Novo vídeo (e depoimento) do mestre Aleixo Belov no Alasca. Veja aqui!
Aleixo Belov já tinha chegado ao Alasca, mas faltava conhecê-lo. Sabia que seria uma tarefa difícil, pois a região é muito grande. “O Alasca tem duas áreas distintas: a parte do continente e a das ‘mil ilhas’, criando canais navegáveis entre elas, sujeitos, às vezes, a fortes correntezas de marés”, explica. O primeiro porto foi Seward, situado no fim de um canal de quase 30 milhas de comprimento. “A cidade não era grande e vive da pesca e do turismo. Os visitantes fazem passeios de barco para ver as geleiras, ir pescar os salmões e os imensos halibuts, às vezes de mais de 100 kg, para depois tirar fotos com estes peixes e levar os retratos como lembranças para casa”, descreve o velejador.
A cidade fica nas partes planas ou nas suas imediações, cheias de cafés, restaurantes, hotéis e butiques que atendem aos turistas. As casas de moradores ficam nos arredores ou vão subindo um pouco os morros. “Estas áreas, para qualquer lado que se olhe, estão cercadas de montanhas por todos os lados. As montanhas têm sempre três partes distintas: a parte de baixo, recoberta por uma floresta densa de pinheiros de boa altura, a parte do meio, que é de pedra e quase sem vegetação, e a parte de cima, de pura pedra recoberta de gelo. O frio, às vezes, é feroz, pois finalmente estamos na latitude 60 N”, conta ele.
Depois de quase duas semanas em Seward, onde foram feitas amizades e compras de mantimentos, a tripulação seguiu adiante. Deixaram Seward pelo mesmo canal que vieram e foram para Aialik Bay, onde fica o Glaciar Aialik, na Península de Kenai. “Tínhamos saído cedo e, de tarde, já estávamos chegando lá. Vários barcos tinham levado turistas para ver o gelo que vem escorregando lentamente pelo vale encravado entre duas montanhas e parindo blocos de gelo que, ao encontrar o mar, saem boiando”, conta Aleixo Belov. O glaciar fica no fundo de um fiorde, mas existem milhares e milhares deles por toda parte. “Fomos avançando e, de repente, estávamos navegando por um mar totalmente recoberto por um tapete de gelos flutuantes. Focas dormiam deitadas nestes blocos de gelo como se estivessem em casa, num sofá na frente da lareira. Íamos avançando devagar, empurrando os gelos sem pressa para não amassar o barco ou arrancar a tinta”, narra o aventureiro.
No final da tarde, resolveram navegar novamente, indo para Elfin Cove, que ficava a 430 milhas de mar aberto. Pela previsão, teriam pouco vento e seriam obrigados a ligar o motor para chegar em três dias. “Nosso plano era entrar por Cross Sound e, daí em diante, navegar por 160 milhas de canais, em águas interiores, até chegar a Sitka. Estes canais seriam mais interessantes para poder apreciar a natureza e melhor conhecer o Alaska.” Os livros diziam que estes canais, nas partes mais estreitas, apresentavam correntezas fortes que podiam chegar a 8 nós. Isto obrigaria a tripulação do Fraternidade a parar todas as vezes que a correnteza fosse contra. “Mas, por sorte, estávamos na maré morta. Entramos por Cross Sound e, ao chegar em Elfin Cove, pensamos em parar, mas, como estávamos, para nossa surpresa, avançando bem, continuamos. Levamos direto, ainda mais que não chegava a escurecer totalmente durante a noite, permitindo ver as boias e balizas da sinalização náutica. Foi nossa sorte para adiantar a viagem”, diz Aleixo.
Porém, ao entrar nos canais, era noite e estava tudo nublado, o céu carregado de um cinza pesado, o mar cinza escuro quase preto, as montanhas e as ilhas pareciam negras e envoltas em nuvens e neblina. Um quadro caótico. O cenário era tão feio que passou a ser bonito por ser inusitado e só vinha uma pergunta na cabeça: “Onde eu fui me meter?” ou, então, “O que eu vim fazer aqui?”. “Nem eu sabia o que vim fazer aqui, nem porque vim. Tinha medo, que de repente, a navegada por aqui não desse certo”, conta Aleixo Belov.
Mas, no outro dia, tudo foi clareando, as ilhas foram ficando verdes, com suas florestas majestosas, com muitos barcos a motor trafegando pelos canais. E os rostos a bordo descontraíram. “Quando fomos chegando perto do Sergius Narrow, no canal mais estreito, falamos pelo rádio com varias embarcações que passavam, para saber quando seria a hora da maré parada. Então, ancoramos na Deep Bay ao lado da Big Island, para esperar o tempo correr e só atravessar o estreito no bom momento. Isto foi ótimo para conhecer mais um lugar, ainda mais que o sol já tinha voltado a brilhar. A superfície das águas estava um espelho e a floresta, de um verde intenso”, narra o ucraniano-baiano.
Na hora certa, atravessaram o estreito e ancoraram para descansar e dormir uma noite em Schulze Cove. Esta pequena baía estava tão calma, que refletia toda a floresta nas águas — como se fosse um espelho. “Saltamos para visitar a floresta, sempre com medo dos ursos. Ali, tinha uma casa de madeira onde se podia dormir. Tinha também uma churrasqueira e lenha seca cortada, além de um quadro com instruções e regras para o uso da casa. Não demorou para que os mosquitos percebessem a nossa presença e tivemos que voltar a bordo. Tínhamos invadido o território deles!”
No dia seguinte, o Fraternidade atravessou mais três regiões estreitas e 45 milhas de canais, contornando boias e balizas que indicavam os lugares de pedras rasas para chegar a Sitka. “Era ridículo, mas tinha uma águia sentada em cima do farol, na entrada dos quebra-mares”, diverte-se Aleixo, acrescentando que Sitka foi fundada pelos russos quando eles colonizaram o Alasca. “Os russos se misturaram aos americanos depois que o Alasca foi vendido, praticamente dado, porque na época valia pouco e custava caro mantê-lo. Era apenas uma região de caça de peles de animais marinhos. Hoje, é uma riqueza imensa, petróleo, minérios e principalmente a pesca para exportação. Tem florestas a perder de vista…”
Veja, a seguir, um vídeo que registra Aleixo Belov e sua tripulação a explorar este novo território, inédito em seu vasto currículo, com quatro voltas ao mundo. E não deixe de ler também a reportagem especial sobre esta viagem na edição de julho de NÁUTICA, já nas bancas, no tablets e smartphones!
Crédito fotos/vídeo: Leonardo Papini
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