Teste Intermarine 62: navegamos em uma das lanchas mais desejadas do Brasil
Para navegar com toda a família a bordo sem sacrificar o conforto, uma lancha de 62 pés com flybridge é uma das melhores opções, por ter, em geral, duas suítes e um camarote, este dividindo o banheiro com a área social, e os cômodos serem grandes e com pé-direito alto. É nessa categoria que se enquadra a Intermarine 62, da Intermarine Yachts, uma 62 pés recheada de tecnologias e inovações, feita para quem não abre mão de um nível de conforto acima da média.
A fusão entre tecnologia e acabamento artesanal é uma das marcas do estaleiro paulista, especialista em embarcações de luxo no país, com milhares de unidades produzidas desde 1973, quando foi criado pelo empresário Dirceu Fontoura — a família Ramalho assumiu o comando da empresa 11 anos depois, em 1984, imprimindo à construção dos novos barcos um estilo próprio, de atenção aos detalhes, seja no acabamento cuidadoso de marcenaria e da laminação ou na costura impecável da tapeçaria.
Como ela é
Projetada pelo estúdio de Luiz de Basto, designer náutico reconhecido mundialmente, a Intermarine 62 apresenta todas as virtudes esperadas de uma lancha desse porte, acrescidas de boas inovações, como o chamado beach club, extensões laterais da plataforma de popa, que abrem e fecham ao toque de um botão.
Com essas aberturas, o barco ganha lateralmente em cada bordo 1,4 metro, tornando a vida a bordo muito mais confortável e divertida. Hoje, este “novo” ambiente faz sucesso em diversas embarcações. Mas foi nessa 62 pés que a novidade apareceu pela primeira vez no Brasil, durante o São Paulo Boat Show de 2017, fazendo todo mundo virar o pescoço para aquela área de convivência que se forma na popa, quase no nível do mar.
O posto de comando duplo no flybridge merece destaque, tanto pela posição de pilotagem quanto pela ergonomia e as telas multifunção Raymarine Axiom (foto abaixo), touch screen, de 12”, marca representada no Brasil pela Marine Express. É um dos melhores postos de comando entre as lanchas que navegam em nossas águas.
O único senão fica por conta da posição tanto do vhf quanto do piloto automático, um pouco distantes das mãos. O estaleiro poderia fazer um reposicionamento dos dois, deixando-os mais próximos do piloto. Fica a sugestão.
O flybridge da Intermarine 62 é muito inteligente. Tem nada menos que 26 m². Além do posto de comando, o flybridge tem dois sofás para seis pessoas cada, uma mesa para refeições ou aperitivos, um pequeno solário reversível ao lado do piloto, icemaker, porta-copos, porta-trecos, área para churrasqueira, um móvel com geladeira, armário e lixeira, e um gostoso bar que divide bem os ambientes e que pode até receber dois pequenos bancos móveis para completar o espaço. A critério do proprietário, o móvel fixo pode sair de cena, dando lugar a espreguiçadeiras ou mesas de montar.
Toda essa área está coberta por um t-top (produzido pela própria Intermarine) muito leve e resistente, de fibra de carbono, o que é essencial para manter o centro de gravidade controlado, garantindo maior estabilidade ao casco. O teto solar flexível tem comando elétrico.
Na cabine, a suíte máster ocupa a boca máxima do barco, que é de 5,05 metros. Tem 1,93 m de altura e chama atenção logo na porta de entrada, que tem 90 cm de largura. É um diferencial e tanto em termos de amplitude e sensação de espaço, logo à primeira vista.
Um pouco à frente, há dois armários espelhados e uma escrivaninha com penteadeira. A cama de casal tem 1,92 m de comprimento por 1,71 m de largura. A iluminação indireta torna o ambiente ainda mais confortável. O ar-condicionado tem saídas nos dois bordos, com direcionador de ar, mas não ficam visíveis, o que joga a favor da elegância do ambiente.
O estaleiro oferece ainda algumas possibilidades de customização: de mudanças sutis, como um novo revestimento, a uma pintura especial, passando por um layout distinto, dando ao proprietário a oportunidade de mostrar seu estilo, sem comprometer a proposta do projeto. Segundo o estaleiro, é a maior suíte máster da categoria, com 21,5 m² e 5,5 metros de janelas com vista para o mar.
Na entrada do banheiro há uma porta de vidro de correr, um ótimo truque para se ganhar espaço. A parede de vidro, no modo transparente, permite que quem estiver no box tenha vista do mar pelas grandes janelas laterais do costado. Mas basta o toque em um botão para esse vidro “esfumaçar”, oferecendo privacidade total a quem estiver no tomando banho.
Aliás, toda as janelas dessa lancha contam com o recurso eletrônico de blackout, por controle remoto portátil, que garante privacidade no salão e um bom sono na cabine — além de, pela manhã, dar vez à entrada da luz do sol, combinada com ventilação natural cruzada (há quatro vigias para isso), que torna o ambiente muito agradável. O banheiro é um pouco estreito, mas bem comprido, ocupando cerca de 70% da boca máxima do barco. Tem uma cuba bem grande, vaso, ventilação natural e box com vista para o mar.
A suíte da proa (chamada de VIP) tem uma cama de 1,85 m por 1,50 m (opcionalmente, dividida em duas camas de solteiro com 75 cm de largura cada). O pé-direito aqui é de 1,88 m, com 1,90 m no banheiro com box fechado. O terceiro camarote, a boreste, também com 1,88 m de altura, tem duas camas de solteiro com 1,94 m de comprimento por 68 centímetros de largura, que podem ser unidas para atender a um casal.
Como o acesso ao banheiro social é direto, podemos chamá-lo de uma terceira suíte. O banheiro social é completo, com box fechado, janelas e ótima ventilação. No corredor de passagem do convés inferior, concentram-se, muito discretamente, os utensílios de serviço.
Embaixo da escada, por exemplo, fica um aspirador de pó central. Mais à direita, um dos armários camufla uma máquina de lavar e secar roupas. O detalhe é que as portas dos armários fecham com suavidade, acionadas por um amortecedor, e não abrem com o movimento do barco, pois ficam presas por ímãs.
No salão, de 25,4 m² de área e pé-direito máximo de 2,11 m, o estaleiro oferece duas opções para o posicionamento da cozinha: logo na entrada, a bombordo, próxima à praça de popa, ou na parte frontal do salão, à boreste. Na lancha testada por NÁUTICA, estava na popa, com vista para o mar.
Seja qual for a configuração, essa cozinha tem tudo o que se espera num barco como esse: duas geladeiras, freezer, forno elétrico, fogão de quatro bocas por indução, exaustor, lixeira e muitos armários.
A área de convívio social tem dois bons sofás, um em “L”, maior, a boreste, o outro reto, uma pequena chez em “J”, TV embutida de 55’ e sistema de som surround com caixas discretamente instaladas por toda esta área.
A mesa de aperitivos reserva uma surpresa: ela tem todo um jogo próprio para se elevar e abrir, transformando-se em uma mesa de refeições. Chama atenção a iluminação indireta, com filamentos de led, que deixa o ambiente ainda mais aconchegante. Já para a iluminação natural, as janelas têm dois metros de comprimento e alinhando-se com o acabamento interno do salão.
O posto de comando é completo, com os comandos totalmente à mão, do joystick ao Seakeeper NG9 — sim, a Intermarine 62 está equipada com esse eficiente estabilizador, à venda na Marine Express, que neutraliza o balanço lateral (rolamento) do barco. No modelo testado, o proprietário fez a opção por telas de nove polegadas no comando interno, com a instalação de telas de doze polegadas apenas no flybrigde.
Sob encomenda do estaleiro, a Marine Express desenvolveu uma interface personalizada para o controle e monitoramento de diversas funções da embarcação, em modo passivo e ativo, que oferece informações sobre as baterias, ligações elétricas e os tanques, e permite controlar os sistemas elétricos e eletrônicos, como iluminação, luzes de navegação, limpadores, buzinas, sistemas de segurança, entre outras funções.
O para-brisa, enorme e inteiriço, garante excelente visibilidade. As janelas laterais, elétricas, além de ventilarem o ambiente, facilitam a comunicação durante as manobras de atracação, o que é sempre bem-vindo. A poltrona do comandante oferece ótima ergonomia, conforto que ao longo dos anos segue em evolução constante nos barcos da Intermarine. Por sua vez, o painel chama atenção pelo acabamento em fibra de carbono.
Entre o salão e a praça de popa há uma porta de três folhas que, quando aberta, integra totalmente os dois ambientes. A praça de popa, com 4,21 metros de largura, tem uma mesa grande, para seis pessoas, e um sofá em “J”. Para cobrir essa área, um toldo embutido abre e fecha por acionamento elétrico.
A bombordo fica a escada de acesso ao flybridge. A boreste há um terceiro comando, por joystick, para as manobras de atracação. O acesso à casa de máquinas, por meio de uma escada móvel, é muito bom. Lá embaixo, a temperatura é confortável, apesar de o barco ter acabado de navegar, em virtude do espaço de ventilação ao redor dos motores e do sistema de exaustão, que funcionou perfeitamente bem.
Tudo está no seu devido lugar e muito bem instalado e acessível. O único porém aqui é o difícil acesso às cabeças dos propulsores IPS, o que atrapalha na hora da limpeza da área e da manutenção. A reportagem de NÁUTICA entrou também em uma lancha irmã dessa, mas equipada com motorização MAN 1200, com propulsão por eixo direto, e o espaço era bem pequeno entre os motores, tornando difícil vários acessos técnicos, deixando claro que os Volvo Penta IPS levam vantagem também neste quesito.
Na proa, além do solário bem grande (2,05 m x 1,97 m) com apoio para a cabeça, há um sofá e uma mesa para aperitivos ao sol, ou para um belo café da manhã com vista para o mar. O estaleiro oferece ainda suportes e encaixes para a montagem de uma tenda. Chama atenção a segurança da passagem lateral, que conta em parte com uma murada de fibra e em outra com um guarda-mancebo de quase 1 metro de altura.
Por sua vez, a plataforma de popa é um show à parte. Tem 4,6 m de largura por 2,14 m de comprimento, mas se transforma em uma espécie de praia particular, com 18 m², quando acrescida dos chamados beach clubs, que são aquelas extensões laterais que abrem e fecham por um mecanismo eletrônico. Para o que é bom ficar ainda melhor, ainda há o espaço gourmet, que está equipado com churrasqueira elétrica, pia com água quente e fria e espaço para o preparo de alimentos.
A plataforma tem uma área de 1,04 m submersível, que desce mais de 30 cm, através de um lift hidráulico, permitindo içar um bote ou um jet. Quando a plataforma desce, automaticamente, a bombordo, se abre uma escada de teca, do tipo robô, com corrimão. E ainda há, agora a boreste, um inteligente chuveiro embutido, de armar, para quem acabou de sair da água salgada.
O acesso ao camarote do marinheiro é feito pela popa (há um segundo acesso, de emergência, embaixo do sofá da praça de popa). Com 1,44 m de altura, esse camarote conta com tv, ar-condicionado, frigobar, uma cama de boas dimensões (1,92 x 0,72 m) e um banheiro completo. Há ainda a possibilidade de montagem de uma cama extra, mais apertada.
Como navega
Nossa avaliação foi realizada na região do Guarujá, em São Paulo, em uma navegação de mar aberto até as proximidades do Parcel D. Pedro II, na proa oeste de Santos, sob um dia de sol e mar com ondulações bem formadas, de mais de um metro de altura, e poucos ventos.
A Intermarine 62 estava equipada com o conjunto Volvo Penta IPS 1350, composto por dois motores D13 de 12,8 litros, de 1000 hp cada. Sem acionar o piloto automático, aceleramos para ver como essa lancha — cujo casco combina uma proa com desenho suave e eficiente com um confortável ângulo de 13,8° no V da popa — se comportava nas manobras.
Começamos com 1 800 rpm, um cruzeiro um pouco abaixo do cruzeiro econômico, que fica na faixa de 2 000 rpm, e obtivemos fáceis 19,8 nós. Já com 2 000 rpm registramos, na média das passagens opostas, confortáveis 24,8 nós. O raio de giro não é tão fechado, mas adequado a uma 62 pés.
Nem chegamos aos 2 200 giros e a tela multifuncional Raymarine já mostrava 28 nós, e batia em seguida um cruzeiro estável aos 29 nós. Fizemos curvas mais fechadas, e o barco perdeu menos de 2 nós (1,8 nó para ser exato). O tempo para planeio ficou na casa dos 8 segundos, o que mostra a força do Volvo Penta IPS 1350.
Ágil, com o casco firme e bem assentado, o tempo todo à mão, a Intermarine 62 atingiu 34,1 nós de top na medição final, velocidade de sobra para uma lancha deste porte, que pesa 33 toneladas leve e aproximadamente 39 toneladas carregada.
Quando equipada com Volvo Penta IPS 1 200, uma lancha irmã a esse modelo atingiu 31 nós de máxima, com 26 nós na velocidade de cruzeiro, nas mediações apresentadas pelo estaleiro.
O conjunto foi muito eficiente com essa configuração e a tabela de consumo mostra isso claramente, com autonomia de 220 milhas náuticas e a variação de consumo em litros por milha navegada discreta — mais uma prova dessa eficiência. O projeto ficaria ainda melhor com o acréscimo de 250 a 350 litros na capacidade dos tanques de diesel.
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O suave ângulo de 13,8° na popa deu conforto na navegação durante este teste, mas deixa o barco menos ágil e mais suscetível a desconfortos, quando o mar estiver agitado. Logicamente que com o IPS 1350 (que é uma customização opcional) o consumo será um pouco maior em relação aos IPS 1050 (com motores de 800 hp) ou IPS 1200 (de 900 hp) da motorização de série, além de, opcionalmente, dois MAN de 1200 hp por eixo direto. Porém, dá gosto ver em ação o pulmão do par de motores Volvo Penta D13, de 12,8 litros e 1 000 hp cada, funcionando com a propulsão IPS.
Com a motorização original, a estabilidade provavelmente será a mesma (com ligeira perda no desempenho e nos números de consumo), pois o barco é muito equilibrado, com navegação mais que aprovada, naquela manhã de sol no Guarujá.
Características técnicas
Comprimento total: 19,05 m (62,5 pés)
Comprimento do casco: 15,43 m (50,6 pés)
Boca: 5,05 m
Calado com propulsão: 1,50 m
Borda livre na proa: 2,18 m
Borda livre na popa: 1,55 m
Altura da salão na entrada: 2,11 m
Ângulo do V na popa: 13,8 graus
Combustível: 2750 litros
Água: 730 litros
Capacidade dia: 22 pessoas
Capacidade pernoite: 6 passageiros + 2 tripulantes
Peso com motor: 39 000 kg
Potência: 2 X Volvo IPS 1050/1200 ou MAN 1200 (eixo)
Quem faz
Perto de completar meio século de vida, o estaleiro Intermarine Yachts, localizado em Osasco, São Paulo, tem uma planta completa que é referência em construção de embarcações. Seis minifábricas internas garantem um excepcional nível de qualidade dos itens de marcenaria, tapeçaria, elétrica, hidráulica, mecânica e serralheria.
Em uma piscina especialmente construída são realizados os testes dos sistemas refrigerados à água, além de testes de estanqueidade. Toda essa estrutura permite atender o cliente com o elevado padrão de performance, além de garantir agilidade em peças de reposição.
Para saber mais sobre o modelo, acesse a ficha técnica no site do estaleiro. Clique aqui.
Reportagem: Guilherme Kodja
Edição de texto: Gilberto Ungaretti
Edição de vídeo: TakeBoom Produções
Fotos: Rogério Palatta, Victor Oliveira/TakeBoom e Divulgação Intermarine
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