Teste Real 60 Luxury: navegamos na maior lancha do estaleiro Real Powerboats
Fundada em 1986, a Real Powerboats se celebrizou pela qualidade de seus cascos. Não por acaso, já produziu mais de 12 000 lanchas, na fábrica em Queimados, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Há 15 anos, para que a marca se tornasse sinônimo também de bom acabamento, o estaleiro criou a linha Class. Agora, com a Real 60 Luxury (e a Real 40 HT, que está chegando), tem início uma nova fase, de inovação e elevado padrão estético. Segundo o comandante da empresa, Paulo Thadeu, as lanchas dessa nova linha se caracterizam pela sofisticação e pela elegância, mas sem abrir mão da performance agressiva e eficiente de sempre. De fato, como pudemos avaliar, a Real 60 Luxury apresenta acabamento com clara evolução da linha Real e uma vasta quantidade de itens de conforto, como você pode conferir no vídeo abaixo.
Como ela é
Apresentada no São Paulo Boat Show, a Real 60 Luxury (uma evolução da versão Real 525, com muito mais espaço em uma das áreas mais concorridas a bordo, a popa, entre outras mudanças) é uma lancha projetada para oferecer a seus passageiros excelente espaço interno, combinado com um desempenho acima da média. Ideal para longos passeios em família, com pernoite a bordo, esta 58,4 pés (ou 17,8 metros de comprimento) dá um show de espaço, tanto na área interna quanto na externa. Ela acomoda com folga até 16 pessoas, sendo que seis podem dormir a bordo, em duas suítes e uma cabine de hóspedes.
O flybridge também é ótimo, e bem adequado a uma quase 60 pés, com terraço, capota do tipo targa esportiva e suportes tubulares de inox com teto solar de tecido que se abre ao toque de um botão (opcionalmente, o estaleiro oferece uma capota bímini elétrica). Tem móvel gourmet com pia, geleira, mesa de madeira, lixeira e espaço para uma churrasqueira ou um fogão de indução de uma boca, ambos, itens opcionais. O sofá, o solário e o banco do piloto são revestidos com tecido impermeável.
Casco, convés, flybridge e anteparas são laminados pelo processo de infusão, que resulta em um barco mais leve e resistente, deixando a laminação homogênea. Isso costuma resultar em uma navegação mais veloz e econômica. Chama a atenção as dimensões da plataforma: são 4,15 metros de uma ponta a outra por 1,84 m de comprimento, além de uma extensão submersível de 1,00 metro, totalizando uma área externa de popa de 11,82 m². À essa extensão natural do cockpit se soma o chamado espaço gourmet, com pia, fogão, geleira, lixeira, chuveirinhos de água doce (com misturador de quente e frio) e de água salgada, piso de teca e a infalível churrasqueira. O detalhe é que quase toda área sob o piso é formada por paióis, onde se pode guardar todo material de salvatagem, sendo que num deles é específico para a conexão e guarda do cabo elétrico de cais.
Na praça de popa, os sofás acomodam com folga seis pessoas (apertando um pouco, dez) em torno de duas mesas de aperitivo, que podem ser unidas, resultando em uma boa mesa de refeições, de 1,10 m x 2,00 m. Destaque para a oferta de itens de série — simples e, ao mesmo tempo, inovadores — para o dia-a-dia de um navegador, como uma petisqueira (uma pequena geleira rasa para ser usada como uma mesa de frios) e uma “champanheira”, que é uma geleira com fundo mais alto e encaixe para garrafas abertas de champanhe ou Prosseco — não tem perigo de entornar dentro do gelo. O estaleiro reservou ainda um espaço para a instalação de uma chopeira ou de uma geleira (itens opcionais) entre os bancos, na popa; fica super à mão.
Sob a praça de popa, fica o camarote de marinheiro, climatizado, com vaso, chuveirinho e pia, boa altura e uma cama de 1,88 m x 0,96 cm. Através dele, tem-se acesso direto ao gerador e uma visão dos tanques de combustível. A escada de acesso pode ser recolhida, o que otimiza e espaço. Por sua vez, a casa de máquinas (com acesso tanto pela praça de popa como pelo piso do salão) tem isolamento termo acústico e antichamas no teto e antepara. A motorização pode ser Zeus, IPS ou pé-de-galinha. A unidade testada por NÁUTICA usa o sistema Zeus, que tem as rabetas debaixo do casco e hélices voltados para a popa, facilitando as manobras, que, por sinal, podem ser feitas por joystick.
As janelas em curva combinam harmoniosamente com as linhas do casco, resultando em uma composição realmente agradável. Por dentro, a Real 60 Luxury também merece destaque. São três camarotes, sendo duas suítes de casal — uma delas, a master, ocupa toda a largura do casco à meia-nau, de 4,60 metros. E já que a ideia do estaleiro ao projetá-la era saltar para um patamar acima na escala náutica, alguns detalhes foram melhorados e chamam atenção à primeira vista.
Nas duas suítes, por exemplo, as camas medem 2,00 m x 1,58 m e têm colchões “de verdade”, com blocos de mola em vez de espuma. Por sua vez, os banheiros são revestidos de porcelanato e têm bancadas e cubas de Corian legítimo. O chuveiro fica no teto, de 2,08 m de altura, que é para que as pessoas se sintam em casa, com conforto real, mas sentimos falta de vigia para a circulação de ar.
Já no convés principal, o salão divide-se em duas partes, sendo que mais à proa há uma sala de estar, com sofás em U, mesa de vidro rebaixável e o móvel da TV (esta que se esconde por comando elétrico). A iluminação é mesclada com spots de LED e indireta, com cordão luminoso de LED tanto no teto como nos degraus da escada. Uma ótima sacada do projetista foi instalar a cozinha e o bar na parte de trás do salão, voltados para a praça de popa, o que facilita a convivência a bordo. A cozinha (a bombordo) tem pia, geladeira grande, cooktop e micro-ondas; o bar fica a boreste, um diferencial do barco. Entre o cockpit e o salão há uma porta de três folhas de inox e vidro escurecido, que quando aberta integra os dois ambientes.
São dois postos de comando. O interno tem duas telas multifuncionais de 12 polegadas, além de rádio vhf, piloto automático e interruptores de flapes, guincho, bombas de porão, etc., tudo à mão e bem visível, como deve ser. O volante, escamoteável, é de madeira, e o para-brisa, bipartido, de vidro laminado. O comando do flybridge é quase um espelho do interno, com telas de 9 ou de 12 polegadas. Área de convívio por excelência nos dias de sol, o fly tem um hard-top, com teto solar flexível, que abre e fecha conforme a vontade do comandante, além de solário na proa, sofá em J e um segundo espaço gourmet otimizado.
A passagem para a proa, pelo convés lateral, é muito segura, mesmo com o barco navegando (o que não é recomendado), por conta de pegadores de mão no casario e do guarda-mancebo, que tem 74 cm de altura. Os dois solários têm estofamentos robustos e encostos reclináveis, do jeito que costuma agradar. Entre eles, há um porta-copos de acrílico. Ao lado da caixa de âncora e do guincho, há um bem-vindo chuveirinho de água salgada, para lavar o ferro caso este suba carregado de lodo. Ponto positivo também para os cunhos de amarração, bem posicionados e fixados. Mas, em uma lancha de 60 pés, seria preferível um sistema com passador de cabo e depois o cunho, que previne danos ao gelcoat.
Se cabe uma crítica aqui, essa é para a posição dos bocais de abastecimento de diesel, acima do costado, a bombordo. Se ocorrer um vazamento na hora de abastecer, o combustível escorrerá pelo costado e pela teca do piso. Esses bocais ficariam mais bem posicionados num espaço que já existe ali, na passagem, com bacia de contenção, dreno e tampa. Já os paióis estão bem distribuídos pelo cockpit, pela plataforma de popa, pela proa e pelos camarotes. Nas duas suítes, eles ficam sob as camas, somando-se aos armários e gavetas. Isso significa maior capacidade de armazenamento e melhor organização dos ambientes.
Como navega
A Real 60 Luxury foi testada na baía de Angra dos Reis, Rio de Janeiro, em um dia de mar calmo, com ondas bem baixas, condições boas para acelerar ao máximo os dois motores Cummins de 600 hp cada, além de puxar forte nas manobras, para entender do que esse conjunto é capaz. Mesmo sendo uma lancha com flybridge, na categoria das 60 pés, o maior barco da Real Powerboats se saiu realmente muito bem, fazendo curvas com raio de giro bem pequeno, com respostas rápidas e suaves, em uma pilotagem quase esportiva.
Estava equipada com o sistema Zeus, que tem as rabetas debaixo do casco e hélices voltados a popa, facilitando as manobras e melhorando a eficiência do casco. Semelhante ao IPS, esse sistema permite proezas como se movimentar o barco totalmente de lado, feito um helicóptero, ou fazê-lo girar em torno do próprio eixo, apenas com o uso do joystick. Tudo isso com movimentos suaves, na ponta dos dedos.
Cruzamos as marolas de barcos grandes por várias vezes, contra e a favor do vento, para avaliar a estabilidade do casco. Ele amorteceu bem os impactos e o cockpit manteve-se seco, sem borrifos. Suas reações às manobras são rápidas e firmes, quase esportivas mesmo, e seu rolamento lateral, pela relação altura x largura, foi adequado para um barco desse porte. Seu raio de giro é bem curto. Mesmo na sua velocidade de cruzeiro (que foi de 28,9 nós), fez curvas bem fechadas e longas, no limite do timão, sem problemas, com perda de 1 a 2 nós no máximo.
Seu casco tem no fundo uma espécie de túnel chamada Hydrolift System (patenteado pela Real Powerboats), que diminui a resistência ao navegar, exigindo menos potência dos motores, em relação aos cascos convencionais. Graças a esse sistema, associado ao casco construído pelo processo de infusão, que assegura baixo peso — no caso dessa lancha, 19 000 quilos sem motorização —, a Real 60 Luxury pode usar dois motores de apenas 600 hp cada, potência que permite consumir bem menos combustível que as lanchas desse mesmo porte, que normalmente exigem motores de acima de 800 hp.
No teste de NÁUTICA, o consumo na velocidade de cruzeiro econômico (21,6 nós) foi de 154 litros, a 2 300 giros, com cinco pessoas a bordo, aproximadamente 800 litros de combustível e 550 litros de água nos tanques. Ágil, o casco alcançou 32,8 nós de velocidade máxima, uma ótima marca para essa motorização. Em condições ideais, o estaleiro nos apresentou registro das telas em que a velocidade máxima chegou a 34,1 nós. Aqui, porém, vale a marca registrada no dia do teste. Na aceleração, a Real 60 Luxury foi de 0 a 20 nós em 13,6 segundos. A autonomia com o consumo apresentado é muito boa: tanto em cruzeiro econômico como rápido, superou a marca de 250 milhas náuticas, que equivale a um trecho entre o Rio de Janeiro e Santos, com uma folga de quase 30% do tanque.
Com motores mais potentes, o desempenho pode melhorar, mas esse upgrade é totalmente desnecessário, considerando-se que os motores de 600 hp apresentaram consumo excelente, aliado ao ótimo desempenho, e deixam o preço do barco mais competitivo em relação ao de outras lanchas do mesmo porte. Enfim, a Real 60 Luxury oferece muito em troca de relativamente pouca potência.
Características técnicas
Modelo: 2019
Fabricante: Real Powerboats
Comprimento total: 17,80 metros
Boca: 4,60 metros
Altura no salão: 2,07 metros
Combustível: 2000 litros
Água: 650 litros
Capacidade dia: 20 pessoas
Capacidade pernoite: 7 pessoas
Peso com motor: 22 000 kg
Motorização: Zeus, IPS ou pé-de-galinha
Potência sugerida: Diesel (2 x 600 hp)
Quanto custa
A Real 60 Luxury é oferecida a partir de R$ 5,2 milhões, equipada com dois motores de 600 hp cada. Preços pesquisados em novembro/2019. Para saber mais sobre o modelo, acesse a ficha técnica do estaleiro.
Veja mais fotos da Real 60 Luxury
Quem faz
O estaleiro Real Powerboats, fundado em 1986, é um dos mais tradicionais estaleiros brasileiros. Já produziu mais de 12 mil lanchas, na fábrica de 36 mil metros quadrados em Queimados, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Atualmente, fabrica 14 modelos de lanchas de passeio, de 24 a 60 pés, todos desenvolvidos para as condições tropicais brasileiras, tanto em águas interiores quanto no mar. Para mais informações, acesse realpowerboats.com.br ou ligue tel. 21/2663-1223.
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