Após criar Museu do Mar, Aleixo Belov luta para que não cortem o mastro de seu veleiro histórico
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O Três Marias, de 36 pés, é tão importante para Aleixo Belov — foi com esse veleiro que ele realizou as três primeiras de suas cinco voltas ao mundo — que o velejador, de 77 anos, decidiu eternizá-lo. Para isso, adquiriu um casarão histórico n e o transformou no Museu do Mar de Salvador, a ser inaugurado no início de 2021, no qual ficarão expostas diversas peças e conhecimento adquiridos durante as suas viagens (cartas náuticas, cronômetros, fotos dos lugares que visitou, búzios de todos os oceanos, objetos diversos e toda a sua biblioteca), além, é claro, do veleiro histórico, que foi construído pelo próprio Belov no quintal de sua casa, na capital baiana, no fim dos anos 1970.
“Cheguei à conclusão de que, se eu morresse, todo o meu acervo ficaria perdido. Estava com muito medo e quis fazer o museu para guardar todo o meu acervo. Se alguém um dia quiser aprender o que é preciso para fazer viagens como eu fiz, será muito mais fácil”, explica o velejador.
Há cinco meses, o barco foi colocado no casarão onde o museu funcionará, no Largo Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico de Salvador. Foi necessário um guindaste para erguer o veleiro, de 7,5 toneladas, e colocá-lo dentro do museu. “Já está descansando”, comemorou Belov ao concluir a operação.
Porém, na hora de fechar aquela abertura no teto, o mastro armado não coube na nave (sobraram três metros). Para preservá-lo, seria necessário manter uma abertura no telhado. “Consultei a Superintendência do Iphan na Bahia sobre a possibilidade de atravessar uma claraboia no teto. Depois de permitir fazer a claraboia verbalmente, negaram por escrito”, lamenta o velejador.
E agora? Fazendo graça com a situação, o arquiteto e urbanista Lourenço Mueller, que preside a Fundação Aleixo Belov — que funciona como um centro de estudos, pesquisa, fomento e discussão de temas ligados à navegação em outro casarão histórico no centro de Salvador e responderá pela administração do museu do mar —, levantou uma polêmica:
“Mutila-se o barco em sua expressão fálica, cortando um pedaço do mastro, para caber no pé-direito, ou solicita-se à comissão que preside o museu permissão para atravessar uma claraboia?” Uma terceira hipótese seria manter o mastro intocado ao lado do veleiro. “Qual é a sua opinião?”, perguntou ele.
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Era só uma brincadeira, pois Belov não quer nem ouvir falar em corte do mastro. “Seria uma mutilação”, protesta o velejador, que precisa terminar a obra para inaugurar o museu e torce pela uma mobilização dos velejadores em favor de sua causa.
“É preciso protestar contra esta ditadura. Como pode, uma arquiteta jovem, com poderes para mutilar o barco que deu três voltas ao mundo em solitário, uma preciosidade, um mito nacional”, diz ele, que lamenta ainda mais pelo fato de ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional caber justamente proteger e promover os bens culturais do País.
Criado em Salvador, cidade em que chegou quando tinha apenas 6 anos de idade, Belov considera-se meio ucraniano, meio baiano. Seus barcos em todas as suas cinco circum-navegações levaram a bandeira brasileira.
A primeira viagem do Três Marias foi iniciada em 16 de março de 1980, uma época em que não existia o GPS para navegação nem telefone global. A segunda, em 1986. O barco, um Bruce Robert de 36 pés e oito toneladas, foi construído do zero pelo próprio velejador. O nome é uma homenagem à suas duas filhas Marias e à ex-mulher, Maria Belov.
Agora, ancorado no piso do futuro Museu do Mar de Salvador (onde foi colocado para servir de inspiração a futuros velejadores), o barco precursor da saga de Belov em solitário pelos mares do mundo aguarda por uma efetiva proteção da Superintendência do Iphan na Bahia, por conta sua relevância histórica. E isso inclui a manutenção do velho mastro armado, com imponentes 13,20 metros de comprimento.
E vocês, o que acham? Vamos pressionar o Iphan para que autorize a instalação de uma gaiuta (claraboia) no museu? Vamos pegar está briga?
Antes da publicação desta matéria, Aleixo Belov nos pediu para fazer uma ressalva e um acréscimo. A correção é em relação à jovem arquiteta que teria exigido o corte do mastro do Três Marias: “A culpa não é dela e sim do seu chefe Bruno Tavares”. O adendo: “As casas do centro histórico de Salvador estão cheias de claraboias”.
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