Ilhabela se confirma como o mais novo ponto de agregação da maior espécie de raia do mundo

Por: Redação -
17/09/2021
Foto: Sergio França

Depois de quatro anos de trabalho estudando registros da ocorrência da espécie Mobula birostris na região da Ilha de São Sebastião, município de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, este ano, na temporada 2021, graças a esforços multiplicados pela entrada em operação de uma embarcação preparada e dedicada à pesquisa marinha, foi confirmada a mais nova agregação da espécie no mundo.

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A Raia Manta Gigante, também conhecida como “Raia Manta Oceânica” (M. birostris), é conhecida na costa sudeste do Brasil há mais de 40 anos. Em 2009, uma publicação científica internacional focada exclusivamente nos registros do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos confirmou a ocorrência sasonal (temporada de inverno de abril a setembro) desta espécie naquela localidade.

Desde 2013, os registros naquele ponto pararam de ocorrer. Em 2014 e 2015, registros importantes foram feitos na Ilha da Queimada Grande e no Parcel D. Pedro II, no litoral sul de São Paulo. Apenas em 2019 um registro foi feito novamente na Laje de Santos, em agosto.

Foto: Sergio França

Com essas mudanças de comportamento de ocorrência, o projeto Megafauna Marinha do Brasil, membro da rede mundial Manta Trust (mantatrust.org), que coordena projetos ao redor do mundo, focados no estudo e preservação de todas as espécies de Mobulas (Raias Diabo e Raias Manta) iniciou, em 2018, um estudo de dados históricos com parcerias locais na região de Ilhabela.

Após muitas análises de imagens e busca de conhecimento local, tudo apontou para uma possível zona de agregação, também regular, na mesma época da já conhecida temporada de avistamentos no litoral paulista, com possível pico de registros no mês de julho.

Diante disso, após coletar dados de moradores e pescadores da região, especialmente da comunidade da Praia do Bonete, profissionais de barcos de turismo e pesca esportiva, em 2020, o projeto iniciou suas saídas de campo, para a busca de encontros e avistamentos. Em 2021, com a nova embarcação, a RV Megafauna (Lancha rápida, tipo Utility Boat, de 41 pés de comprimento) na mesma época, mês de julho, é claro, tudo passou a fazer sentido.

O esforço coordenado e estudado, na região escolhida como a mais provável para os registros, deu certo! Muito certo!

Foto: Ricardo Feres

A Raia Manta Gigante ou Oceânica

Trata-se da maior espécie de raia (ou arraia, ambos estão corretos) do mundo! Podem chegar a medir mais de 8 metros de envergadura (ponta a ponta das nadadeiras peitorais) e pesar mais de 2,3 toneladas.

Estão ameaçadas de extinção, tendo seu nível de risco aumentado em novo estudo da IUCN, publicado em novembro de 2018, passando da categoria VU – Vulnerável aos Risco de Extinção para EN – Ameaçada de Extinção. Isso ocorre por três motivos principais: (a) sua taxa de fecundidade é muito baixa, com gravidez que dura um ano, dando à luz apenas um filhote e muitas vezes observam resguardo para copular novamente, de até 3 ou 4 anos; (b) pesca incidental, aquela que não é proposital, mas mata mesmo assim, especialmente redes de espera e longos espinhéis oceânicos; (c) a pesca focada na espécie para fornecer subprodutos do animal para a medicina tradicional chinesa (sem nenhuma comprovação científica acerca de resultados médicos).

A notícia boa é que no Brasil, desde 2013, a pesca da Manta Oceânica e suas “primas”, as outras espécies de Mobulas, menores, está proibida, havendo apenas o risco das mortes acidentais em redes costeiras.

Foto: Waldemar Oliveira

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As Mantas de Ilhabela

Com registros esparsos de 2018 e 2019, o projeto Megafauna Marinha do Brasil criou, em 2020, seu braço operacional-científico regional, o Mantas de Ilhabela. Com uma campanha de mar de 13 dias, embarcados quase que initerruptamente e com o apoio essencial da equipe do projeto Baleia a Vista, coordenado por Julio Cardoso, do Yacht Club de Ilhabela, os primeiros registros mais efetivos vieram, já em junho e julho de 2020.

Diante da necessidade de esforços mais intensos e cada vez com registros em maior número e, ainda, a possibilidade de obter registros para fotoidentificação dos animais (fotos ventrais da raia feitos dentro da água, geralmente por baixo do animal), a coordenação do projeto, através de seu fundador, Guilherme Kodja (coavaliador da espécie em 2011 e colaborador em 2018 na IUCN) passou a buscar apoios e parcerias para a execução da temporada 2021.

O esforço deu certo e uma base operacional foi montada, uma equipe nova treinada localmente, operadores de turismo qualificados e uma rede de informações entre projetos criada e estimulada.

Foto: Waldemar Oliveira

Assim a embarcação RV Megafauna, baseada na própria Ilhabela, com apoio importantíssimo da marina Porto Ilhabela chegou na região, por doação de apoiadores do Rio de Janeiro e, após pequenas adaptações, entrou em operação no dia 3 de junho.

Tendo navegado nada menos que 1 385 milhas náuticas, o equivalente a 2 565 Km, desde 3 de junho até dia 6 de setembro, performando incríveis 177,2 horas de mar, fechou a temporada com 19 encontros com Mantas Gigantes, sendo 12 da própria equipe embarcada e mais 7 de colaboradores e parceiros; e nada menos que 7 registros completos de fotoidentificação, que estão sendo preparados para envio, nas próximas semanas, para a base mundial da rede Manta Trust.

No litoral brasileiro, desde 2007, não são obtidos tantos registros de identificação em uma única temporada, em especial numa única zona de agregação.

Assim, nas temporadas de 2020 e 2021 somamos impressionantes 23 registros com imagens e mais alguns outros, de parceiros, inclusive com saltos confirmados da espécie, alguns com confirmação por fotos, que servem como indicadores da ocorrência e guia para os esforços de campo das próximas temporadas.

Dessa forma, a Ilha de Gigantes, como o projeto Mantas de Ilhabela gosta de denominar a Ilha de São Sebastião, segue com sua temporada cada vez mais intensa de baleias-jubartes e agora, comprovada em campo e com metodologia científica, também da maior espécie de raia do mundo, a Raia Manta Oceânica.

O projeto Mantas de Ilhabela busca apoios e patrocínios, não conta com nenhum suporte financeiro regular e, desde já, agradece a todos os apoiadores pontuais que conheceram o trabalho nos últimos anos, acreditaram no potencial da equipe e na importância da pesquisa e, assim, com suas colaborações, fizeram possível que esse incrível evento de significância internacional pudesse ocorrer.

A respectiva nota científica internacional já está sendo elaborada com apoio da equipe Manta Trust mundial e será de enorme valia para a região, que está inserida na Bacia de Santos, área de enorme movimento no porto de São Sebastião e de exploração de óleo e gás.

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