Da carga ao lazer: como os motores Yanmar impulsionam diferentes tipos de barcos
Entre longas viagens transportando toneladas a passeios de lazer, os motores Yanmar mostram versatilidade nas águas da Amazônia


Ao descer para as casas de máquinas de empurradores, ferryboats e lanchas de transporte fluvial, é difícil imaginar qualquer relação com barcos de lazer. O calor, o ruído dos motores e a ideia de toneladas sendo empurradas pela força das máquinas não combinam, à primeira vista, com conforto ou diversão. Visitando algumas embarcações motorizadas pela Yanmar em Manaus, no Amazonas, foi possível desconstruir justamente esse contraste.
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Na navegação amazônica os barcos não são hobby, mas parte essencial da infraestrutura. Por lá, os rios Negro e Solimões são usados como vias para conectar cidades, pessoas e mercadorias. Foi nesse contexto que visitamos embarcações de trabalho pesado que dividem o mesmo “coração” com lanchas de lazer: alguns motores capazes de operar dias a fio empurrando cargas pesadas, com outra configuração também encontram espaço na navegação recreativa.
Empurradores de carga
A primeira visita foi à sede da SC Transportes, que atua com empurradores no transporte de cargas. Fundada em 1975 com foco no deslocamento de derivados de petróleo, como o querosene, a companhia hoje opera também nos segmentos de carga geral e grãos — este último apontado pela empresa como o que mais cresce na região.
Como a movimentação ocorre em grandes volumes, a frota exige equipamentos robustos e confiáveis. Atualmente, dos 18 empurradores em operação pela SC Transportes, metade utiliza motores Yanmar. Ao todo, 14 equipamentos da fabricante japonesa impulsionam embarcações da SC Transportes e outros dois motores estão em negociação para substituir outras marcas.


Em um dos empurradores visitados, o destaque foi o motor 6AYM-WET, de seis cilindros em linha e 829 hp de potência. Em duplas, essas embarcações empurram balsas que podem chegar a 18 mil toneladas. Ainda assim, segundo Guilherme Kodja, consultor técnico da Yanmar, o mesmo modelo também pode equipar lanchas de lazer entre 55 e 65 pés.
A explicação está na aplicação. Em embarcações de recreio, a potência é explorada de forma diferente, com reversores mais leves do que os usados nos empurradores — que operam, neste caso, na reversão de 6:1. Com uma reversão mais leve, o resultado prático é mais força na ponta do eixo e no hélice, o que resulta em um melhor planeio e maiores velocidades.
Lancha rápida de transporte fluvial
A segunda visita foi à “Glória de Deus III”, uma das principais lanchas de transporte fluvial do grupo F de A O dos Reis. Com 27,5 metros de comprimento e capacidade para 95 passageiros, a embarcação opera a tradicional linha entre Manaus e Tabatinga, cidade que fica na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.


O trajeto inclui paradas em dez cidades durante o percurso e soma cerca de 36 horas de navegação quase ininterrupta, totalizando aproximadamente mil milhas náuticas somando ida e volta. Iniciado em 2008, o negócio reflete a lógica do transporte regional, que dependente necessariamente do ciclo dos rios, que variam entre cheia e seca. Em períodos de seca severa, como o registrado em 2024, o serviço chegou a ficar paralisado por quase seis meses, fatiando o faturamento do ano pela metade.


A Glória de Deus III opera com dois motores Yanmar 6HYM-WET, de 500 hp cada. A escolha da configuração em parelha, segundo o proprietário, foi para “forçar menos o motor” durante as longas viagens e garantir segurança operacional. Isso porque, caso um dos motores apresente qualquer falha, a embarcação ainda consegue seguir viagem.


O conjunto atual da lancha de transporte rápido foi instalado em 2020 e acumula cerca de 7 mil horas de uso (em cada motor), mas o número não assusta o proprietário graças ao histórico: o conjunto de motores anterior, nas mesmas configurações, operou por 30 mil horas (cada), apenas com manutenção preventiva.


Mesmo transportando cerca de 13 toneladas entre passageiros e cargas, a lancha atinge velocidade de cruzeiro de 28 nós contra a correnteza, com consumo médio de 150 litros por hora. A favor das águas, a velocidade sobe para 35 nós, enquanto o consumo cai para cerca de 140 litros por hora, considerando os dois motores mais o grupo gerador.


Segundo Kodja, esse mesmo conjunto pode equipar lanchas de lazer entre 50 e 55 pés, desde que com potências menores. “Esses motores trabalham carregando mais de 13 toneladas, contra correnteza, por longos períodos. Em uma lancha menor e mais leve, o desempenho é ainda mais expressivo”, explicou.
Ferryboat de carga
A terceira visita foi ao mais novo ferryboat do grupo David Oliveira Fernandes. Construída em aço, a embarcação foi projetada especificamente para o transporte de cargas gerais entre Manaus e Tabatinga, com capacidade para até 1,3 mil toneladas.


Assim como o empurrador da SC Transportes, o ferry é impulsionado por um motor Yanmar 6AYM-WET, de 829 hp. A escolha ocorreu após uma experiência negativa com um motor adaptado para uso marítimo, que apresentou problemas recorrentes de manutenção em menos de dois anos.


Com a motorização da fabricante japonesa, o proprietário afirma ter reduzido custos de manutenção e tido, inclusive, economia de combustível. O consumo caiu cerca de cerca de 30% em comparação com o equipamento anterior.


Empurrador estratégico na região Norte
A última parada foi na sede da Atem, Distribuidora de Combustíveis, cuja operação de logística fluvial é conduzida pela Navemazônia, ambas empresas integrantes do Grupo Atem. A frota soma mais de 90 balsas e 30 empurradores, entre eles o empurrador Manaus, um dos maiores da região, segundo a marca.
Enquanto empurradores comuns transportam entre 3 mil e 5 mil toneladas, o Manaus tem capacidade para até 11 mil toneladas. O volume é estratégico para o abastecimento da região, que depende em grande parte do transporte hidroviário de combustíveis.


A relação da Navemazônia com a Yanmar começou na década de 1970, quando o patriarca da família Atem utilizava um pequeno motor Yanmar de 4 hp para transportar farinha, frutas e verduras de Janauaca a Manaus. O equipamento, hoje em exposição na base da empresa, simboliza o início dessa trajetória que vem se estendendo graças à confiança nos equipamentos.


Para movimentar balsas de grande porte, o empurrador Manaus utiliza uma parelha de motores Yanmar 6EY17W, que somam 1.389 hp. Diferentemente dos outros modelos vistos durante a viagem, essa motorização não é indicada para barcos de lazer.


Trata-se de um motor de média rotação, projetado para operar em baixas rotações constantes, suportando cargas pesadas por longos períodos. Embarcações de lazer, por outro lado, exigem motores de alta rotação para proporcionar aceleração rápida e velocidades maiores.
A Amazônia se mostrou mais do que um cenário bonito e tradicional: é onde natureza, trabalho e navegação se cruzam diariamente. Nesse contexto, parte da linha de motores Yanmar se destaca justamente por atender, com a mesma base tecnológica, embarcações de trabalho pesado e barcos de lazer.
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