Gaúcha Ana Paula Marques conquista inédito mundial paraolímpico
Da cadeira de rodas ao topo do pódio mundial, assim se pode resumir a trajetória na vela adaptada da meio gaúcha, meio brasiliense Ana Paula Marques, de 35 anos, que, no Lago Michigan, no estado de Wisconsin, nos Estados Unidos, conquistou, de modo pioneiro para o Brasil, o Campeonato Mundial de Vela Paraolímpica, na classe Hansa 303, em que competem atletas portadores de amputações, paralisia cerebral e lesões medulares.
Natural de Porto Alegre, ela acompanhava com curiosidade o vaivém dos veleiros pelas águas do Rio Guaíba, mas nunca teve oportunidade de se iniciar no esporte. O momento da transformação foi o mesmo de uma tragédia pessoal: há 15 anos, recebeu um tiro nas costas desferido pelo então marido, que a deixou paraplégica. Presa a uma cadeira de rodas, Ana Paula descobriu que, para o bem de sua saúde, precisaria praticar algum tipo de esporte. Foi quando decidiu mudar-se para o Distrito Federal, atraída por um projeto voltado para pessoas com deficiência. “Como eu já fazia reabilitação no hospital Sarah Kubitschek, decidi me radicar em Brasília”, conta ela. Foi o professor de educação física Rodrigo Rodrigues, do próprio hospital, que a apresentou à vela, cinco anos atrás.
“Primeiro, ele me levou para um passeio no Lago Paranoá, para ver se eu iria gostar, e eu gostei. A partir dali, passei a fazer aulas de vela adaptada, dentro do Projeto ‘Vela Para Todos’, do Cota Mil Iate Clube. Quando fui ver, já estava competindo, dentro do Campeonato do Distrito Federal da Vela Adaptada”, lembra a campeã mundial, que atualmente defende as cores do Caalex — Clube Almirante Alexandrino —, da Marinha, que fica na Asa Norte de Brasília.
Para Ana Paula, a vela reabilitou sua vida. “Na hora em que sento no cockpit, a deficiência desaparece”
Em 2016, ela enfrentou a primeira competição internacional: um mundial aberto, misto, para velejadores com deficiências ou não, realizado na Holanda, no qual terminou em terceiro lugar, entre as mulheres, e em 12º, na classificação geral. No mesmo ano, foi eleita a melhor atleta paraolímpica e destaque do ano na modalidade vela no Prêmio Brasília Esporte, do governo brasiliense.
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No ano seguinte, no Mundial Paraolímpico em Kiel, na Alemanha, nova demonstração de talento: Ana Paula foi vice mundial na Hansa 303. A conquista do Mundial deste ano, nos EUA, foi consequência natural de sua dedicação ao esporte — a forma que Ana Paula encontrou para se reabilitar para a vida, após a perda dos movimentos das pernas. “A vela faz isso porque, na hora em que sento no barco, some a deficiência”, explica a velejadora, que além de timonear pratica outro esporte paraolímpico: o halterofilismo. “Para correr regatas de duas horas, preciso de um bom condicionamento físico, e isso o levantamento de pesos e halteres me dá”, justifica.
A maior dificuldade é a falta de apoio e suporte financeiro para ir às competições. Segundo ela, para a disputa do Mundial de Wisconsin, foi necessária a montagem de uma verdadeira engenharia financeira para dar conta das despesas com viagem, hospedagem, alimentação, pagamento de taxas e inscrições. Sem patrocinadores, a equipe de Vela Adaptada do Brasil, formada por cinco atletas, viajou para os Estados Unidos pagando, cada um deles, as passagens do próprio bolso. “A Federação de Vela banca os salários dos professores e arca com a manutenção dos barcos, mas não ajuda os atletas. Meu único suporte é a Bolsa Distrital, de R$ 500, oferecida pelo governo”, lamenta.
Seguindo o calendário, ela agora tem à frente os Campeonato Europeu, em maio, e o Mundial, que será disputado na Espanha, em setembro. Mas não sabe se poderá repetir o esforço financeiro das outras disputas. “Estou na expectativa de conquistar um patrocínio. Só assim para poder defender a minha medalha”, avisa.
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