Barco de vidro e diamantes é ícone na paisagem de Antuérpia, na Bélgica
Escultura fica a 46 metros de altura e embeleza o segundo maior porto da Europa
Feita de 2 mil painéis triangulares de vidro, a nova sede da Autoridade Portuária de Antuérpia, na região de Flandres, na Bélgica, parece um barco flutuante, e ainda por cima todo cravejado de diamantes.
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Coisa da cabeça, brilhante, da arquiteta britânica, de origem iraniana, Zaha Hadid, que em 2009 (ao vencer um concurso de arquitetura entre cinco candidatos) recebeu a missão de ampliar um imóvel centenário, antigo quartel do corpo de bombeiros, naquele que é o segundo maior porto da Europa. O objetivo era acolher 500 trabalhadores da Autoridade Portuária, que estavam espalhados por diversos escritórios.
Conhecida como a “rainha das curvas” ou “arquiteta futurista”, Zaha decidiu que essa extensão, em primeiro lugar, seria aérea, a fim de preservar o edifício histórico, de 12 mil m². Depois, que teria a forma de um barco, aproveitando o ambiente portuário. Por fim, que seria moldada como a mais apreciada das pedras preciosas, um aceno para a indústria de brilhantes da cidade, conhecida como “capital mundial do diamante”.
O resultado é o que se vê nessas imagens: uma impressionante escultura de vidro, a 46 metros de altura, que, para quem está “a bordo”, oferece visão de 360 graus do porto de Antuérpia, que se estende por mais de 11 quilômetros de cais e recebe anualmente 15 mil navios comerciais e 60 mil barcos fluviais, já que a cidade fica às margens do Rio Scheldt e é ligada ao Mar do Norte pelo estuário Westerschelde.
Inaugurada em setembro de 2016, a estrutura pós-moderna contrasta com o original edifício simétrico de tijolos sobre o qual parece flutuar, mas que na verdade se apoia em dois pilares de concreto (que por sua vez abrigam elevadores e escadas), além de duas colunas em V que pousam com grande precisão no átrio central.
Infelizmente, Zaha Hadid — respeitada como a primeira mulher a ganhar o prêmio Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura — morreu antes de ver sua obra concluída, deixando um legado de construções admiradas em todo o mundo e 36 projetos ainda em desenvolvimento.
Dentre eles estão o Terminal Marítimo de Salerno, na Itália, e o Estádio Al Janoub, em Al Wakrah, no Qatar, cuja cobertura foi inspirada nas velas dos tradicionais barcos Dhow, usados por mergulhadores de pérolas na Baía de Doha. São prédios que mais se parecem com esculturas gigantes, com muitas curvas e visual futurista.
A designer assinou também o protótipo de superiate de 420 pés (128 metros), para o estaleiro alemão Blohmn & Voss. Batizada de Jazz, a embarcação lembra um exoesqueleto, com “ossos” ligando todos os deques.
No porto de Antuérpia, o impacto visual, marca registrada da artista, fica evidente na plasticidade hipnotizante da obra de diamantes. São cerca de 100 metros de comprimento de uma estrutura totalmente coberta por vidro, tanto transparente quanto opaco, com uma transição gradual de placas planas (na extremidade sul) a curvas e onduladas, na face norte. Um verdadeiro show de arte e design.
Durante a fase construção, com todos os olhos voltados para o alto do antigo quartel de bombeiros, os habitantes da cidade se perguntavam: “o que será aquilo?” Alguns, viram um navio. Outros, um grande diamante. “Deixe para a imaginação das pessoas. Seja um diamante, seja um navio, estamos felizes em viver nele”, responde agora Eddy Bruyninckx, CEO da Autoridade Portuária de Antuérpia.
No interior, a Port House é amplamente aberta e projetada para promover um ambiente de trabalho produtivo e saudável. As únicas exceções são as salas de reuniões, um gabinete do presidente da Autoridade Portuária, uma sala panorâmica voltada para o porto no sétimo andar e um auditório do outro lado do mesmo andar, com vistas igualmente panorâmicas da cidade.
Um restaurante, salas de reuniões, um auditório com 90 lugares e muitos espaços abertos completam a New Port House de Antuérpia. O fato de o edifício ser totalmente envidraçado permite não só a entrada de luz natural como cria efeitos de sombras e luz sobre os triângulos facetados, refletindo — em constante mudança — a cor dos céus e os tons do rio, já que está rodeado de água.
O impacto geral na paisagem está longe de ser sutil. Para alguns críticos, o outrora imponente quartel do corpo de bombeiros foi reduzido a um pedestal. Para Joris Pauwels, porém, os dois edifícios são complementares.
Além disso, ao contratar o projeto, a Autoridade Portuária de Antuérpia pretendia exatamente isso: a criação de um ícone; um elemento arquitetônico que se destacasse em uma paisagem urbana industrial e pudesse ser identificado de longe.
Zaha Hadid, que desde o início do projeto foi inflexível quanto à preservação do prédio original, fez o que fazia de melhor: deu asas à imaginação, integrando dois elementos aparentemente antagônicos, um contraste entre o passado e o novo.
Seu “puxadinho” de diamantes é pura poesia, exemplo da mais pura arte arquitetônica. Como homenagem à arquiteta, após sua morte, o conselho da cidade alterou o endereço da Port House, no Cais 63, para Zaha Hadidplein, nº 1.
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