Sobrevivente de naufrágio brasileiro na 2ª Guerra relembra episódio em detalhes

Gigarzes Brito completa 100 anos em agosto. No dia do ataque ao navio, ele tinha apenas 18

Por: Nicole Leslie -
29/06/2025
Gigarzes Agostinho de Brito, aos 99 anos, em março de 2025. Foto: Paulo Cortez / Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha / Reprodução

Gigarzes Agostinho de Brito, hoje prestes a completar 100 anos, é um dos últimos sobreviventes do naufrágio do navio-auxiliar Vital de Oliveira, atacado por um submarino alemão durante a Segunda Guerra Mundial. A embarcação afundou na noite de 19 de julho de 1944, no litoral de Macaé (RJ), causando a morte de cerca de 100 tripulantes.

Sobreviver a uma tragédia como essa é, por si só, algo que marca uma vida. Mesmo após oito décadas, o então Primeiro-Tenente Gigarzes guarda com nitidez as memórias daquela noite. Em entrevista concedida à Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha do Brasil em março, à qual a Revista Náutica teve acesso, ele relembrou em detalhes o que viveu — e sobreviveu.

Navio-auxiliar Vital de Oliveira. Foto: Acervo Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha / Reprodução

Na época com apenas 18 anos, Gigarzes trabalhava como eletricista a bordo do Vital de Oliveira. Ele dormia em um alojamento à meia-nau quando foi acordado por um colega para assumir o turno e, minutos depois, ouviu a explosão.

Imaginei que a caldeira tivesse explodido, porque o navio era a vapor– relembra Gigarzes

Depois do susto, Gigarzes conta que correu até o convés e subiu em uma estrutura móvel que logo se aglomerou de vários marinheiros, até que um oficial cortou a corda de sustentação, jogando todos no mar. “Rapidamente tirei a minha roupa e fiquei completamente nu”, lembrou.

Obra “O torpedeamento do Vital de Oliveira”, de Carlos Alfredo Hablitzel. Foto: Acervo Museu Marítimo de Santos / Reprodução

O torpedo atingiu a popa do navio, do mesmo lado onde Gigardez dormia. Ele conta que, em poucos minutos, a proa do Vital de Oliveira apontou para o céu o navio afundou no mar.

 

No escuro da madrugada, o marinheiro nadou por horas e conta ter rezado e pedido à Deus para que não morresse sem antes rever a mãe. Em meio às preces, ele ouviu a voz do colega Eleuso, e vice-versa, então os dois começaram a gritar até se encontrarem, seguindo o caminho da voz. Eleuso estava em um bote improvisado.


Juntos, passaram a noite à deriva até serem resgatados, no dia seguinte, por um navio mercante da Marinha. Antes disso, um navio de patrulha havia passado próximo a eles, mas segundo Gigarzes, não os avistou.

 

Mesmo após o naufrágio, o sobrevivente permaneceu na Marinha até 1963, quando se aposentou como Primeiro-Tenente. Embora tenha entrado na corporação por falta de opções, ele assume ter saído de lá com outra visão.

A Marinha é a minha vida– declarou o sobrevivente, emocionado

Único navio militar brasileiro afundado em combate

Construído em 1910 e incorporado à Marinha em 1931, o Vital de Oliveira era um navio-auxiliar responsável por transportar militares e suprimentos pela costa brasileira. Durante a Segunda Grande Guerra, passou a operar em áreas de risco, sob constante ameaça de submarinos inimigos.

 

Na noite de 19 de julho de 1944, a embarcação foi atingida por um torpedo disparado pelo submarino alemão U-861. Havia cerca de 270 pessoas a bordo, das quais aproximadamente 100 não sobreviveram.

 

O episódio entrou para a história como o único naufrágio de um navio militar brasileiro provocado por ação inimiga durante a Segunda Guerra Mundial.

Destroços localizados 80 anos depois

Em janeiro deste ano, os destroços do Vital de Oliveira foram localizados por uma embarcação homônima, o navio de pesquisa hidroceanográfico Vital de Oliveira, durante uma missão de mapeamento no litoral de Macaé. O resultado veio de uma expedição da Divisão de Arqueologia Subaquática da Marinha.

Navio de pesquisa hidroceanográfico Vital de Oliveira. Foto: Marinha do Brasil / Reprodução

Utilizando equipamentos tecnológicos como ecobatímetro multifeixe e sonar de varredura lateral, foi possível não apenas localizar, mas gerar imagens precisas sobre os destroços do naufrágio. Nas imagens, é possível observar detalhes do casco e da estrutura do navio-auxiliar.

Imagens geradas do naufrágio do navio-auxiliar Vital de Oliveira. Foto: Marinha do Brasil / Reprodução

A Marinha reforça que a identificação e o estudo de sítios arqueológicos como este são importantes para diversas áreas como História, Arqueologia e até mesmo Engenharia Naval. Agora, os próximos passos da pesquisa incluem criar um modelo tridimensional do barco, com base em fotografias capturadas por Veículo Operado Remotamente (ROV).

 

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