Teste Real 35 Special Deck: mistura muito bem-feita

Projeto bem pensado e executado, a Real 35 SD concilia o uso de motores de popa com um excelente aproveitamento da plataforma

12/05/2023

A reputação de construir lanchas modernas e bem-feitas faz com que o mundo náutico sempre acompanhe de perto cada lançamento do estaleiro Real Powerboats, um dos principais construtores de barcos do país. Uma das novidades recentes é a Real 35 Special Deck.

Ao ser lançada no Rio Boat Show 2022, a embarcação chamou atenção por todo o conjunto, em especial por um detalhe: o modelo está equipado com dois motores de popa, que não parecem estar exatamente fora do barco, mas camuflados sob o espaço gourmet.

 

A engenhosidade do projetista está em conciliar duas categorias de barco aparentemente inconciliáveis. Desse modo, a Real 35 Special Deck ganhou uma grande e surpreendente área livre no cockpit, especialmente na parte saliente, casco afora, quase rente à água, do jeito que o público brasileiro gosta.

Uma boa plataforma de popa é fundamental. É nela, afinal, que as pessoas gostam de ficar, já que nenhuma outra parte a bordo deixa os tripulantes tão próximos da água. Não por acaso, as “prateleiras” estão cada vez maiores e mais completas. Equipadas com o móvel gourmet, viraram uma espécie de extensão natural dos cockpits — quase verdadeiras varandas –, com mesa, pia e churrasqueira, entre outros itens.

 

Para satisfazer a demanda crescente por lanchas com esse perfil, a nova 35 pés do estaleiro Real Powerboats usa dois motores de popa de 150 a 250 hp cada. A mágica está na localização desses motores: no centro da plataforma, embaixo do móvel gourmet — que por sinal é bem maior que a média — sem tirar espaço para a circulação das pessoas.

 

 

Por isso o nome Special Deck. De quebra, o barco ganhou um cockpit livre e despojado, o que facilita as manobras de atracação e o convívio a bordo nos passeios. No casco, o sistema hidrolift, que reduz o arrasto, permite o uso de motores menos potentes.

 

Comandado pelo engenheiro Paulo Thadeu, o estaleiro Real Powerboats, com sede em Queimados, na região metropolitana do Rio de Janeiro, mantém em linha de produção 13 modelos de lancha (de 22 a 60 pés, de comando aberto, hardtop e com flybridge), além de diversos outros construídos sob encomenda. Enfim, um estaleiro com tradição, história e muitos cascos na água.

Feita para o sol e muito adequada para pequenos passeios em família, com opção de pernoite, a Real 35 Special Deck é uma lancha cabinada de comando aberto, do tipo targa, com motorização de popa e, ao mesmo tempo, cockpit e plataforma totalmente aproveitados, uma combinação rara e bem-vinda.

 

Para isso, os motores de popa ficam aninhados embaixo do móvel gourmet, no centro da plataforma, liberando espaço para a circulação, aproveitando que barco tem 3,03 m de boca. Por sua vez, o espaço gourmet é uma ilha enorme, localizada no centro da plataforma de popa, com tudo o que se pode esperar de uma área como essa: churrasqueira, tábua de carne, duas geleiras, pia, porta-copos e garrafas, porta objetos e lixeira.

 

O móvel gourmet (protegido por uma tampa com braço hidráulico) é móvel mesmo. Ou seja, ele se eleva (como se fosse o capô dos motores), facilitando a manutenção dos dois popas, de 150 ou 250 hp cada.

 

Além disso, uma parte da plataforma de popa pode ser aberta, permitindo que (ao toque de um botão) os motores se elevem e suas rabetas subam para fora d’água, como acontece em uma lancha convencional com este tipo de motorização.

 

 

O cockpit, que pode acomodar até 16 passageiros, segue a cartilha dos barcos de passeio desenhados para o clima tropical. Tem arranjo prático e aconchegante, com pia, geleira, lixeira, cristaleira, mesa de madeira opcional (com porta-copos e porta-garrafas), um assento confortável (a bombordo) ao lado do posto de comando e três sofás, um em cada bordo e outro na popa (este, com três entradas de ar sobre o encosto, simulando apoios de cabeça), configuração que resulta em maior equilíbrio e estabilidade para o casco na hora da navegação.

 

Aliás, o banco de baterias e o tanque de gasolina de 340 litros — que poderia ser um pouco maior — estão centralizados, ocupando o lugar que pertenceria ao motor de centro.

No acabamento, o estaleiro optou pelo estilo mais limpo, claro, agradável e, portanto, simples, mas não simplista. Merece destaque o uso impecável de costuras nos tecidos, na finalização das peças, tanto no cockpit quanto na cabine, com o uso de cores sóbrias.

 

Também é digna de nota a existência de paióis (com partes removíveis) embaixo de cada um dos assentos dos sofás, permitindo guardar defensas, cabos, material de limpeza e outros acessórios. Assim, o espaço fica livre para as pessoas curtirem o passeio.

Em dias frios ou chuvosos, o cockpit pode ser quase totalmente fechado por uma capota de lona (apenas a proa fica livre), evitando confinamentos forçados na cabine. Porém, na unidade testada por NÁUTICA, a estrutura de alumínio não estava tão firme, provocando balanços durante a navegação.

 

Por sua vez, a plataforma de popa — tirando proveito da boca generosa do barco — tem 2,73 metros de largura e dois nichos, um (de 80 cm) que serve de base para o espaço gourmet e outro mais atrás que, opcionalmente, pode ser submersível.

A embarcação tem ainda escada retrátil de inox e chuveirinho de água doce. O acesso ao cockpit pode ser feito pelos dois bordos, através de passagens, sem degraus, com pouco mais de meio metro de largura.

 

A passagem para a proa — onde há um bom solário para um casal, com apoios para cabeça — é feita por uma abertura no centro do para-brisa, exigindo certo esforço para atravessar, uma vez que o vidro dianteiro, de pegada esportiva, é mais baixo e alongado (o que, por outro lado, permitiu que a targa fosse deslocada para trás, com a consequente oferta de uma área de sombra maior).

A cabine, com acesso por dois degraus de madeira, tem uma cama de casal no camarote de meia-nau e um sofá em “V” na proa, conversível em uma segunda cama para duas pessoas, além de armários e banheiro com vaso, pia e ducha. A altura na entrada é de 1,68 m, o que significa que não dá para ficar de pé sem bater a cabeça no teto.

 

Há bom espaço para circulação e um nicho que pode ser ocupado por uma cozinha com micro-ondas e frigobar. Para a entrada de luz, existe uma enorme gaiuta na proa e janelas nos dois bordos, porém faltam vigias para ventilação natural.

Na decoração, o uso de madeira contrasta com os estofamentos claros e com o prateado das ferragens de inox, produzindo um efeito visual muito bonito. Como não há divisórias, a sensação de espaço interno aumenta ainda mais.

 

A equipe de NÁUTICA navegou com a Real 35 Special Deck na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, num dia de mar relativamente calmo, com ventos na casa dos 12 nós, que produziam um pouco de marola, o que ajudou na avaliação do casco, que tem um V de 18 graus na popa, bem razoável para uma lancha de cruzeiro de 35 pés.

 

 

Como era de se esperar de um projeto da Real Powerboats (estaleiro que se celebrizou pela qualidade da navegação de seus cascos), a lancha — equipada com um par de motores de popa de 150 hp cada — entregou muita performance.

 

Navegando com estabilidade, cortou as ondas de maneira suave, não embicou nem jogou água no cockpit. Nas cruzadas das esteiras da lancha e de outras que passavam por lá, o casco também não deu nenhuma pancada forte contra as ondas, mesmo acelerando forte. Além disso, fez as curvas sem derrapar, mesmo na velocidade top, que foi de 34,3 nós, a 5150 rpm.

Na aceleração, foi da marcha lenta aos 20 nós em 6,9 segundos, uma ótima marca, ainda mais se considerarmos que a lancha testada estava equipada com a motorização mínima estabelecida pelo estaleiro. Para o desempenho geral e, ainda, para o equilíbrio do casco, contribuiu a boca larga, de 3,03 metros, além do sistema hidrolift.

 

O estaleiro oferece a opção com dois motores de até 250 hp cada, mas, pelo que a lancha ofereceu com o par de 150 hp, não há necessidade desses cavalos adicionais, mesmo com mais gente a bordo — se bem que, com a capacidade máxima, uma força extra seja bem-vinda, apenas neste caso. Mérito do sistema hidrolift, que reduz o arrasto e permite o uso motores menos potentes.

No posto de comando, o diferencial está no encosto do banco duplo, que é rebatível e facilita o convívio a bordo com a lancha parada, pois aproxima o piloto dos demais passageiros. O assento também tem ajuste de altura, permitindo que um piloto com seus 1,75/1,80 m de altura tenha boa visão para quase todas as direções, exceto quando a lancha está adernada, na hora de fazer uma curva, quando se perde um pouco de campo visual, o que é normal.

 

Seu painel tem inclinação adequada, espaço para todos os instrumentos e não produz reflexos na vista do piloto. Mas o volante não é ajustável, como mereceria uma lancha de 35 pés como essa.

As botoeiras estão todas sinalizadas, mas o estaleiro abusou no uso de abreviações, o que pode gerar confusão para quem não está familiarizado com essas representações.

 

Quanto à autonomia, o alcance da Real 35 Special Deck é de 137 milhas náuticas em cruzeiro econômico (21,6 nós) e 115 milhas em cruzeiro (30,2 nós), marcas apenas razoáveis para uma 35 pés que permite o pernoite de quatro pessoas. O ideal seria um alcance maior, garantindo maior conforto em pequenas viagens nos fins de semana.

 

Saiba tudo sobre a Real 35 Special Deck

Pontos altos

  • Navegação rápida e estável;
  • Excelente solução de espaço no cockpit e na popa;
  • Eficiente com motorização menos potente;

Pontos baixos

  • Faltam vigias na cabine;
  • Tanque de combustível poderia ser maior;
  • Estrutura da capota precisa ser melhor fixada;

Características técnicas

Comprimento: 10,34 m (34 pés)
Boca: 3,03 m
Altura na cabine: 1,68 m
Combustível: 340 litros
Água: 90 litros
Peso com motores: 4.100 kg
Capacidade (dia): 16 pessoas
Capacidade (noite): 2 pessoas
Motorização: popa
Potência: 2 x 150 a 250 hp

 

Consultor técnico: Guilherme Kodja
Edição de texto: Gilberto Ungaretti
Edição de vídeo: Lucas Ribeiro
Fotos: Victor Oliveira e Divulgação

 

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