Histórias do mar: o audacioso veleiro de regata inglês que nunca largou e foi abandonado no mar

Por: Redação -
30/03/2020

Por Jorge de Souza, do site www.historiasdomar.com

O mais audacioso veleiro de regata que os ingleses já construíram não chegou nem a largar e teve que ser abandonado no meio do mar

No final dos anos de 1990, os ingleses decidiram construir um grande veleiro-catamarã, o mais revolucionário da história. Entre outras ousadias, ele tinha dois mastros, um em cada casco, o que jamais havia sido tentado. O objetivo do barco era competir na The Race, uma regata de volta ao mundo, que partiria de Barcelona, em janeiro de 2001.

O projeto consumiu cerca de quatro milhões de libras (boa parte delas vinda de doações de simples entusiastas da vela) e a missão de torná-lo realidade foi entregue ao velejador inglês Pete Goss, que o transformou em um espetáculo de mídia — a construção pode ser acompanhada pelo público, dia a dia, desde o início. Para Goss e todos os ingleses, o Team Philips, como o barco foi batizado, era mais do que um simples veleiro de competição. Era o próprio orgulho marítimo inglês que estava em jogo.

O Team Philips ambicionava se tornar o veleiro mais rápido do mundo. Seu projeto fora, de certa forma, inspirado nas naves espaciais da série Jornada nas Estrelas. Ele tinha velas separadas para cada casco, 120 pés de comprimento e era mais largo do que uma quadra de tênis. Ficou pronto em janeiro de 2000 e foi batizado pela própria Rainha da Inglaterra. Em seguida, foi para a água, para os primeiros testes práticos. Foi quando começaram os problemas. Muitos problemas…

Logo no primeiro teste, navegando com ventos de não mais que 24 nós (bem pouco para um barco daquele porte), o Team Philips inexplicavelmente perdeu toda a proa de um dos cascos, que simplesmente partiu durante a navegação. Ele teve que voltar rebocado, sob o risco de afundar ali mesmo. Refeito o casco, oito meses mais tarde, ele voltou à água. E, de novo, decepcionou. Desta vez, quebrou a base de um dos mastros. Nada parecia dar muito certo no audacioso projeto de Goss, para frustração dos ingleses, que haviam transformado aquele barco num quase símbolo naval britânico.

Com tantos imprevistos, que atrasaram sobremaneira os cronogramas, os testes finais do barco tiveram que ser feitos já durante a travessia para a largada da competição, na Espanha. E foi quando o pior aconteceu. Em 2 de dezembro de 2000, perante uma multidão de torcedores, o Team Philips deixou a Inglaterra rumo a Barcelona, para a largada da The Race. Mas sequer chegou lá. Vítima de uma dessas infelizes coincidências, o barco foi colhido por uma brutal tempestade no trajeto e começou a desintegrar-se em pleno oceano.

Na noite de 9 de dezembro, a tempestade pegou o Team Philips em cheio (de nada adiantou Goss ter penetrado bastante no Atlântico a fim de evitá-la), com ventos de até 70 nós. Logo, parte da pequena cabine central saiu voando e o resto ameaçava ir junto. Goss, então, baixou todas as velas e lançou ao mar uma âncora de tempestade, feita para tentar frear o avanço do barco. Mas não adiantou muito. As 23h55, temendo pela vida dos tripulantes, ele decidiu emitir um sinal de socorro a um navio que estava por perto. O resgate chegou rápido. Só que, para isso, foi preciso abandonar o super-veleiro no oceano. Não havia outro jeito, pois era impossível rebocá-lo. Nem o barco aguentaria muito tempo se fosse puxado por outro barco.

Nunca mais o Team Philips foi visto. Vazio, ele vagou à deriva ninguém sabe por quanto tempo, até que, seis meses depois, dois pedaços destruídos do seu casco foram dar em duas praias distintas, uma da Irlanda e outra da Islândia, esta a 1 500 quilômetros de distância. Os dois fragmentos traziam trechos das mensagens que haviam sido pintadas no casco (“Vamos fazer as coisas melhores”, dizia, ironicamente, uma delas), além de assinaturas de ingleses que fizeram doações para a construção do barco.

O Team Philips ficou marcado pelo completo fiasco. E decretou o fim do sonho inglês de construir um barco revolucionário. Mas o vexame deixou uma lição: a de que, no mar, não existe tempo para a pressa.

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