Os tempos de capitão profissional (skipper, na denominação inglesa) ficaram para trás, mas a alma de homem do mar permanece vivíssima. Depois de uma vida inteira dedicada a cruzar oceanos no comando de grandes barcos (somando cerca de 150 mil milhas navegadas), o paulista Pedro Camargo — desde 2019 radicado nos Estados Unidos — decidiu que era hora de empreender, mas sem se afastar de sua origem náutica.
Para isso, ao lado do amigo Robson Gomes (ex-Recon e Mares), há três anos o velejador criou um estaleiro — a PRJ Boats —, em cujas dependências, na região de Fort Lauderdale, na Flórida, estão ganhando forma duas lanchas-catamarãs de alto desempenho: a Cat 40 e a Cat 60, desenhadas pelo projetista Daniel Bolsoni Castilla.
O foco da empresa são dois segmentos: o dos tenders e o dos barcos adaptados com acessibilidade. Os tenders, para quem não sabe, são barcos de apoio projetados para ser estacionados dentro da nave-mãe (ou mothership) — é neles que os passageiros são transportados para realizar passeios e outras atividades.
Com sua experiência de capitão, Pedrão (como é chamado por todos) sabe em detalhes e com precisão exatamente os recursos que esse tipo de embarcação deve ter para uma transição perfeita entre a nave-mãe e o píer ou uma linda praia — ou ainda para uma pescaria ou mergulho, outros modos de usar uma lancha de apoio, hoje uma forte tendência em países da Europa e nos Estados Unidos.
“Para a tripulação de superiates, ter um bom tender é fundamental”, defende Pedrão. Não por acaso, existe uma demanda crescente por esse tipo de barco, que — para atender o público exigente dos cruzeiros — deixou de ser apenas o bote de resgate pintado de laranja, exigido pela SOLAS, para se tornar uma embarcação multiuso e cada vez mais sofisticada.
Quanto maior a utilidade, maior a preferência. “Quando é um pessoal mais jovem que precisa se deslocar até a costa, não é necessário se aproximar tanto da praia: eles pulam na água e vão em frente. Já com pessoas mais velhas, é preciso jogar âncora, levantar os motores e puxar o barco pela popa até o ponto de desembarque, ou de embarque”, avalia o agora empresário, antes de explicar as inovações que seus catamarãs motorizados — chamados de “shadows tenders” — apresentam.
“Desde o primeiro instante, decidimos que seria necessário fazer alguma coisa diferente, para não errar na fórmula”, revela Pedrão. O pulo do gato, junto com os cascos navegadores de um catamarã, foi introduzir uma abertura na proa, por onde é rebaixada, por acionamento elétrico, uma rampa com 85 cm de largura — sim, tanto o Cat 40 como o Cat 60 têm uma rampa de proa para embarque e desembarque, tanto em uma praia como em um píer flutuantes.
“Não tem aquele negócio de pula por aqui, pula por ali. O desembarque é direto na praia. Tudo muito seguro”, garante o comandante da PRJ Boats. Além disso, os barcos da PRJ Boats terão plataforma de popa entre os motores basculantes.
Outra decisão de primeira hora foi que os barcos deveriam ser leves, para navegar com apenas dois motores; daí os cascos terem sido construídos pelo sistema de infusão, com o uso de fibra de carbono no hard top. Além disso, deveriam ter uma pequena cabine com cama de solteiro, com banheiro, e oferecer bastante espaço de porão, com uma grande área na popa para armazenar os equipamentos de mergulho, incluindo cilindros e até um compressor para recarregar as garrafas. Para se ter uma ideia do que representam esses espaços, o modelo maior (o Cat 60, ainda em fase projeto), terá garagens para dois jets!
Outra novidade serão os “jack plates”, placas que mudam o ângulo dos motores verticalmente, otimizando o desempenho e melhorando a operação em águas rasas. Sem contar o conforto, a estabilidade e o ótimo rendimento, típico dos multicascos, mesmo em condições de mar agitado, o que é imprescindível em uma pescaria, por exemplo.
Equipada com dois motores de 400 hp cada, a primeira unidade da Cat 40 está na água, em fase de testes, já com 400 horas navegadas. E já disse a que veio, alcançando 52 mph (45 nós) de velocidade máxima. E essa nem é a melhor parte da história.
O barco também chama atenção pela economia: seu consumo médio é de um galão de gasolina por milha, marca considerada espetacular. Não por acaso, a PRJ Boats já vendeu duas unidades, e calcula fechar o ano com quatro entregas no mercado norte-americano. Os amigos mais próximos de Pedrão não lembram tê-lo visto tão empolgado.
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