lugares distantes, une pessoas, nos entrega grandes emoções e aprendizados para a vida. Um traslado desses nos modifica de dentro para fora e sem dúvida nenhuma nos faz pessoas melhores.

Nos despedir dos nossos dois tripulantes e amigos Carlos Sombra e Marcus Silva foi difícil, pois formamos uma família que não se deseja separar, porém faz parte da vida e, então, depois de reparado o problema (Entupimento do Pescador do Tanque de Diesel) demos adeus também ao ICSC, que nos recebeu muito bem e seguimos em frente, dando a volta na Ilha rumo Jurerê, Tinguá, Magalhães, Porto Belo e, finalmente, Marina Itajaí, onde aproveitamos para fazer ajustes, descansar um pouco nessa vida de marina, que não é nada mal.

Estamos todos bem, felizes, convictos de nossas decisões e com olhos no futuro para novos lugares a serem explorados, vividos e sentidos como a vida tem que ser.

Deixamos Itajaí por bombordo… O que dizer de uma cidade que se modernizou para receber a Volvo Ocean Race? Foi difícil deixá-la para trás. Um belo calçadão, bons restaurantes, uma marina excelente, fora as amizades que ali fizemos.

Tínhamos uma previsão de parada para ajustes em nosso veleiro, afinal tudo que fizemos e instalamos precisava ser testado e, certamente, ajustes seriam necessários, porém, Itajaí foi algo a mais que uma simples parada técnica, pois a marina é um condomínio com várias famílias morando a bordo.

A vida de marina tem lá seus encantos, ainda mais em uma cidade charmosa e com tantos recursos, porém a vida que escolhemos é para seguir adiante e, então, foi o que fizemos em 12 de junho.

Saímos bem cedinho e fizemos um traslado tranquilo para São Francisco do Sul, cidade histórica com sua primeira presença em 1504 por uma frota Francesa que ali esteve.

Ficamos em uma poita no centro da cidade, visual incrível, quase como uma paisagem européia, pois o conjunto é tombado pelo IPHAN e está em bom estado.

São Francisco tem muito charme e muita história, além de uma modernidade jovem que desponta por alguns restaurantes e cafés em estilo contemporâneo. Em época de pandemia, tivemos a decepção de não poder visitar o Museu do Mar e todo aquele acervo incrível de barcos que por lá está atrás dos frios portões.

Após explorarmos os cantos e recantos de SFS, decidimos entrar mais pela Baía de Babitonga e atracamos em Joinville, fantásticas instalações onde fomos recebidos com muito carinho e atenção. Encontrar um clube ou uma boa marina durante um percurso longo é sempre reconfortante, pois são lugares que podemos repor água potável, combustível, fazer supermercado, etc…

Pouca gente sabe que Joinville é próximo ao mar, deve se cuidar a tábua de marés, que tem um enorme potencial para barcos de esporte e lazer, além de ter um Iate Clube alinhado com suas demandas. Sem dúvida, um belo lugar a ser visitado por nós velejadores do sul do país.

Após recuperarmos as energias, foi chegada a hora de zarpar mais uma vez, e estamos descobrindo que essa acaba sendo a parte chata da viagem. Deixar amigos que fizemos em cada porto não é tarefa simples e ainda estamos aprendendo a lidar com esse sentimento.

Novo zarpe, dessa vez com destino à Baía de Paranaguá… Confesso que iria passar reto por aqui, mas um amigo que gosto muito insistiu que deveríamos fazer essa parada, então, ajustamos o rumo e adentramos o Canal da Galheta em meio a grandes navios, com direito a correnteza forte e uma beleza rara de se ver.

Atracamos no Iate Clube de Paranaguá (ICP), um lugar bem diferente do que estamos acostumados pois aqui, a maré já chega a 2 metros e a correnteza a 3 nós. Deve-se ter alguns truques para colocar os barcos nas vagas, que por si só também são diferentes de tudo que vimos até agora.

Ah, Paranaguá! O VDS tem um belo convênio com o ICP, que nos dá 15 dias de cortesia com água e energia. Nossa pretensão era de fazer um pit stop de dois ou três dias para depois seguir para Santos, em São Paulo, mas… O que era para ser dois dias já está em 23 e contando…

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