Teste Victory 310 Ride: SUV dos mares alia passeio e pesca em uma lancha só

Modelo oferece conforto e sofisticação de uma lancha day cruiser, aliada à boa navegação

03/10/2023

O time de comandantes da Victory Yachts não para de gerar novos projetos, prova disso é que a marca levou 3 lançamentos ao São Paulo Boat Show. Das instalações da empresa paranaense são produzidos modelos de lanchas, de console central e cabinadas, não apenas para ir atrás dos peixes — segmento no qual o estaleiro é referência, com quase 20 anos de atividades — , mas também para passeio.

Uma delas é a Victory 310 Ride, lancha cabinada de 31 pés que traz as melhores características de um barco de pesca, mas também tem uma pegada de embarcação de lazer. Duas em uma. Ora passear, ora duelar em alto-mar. O que significa que família e pesca podem fazer parte do mesmo programa, uma proposta pra lá de tentadora.

Feita na plataforma da Victory 305 — uma das lanchas de pesca de maior sucesso da marca — , acrescida de itens típicos de uma day cruiser, a Victory 310 pode ser definida como uma utilitária de luxo. Daí o Ride do nome.

 

Traduzindo: a lancha tem casco navegador, grande autonomia de navegação, muita estabilidade e capacidade de cruzar e enfrentar com segurança ondulações geradas durante uma virada de tempo, por exemplo, só que com o conforto de uma lancha de passeio.

 

 

O conceito é o mesmo que, entre os automóveis, embala as vendas de caminhonetes e SUVs em terreno urbano. Quem compra diz: “Eu me sinto mais alto. Eu me sinto mais seguro em relação ao trânsito. Se bater, estou mais protegido. Se passar em um buraco, é mais difícil de quebrar.”

 

Polivalente, essa 31 pés (9,60 m) oferece uma praça de popa grande o bastante para até seis pescadores ao mesmo tempo, e capacidade geral para 12 passageiros, além de paióis para todas as tralhas, duas caixas de peixes no piso, viveiro na amurada de popa e porta-varas nos dois bordos e na estrutura da capota T-Top.

Elogiável também é a boa quantidade de cunhos, todos retráteis, inclusive à meia-nau, na passagem lateral do convés. Só isso? Não. Com foco nos passeios, a lancha tem um solário duplo na proa, com encosto de cabeça, e uma cabine que permite pernoite de até cinco pessoas. É aí que a família entra no jogo.

A Victory 310 Ride também oferece um maior conforto de condução para o piloto, uma vez que a posição elevada do posto de comando resulta em visão de 360 graus — o alcance do olhar só é prejudicado durante as curvas fechadas, por conta do T-top.

 

 

Para além do visual, chama atenção o padrão classe “A” na construção, com uso de gelcoat de primeira linha e espuma de PVC rígida (Divinycell) inclusive abaixo da linha d’água — na parte de obras vivas, ou seja, o fundo de casco, são 22 milímetros de espessura, o que garante uma grande estabilidade ao casco, além de maior resistência. Casco, convés, longarinas e tetos são laminados por sistema de infusão a vácuo.

Outro diferencial interessante do projeto é o cockpit autoesgotante, com dois drenos com condução de água diretamente pra fora do casco, dispensando o trabalho excessivo das bombas de porão. Sem contar que o casco não afunda (mesmo que colida com uma pedra), porque tem 2 metros cúbicos de espuma de poliuretano injetada dentro, o que representa segurança total nas saídas para o mar.

 

Como o modelo foi concebido tendo como público-alvo o pescador que deseja incluir a família no programa, a Victory 310 Ride vale-se de um truque inteligente para agradar os passageiros durante os passeios: a versatilidade dos sofás de popa.

São dois bancos (quase duplos) com encostos reversíveis, que podem estar voltados ora para o cockpit (facilitando a convivência a bordo) ora para a popa, posição conveniente na hora das pescarias ou dos mergulhos. E ainda há a possibilidade de convertê-los em solários. Quer maior prova da polivalência desta lancha?

 

A Victory 310 Ride também é muita prática. No centro da plataforma de popa há um compartimento que dá acesso ao porão, onde ficam os registros de água salgada e do toalete, as conexões do motor e das bombas de porão, facilitando a verificação e a manutenção.

Já pelas duas laterais distribuem-se caixas que podem ser usadas para guardar um pouco de tudo: âncora reserva, nadadeiras, máscaras de mergulho e tralhas de pesca. Detalhe: nenhum cabo da parte elétrica dos motores fica à mostra ou obstrui a circulação das pessoas pela plataforma de popa. Por sua vez, a escada de acesso e retorno do mar fica embutida e tem apoio para as mãos.


Uma “porta guilhotina” pode ser colocada entre o cockpit e plataforma, impedindo a passagem de crianças pequenas e animais de estimação. Na praça de popa, embaixo dos bancos (um em cada bordo) existem dois paióis que podem ser utilizados para guardar as tralhas, material de limpeza, etc. No centro do cockpit, uma base foi reservada para acomodação de uma mesa.

 

Ao lado dos bancos, nos dois bordos, há porta-copos duplos, além de um chuveirinho (a boreste) de água doce com cinco metros de mangueira, o que significa que a água pode ser levada até a plataforma de popa. A bombordo pode ser instalado um chuveiro de água salgada (item opcional).

Os oito porta-caniços (dois nas amuradas e seis na estrutura do hard-top) são itens de série, assim como as três geleiras, com capacidade total de 200 litros e tampo de madeira cedro maciça — um mimo para agradar a família. Para proteger o cockpit do sol forte e das intempéries, há um sistema de proteção stobag, que no modelo testado era manual, mas que pode ser de acionamento elétrico.

 

O acesso à proa é feito por corredores laterais, com pega-mãos no hard-top. Lá na frente, como não poderia faltar em uma lancha de passeio (como a Victory 310 Ride também), há um grande solário, um dos acessórios mais desejados e valorizados pelos brasileiros.

A gaiuta, bem grande, pode ser fechada com uma tampa acolchoada, que se integra ao solário, que, por sua vez, tem ótimos pega-mãos nas laterais — deu aquela balançadinha, você tem onde se segurar. O guarda-mancebo é alto, e portanto seguro, desde o bico de proa até depois da meia-nau. Além disso, salta para fora do barco, liberando espaço na passagem.

 

No posto de comando, embaixo do painel de instrumentos (que se eleva) há um ótimo porta-luvas, com espaço para guardar todos os objetos pessoais. O piloto dispõe de um banco duplo (a boreste) e o acompanhante, de uma poltrona simples (a bombordo), ambos retráteis. O painel tem uma posição excelente, que impede o ofuscamento da visão do piloto pelos reflexos do sol.

 

Nas botoeiras, a etiquetação está bem clara. Porém, Além disso, as botoeiras do lado direito do piloto poderiam ficar mais bem posicionadas, e não tão atrás do volante. Merecem elogios também a posição do rádio VHF (excelente, muito fácil de operar) e do comando dos flaps. O eletrônico tem uma tela de sete polegadas apenas; caberia uma maior, de nove ou até 12 polegadas.

O extintor está bem colocado, com fácil acesso, próximo ao piloto, assim como a boia circular. Ao lado dos bancos, há quatro porta-copos, todos de aço escovado, mais um mimo para agradar nos passeios. Mas, como nada é perfeito, o tanque de água doce tem capacidade de apenas 100 litros. Para uma lancha que também é de lazer, um tanque com capacidade de 150 litros cairia melhor, como mínimo desejável.

 

A capota T-top, com teto rígido e dois metros de altura, é item de série. Além de sua função natural, de proteção contra o sol e o vento, ela faz as vezes de um verdadeiro rack, em que se pode levar uma prancha de surf, uma prancha de SUP, uma esteira ou até um caiaque pequeno. Opcionalmente, é possível fechar toda a área do posto de comando, protegendo da chuva tanto o piloto como o acompanhante.

O acesso à cabine é feito por uma porta bem dimensionada para o tamanho do barco. Lá dentro, há uma cama em V na proa, reversível em dois sofás com mesa de jantar retrátil no centro. O ambiente é iluminado por uma gaiuta na proa, várias vigias e por luzes de led. O banheiro, com 1,75 metro de altura, tem vaso que pode ser elétrico, chuveirinho, pia, armário de madeira e lixeira.

 

 

Há ainda um camarote aberto à meia-nau com a opção de uma cama de solteiro mais um depósito (versão express) ou apenas uma grande cama (para até três pessoas) ocupando toda a boca do barco, que é de 2,96 m (versão cabin). Ao lado das camas há tomadas USBs. A cozinha (a bombordo) tem micro-ondas, frigobar e fogão (itens opcionais), além de armário, geleira e gaveteiro (itens de série).

Navegação

Mas, se agrada em cheio quando examinada em cada detalhe da construção, será que a Victory 310 Ride mantém a pontuação alta quando está navegando? Fomos conferir, claro, numa saída na Praia dos Maciéis, em Angra dos Reis.

 

A Ride é uma linha de barcos de uso misto da Victory Yachts (bons de pesca e de passeio) construídos quase 100% pelo processo de infusão a vácuo — as únicas partes que não seguem essa técnica são as geleiras e as caixas de peixe, sem função estrutural. Isso resulta em leveza e resistência na medida certa.

Aqui, vale um parênteses: barcos pesados ​​sobrecarregam o motor, porque precisam de mais combustível e potência para navegar, resultando em menos milhas e mais consumo de combustível; por outro lado, cascos muito leves exigem malabarismos do estaleiro para torná-lo equilibrado e podem bater mais na ondulação picada.

 

O conceito do equilíbrio, do governo, é uma parte delicadíssima em qualquer barco. No caso da Victory 310 Ride, por conta do sistema de infusão ter sido pensado desde a planilha inicial, o casco já nasceu superequilibrado. Vazio, pesa entre 2,5 e 2,7 toneladas. Sendo assim, no teste de NÁUTICA, era de se esperar um grande desempenho desse casco. E a Victory 310 Ride correspondeu plenamente ao imaginado.

 

Equipada com dois motores de popa Mercury com comando eletrônico, de 225 hp cada, num dia de poucos ventos, na faixa entre 6 e 7 nós, a lancha mostrou fôlego de sobra. Para se ter uma ideia, planou com 10,5 nós, a 2000 rpm. Além disso, na melhor passagem, a velocidade de cruzeiro superou a casa dos 40 nós, atingindo mais de 44 de máxima.

Então é um barco com uma pegada bem esportiva, com um casco muito navegador, de águas abertas. No teste de aceleração, uma marca surpreendente: a Victory 310 Ride foi da marcha lenta aos 20 nós em menos de 5 segundos!

 

A bordo havia duas pessoas, 90 litros de água e aproximadamente 295 litros de combustível. O tanque, de 570 litros, garante uma autonomia de navegação muito boa, mais de 223 milhas náuticas em cruzeiro econômico, em velozes 36,2 nós.

É impressionante o equilíbrio e a maciez do leme. A gente manobra com muita facilidade, embora — como todo barco com parelha de popa — nas curvas mais fechadas, no final do raio, a direção hidráulica pese bastante.

 

Se você busca um casco de navegação confiável, o barco é este. O modelo testado, repita-se, estava equipado com dois motores de 225 hp, que mostraram potência de sobra. Com dois motores de 150 hp, certamente a Victory 310 Ride andará bem, mas vai faltar “pulmão” quando mais carregada; com um par de 300 hp, ficará absurdamente bem dotada.

Saiba tudo sobre a Victory 310 Ride

Pontos altos

  • Casco cortador de ondas;
  • Bom espaço no cockpit;
  • A qualidade da construção;

Pontos baixos

  • Direção fica pesada em curvas muito fechadas;
  • Botoeira auxiliar no painel fica atrás do volante;
  • Tanque de água tem apenas 100 litros;

Características técnicas

  •  Comprimento: 9,60 m;
  • Boca: 2,96 m;
  • Calado com propulsão: 0,60 m;
  • Peso sem motor: 1.600kg;
  • Motorização de popa: 2 x 150 hp a 2 x 300 hp;
  • Tanque de combustível: 570 litros;
  • Tanque de água: 100 litros;
  • Capacidade (dia): 12 pessoas;
  • Capacidade (noite): 4 pessoas;
  • Altura máxima da cabine: 1,87m;
  • Altura do banheiro: 1,75m.

Consultor técnico: Guilherme Kodja
Edição de texto: Gilberto Ungaretti
Edição de vídeo: Gustavo Ferraz
Fotos: Victor Santos e Divulgação

 

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