“Nascemos de novo!”, diz dona da lancha abalroada por offshore no Guarujá
A empresária Osmarina Salomão Benvenuti, de 52 anos, mora em Santos, e é, naturalmente, apaixonada pelo mar. Recentemente, comprou uma lancha cabinada da marca Vega, de 35 pés — usada, porém maior e mais confortável que a anterior, uma 26 pés. Batizou-a Dika Brothers, em homenagem aos filhos, Diego e Karen, juntando as sílabas iniciais dos nomes deles. Na companhia dos dois e também do marido, Oswaldo, Osmarina gosta de navegar pelo litoral sul de São Paulo. Na Terça-Feira de Carnaval, dia 28, o programa seria especial. Porque, junto da família, estavam um casal de amigos e seus filhos. Um deles precisa locomover-se com o auxílio de muletas, pois irá se submeter a uma cirurgia óssea. “A gente queria muito levá-lo para passear, porque, por não poder andar, ele fica muito em casa”, conta ela. Por volta das 10 h, estavam todos na Porto Marina Astúrias, onde fica a lancha da família. A ideia era dar umas voltas na região e fundear nas Praias da Enseada e do Sangava, no Guarujá, fazer um churrasco por ali e retornar no fim do dia. Assim foi feito.
No fim da tarde, Wilson Carlos, administrador do barco da família, comandava o Dika Brothers rumo à marina, numa velocidade de cerca de 10 nós, tranquila ao ponto de Osmarina, acomodada na proa — o que, por questão de segurança, não é recomendável durante a navegação —, conseguir gravar com o celular o sol se pondo a bombordo do barco. “Eu estava encantada com o pôr-do-sol e agradecia pelo dia que tivemos no mar”, rememora ela. Tão encantada estava Osmarina, que nem sequer notou quando uma offshore invadiu o quadro da câmera e veio ao encontro do barco onde ela, seus familiares e amigos se encontravam. Só percebeu que havia algo errado quando sentiu uma pancada no casco. “Foi uma coisa tão assustadora… Só sei que fui jogada para o lado e fiquei com um hematoma enorme na coxa”, conta ela.
Poderia ter sido pior. Segundo Osmarina, ao perceber que a Again, a offshore em questão (uma Ferretti 48 transformada em 53 pés, conduzida pelo engenheiro civil e empresário Aquiles Rosa) guinara a boreste, após atravessar a esteira de um barco próximo, e vinha na direção da Dika Brothers em alta velocidade, Marcelo Coelho, marinheiro que está sendo treinado por Wilson para assumir a embarcação da família e, naquele momento, se encontrava na popa, gritou: “Vai bater! Vai bater!”. “Só deu tempo de eu puxar um pouco o barco para boreste”, narra Wilson, acrescentando que Aquiles tentou fazer o mesmo, porém para o bordo oposto. “Se nós não desviássemos a tempo, a offshore teria rasgado o nosso casco”, acredita. “Ele (Aquiles) ia entrar no meio da lancha e matar todo mundo ali dentro!”, reforça Osmarina.
Ao mesmo tempo que se certificava de que todos a bordo estavam bem, a primeira atitude de Wilson foi aumentar a velocidade da Dika Brothers e rumar para a Praia do Góis, a fim de encalhar a embarcação — a qual, julgava ele, já devia estar fazendo água. Acionou também as três bombas do porão e partiu para uma rápida verificação das condições do barco, junto com Marcelo. Isso explicaria por que, na versão de Aquiles, os ocupantes do Dika Brothers pareciam estar fugindo. “Nós não fugimos. Assim que vi que estava tudo bem com o barco e os ocupantes, fui falar com ele, que estava navegando próximo da gente. Cheguei para ele e falei: ‘Poxa, amigo… Você viu o que fez?’ Totalmente transtornado, ele gritava que eu tinha fechado o barco dele e fugido em seguida”, afirma Wilson. Ele decidiu, então, continuar seguindo para a marina, onde acionaria a Capitania dos Portos a fim de comunicar o ocorrido. Na Porto Astúrias, segundo a versão de Wilson Carlos, Aquiles e Oswaldo, marido de Osmarina, conversaram. “Em momento algum ele disse que pagaria o conserto nem se preocupou em saber se quem estava a bordo tinha sofrido algum ferimento. Só falou que jamais rasparia a lancha dele em uma lanchinha”, diz Wilson.
Osmarina confessa que estava nervosa, mas não teria xingado o condutor da Again. Porém, gritava muito e foi retirada do local onde Aquiles e Oswaldo conversavam. “O Aquiles disse que queria pedir perdão ao meu marido e beijou a mão dele. Isso foi constrangedor! Em seguida, falou para o Oswaldo: ‘Vamos conversar, o senhor não me deve nada e eu não tive culpa…”, afirma Osmarina, destacando, também, que em nenhum momento quis saber se quem estava a bordo da Dika Brothers se encontrava em boas condições. “Pouco depois, ele foi embora e não deixou nenhum contato”, prossegue a proprietária da lancha.
A essa altura, ninguém ainda sabia da existência do vídeo. Que acabou viralizando na internet e, no site de NÁUTICA, virou notícia com a devida apuração dos fatos — inclusive com a palavra da Capitania dos Portos de São Paulo, que, após ser procurada pela reportagem, divulgou em nota que abriu inquérito administrativo para apurar causas, circunstâncias e responsabilidades do acidente.
Desde então, a Dika Brothers segue parada em sua vaga na Astúrias, onde foi periciada pela Marinha. A família contratou um perito naval para fazer um levantamento dos estragos provocados pelo acidente na embarcação, que não possui seguro. “Não é só polir. Tem muita coisa para ser feita. O casco está trincado, inclusive por dentro. A pancada foi tão forte, que estourou a direção hidráulica, derrubou o inversor… A avaria foi muito grande”, relata Osmarina. “Como a lancha vai ficar parada por um tempo, tive de entrar nela para retirar alguns pertences. Deu uma tristeza muito grande…”, completa ela, aos prantos.
Além dos danos materiais, tem sido necessário, ainda, lidar com todo o trauma ocasionado pelo abalroamento — que, no final, foi um grande susto, mas poderia ter acabado em tragédia. “Fiquei três dias em choque. Fechava os olhos para tentar dormir e só via aquela lancha vindo na direção do nosso barco, vindo para cima de nós! Agradeço a Deus por estar todo mundo vivo. Nascemos de novo!”, comenta Osmarina. “A gente vai tomar providências e fazer de tudo para que ele (Aquiles Rosa) nunca mais volte para o mar, porque, um dia, ainda pode matar alguém.”
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