Baía das fumaças

Por: Redação -
30/07/2015

Reykjavík. Esta cidade não figura nem entre as 51 listadas na seção de meteorologia dos grandes jornais nacionais. Para conseguir pronunciá-la, dá até nó na língua. Mas não pense que é um elo perdido ou um lugar no meio do nada. Trata-se da capital da Islândia, que apesar de ser uma ilha e estar localizada na parte mais ao norte do planeta, é o 11º país mais rico do mundo. A Islândia está entre as nações que possuem as menores densidades demográficas, com apenas 278 mil habitantes ocupando 103 mil quilômetros quadrados – ou seja, menos gente do que em muitos bairros brasileiros. Destes, 170 mil pessoas moram em Reykjavík e o resto se espalha pelas pequenas cidades e povoados que formam um cinturão em volta da ilha. No meio, não mora ninguém, nem construíram estradas. Até por que seriam intransitáveis na maior parte do ano, quando a neve encobre toda a superfície.

No verão, vai à Islândia quem quer ver o sol da meia-noite. Em janeiro, chega a outra turma, que prefere assistir à aurora boreal, um fenômeno meio fantasmagórico também conhecido como as luzes do norte – ondas de luzes verdes e roxas tingindo o céu estrelado. Mas o clima é sempre incerto, e a partir de outubro os dias vão  encurtando até quando apenas uma tímida luminosidade consegue penetrar pela densidão das nuvens do rigoroso inverno.

À beira do Atlântico azulado, rodeada por montanhas, Reykjavík é composta por centenas de casinhas multicoloridas, entre as quais despontam algumas torres de igreja. Um charme só! Atrás da Prefeitura, uma das poucas edificações modernas,  o lago Tjörn é um reduto de cisnes e patos que saem da água para vir comer na palma da mão de lindas criancinhas louras. O cenário parece mesmo uma pintura. Nem é preciso alugar carro para se locomover dentro da cidade, ainda mais se estiver hospedado num hotel central, como o tradicional Börg. Andando a pé, mapa na mão, é fácil se achar. Ao mesmo tempo que parece uma vila de interior, com poucas pessoas transitando nas ruas, Reykjavík revela aos poucos porque já foi eleita a capital cultural do continente europeu. Existem inúmeros museus, galerias de arte e teatros. Esculturas estão por toda parte, expressões modernas e clássicas de artistas nativos. Até a famosa cantora islandesa Björk já teve o seu busto esculpido. Praças públicas se transformam em palcos para shows e concertos durante o verão, e os eventos culturais são tantos que ocupam páginas inteiras dos guias turísticos.

Mas a verdade é que diante de tantos atributos,  Reykjavík é um destino cobiçado, e as operadoras que embarcam turistas de todo lugar da Europa estão ousando esticar o período das excursões e otimizando os pacotes. Tanto para antes da alta estação, como maio, e para depois, como setembro e outubro. Há quem esteja fazendo planos para ir passar o Natal e Ano Novo lá. Maluquice? Nem tanto: além dos islandeses festejarem como poucos estas datas, com uma magnífica decoração natalina pela cidade e um arsenal de fogos de artifício para a noite do Réveillon, as agências turísticas locais criam atrativos condizentes com alguns metros de neve. A nível de aventura, é claro. Portanto, quem gosta de um passeio de snowmobile, esse é o lugar apropriado.

Reykjavík, cujo nome significa baía das fumaças, deve seu nome às fontes de água quente que jorram por todo o país.  Além de serem atrativas para o banho, os cidadãos utilizam esta energia geotérmica e não poluente para aquecer e iluminar as suas casas.  Ou seja, estamos falando da capital menos poluída do planeta. E se da água do chuveiro do hotel emanar um odor sulfúreo, não estranhe. Dizem que faz bem à pele. Afinal, o terreno é vulcânico. E ainda hoje, vulcanicamente falando, esta terra é um dos lugares mais ativos do mundo, porque a Islândia é ainda um bebê. Faz pouco mais de 20 milhões de anos que vulcões irromperam ao norte do Atlântico e espalharam a lava que serviria de fundação para a ilha. A população está permanentemente ameaçada por vulcões, que podem entornar a sua caldeira a qualquer momento. Mas os islandeses não só convivem tranquilamente com a situação como são até capazes de ter senso de humor, rotulando por exemplo a erupção do Mount Hekla, em 1991, como “erupção para turistas”.  Na ocasião, não houve maiores danos e quem viu garante que o espetáculo valeu a pena. Crateras pipocam por todos os lados, algumas encobertas pela vegetação rasteira, outras ainda escuras. A paisagem é meio lunar. Por cima, constroem condomínios e imagine que até mesmo um campo de golfe foi incrustado no meio de uma imensa área de proteção ambiental, costeando o mar. Também são gratos pela água quente que jorra da terra. E por que não? Num clima frio, nada mais bem vindo do que piscinas geotérmicas à vontade. Assim como os Vikings que desembarcaram há quase mil anos atrás, os habitantes se banham nas águas sulfúreas com a mesma facilidade que o brasileiro mergulha no mar. A mais reputada é a Lagoa Azul, localizada na península de Reykjanes, a cerca de 32 km da capital e vinte minutos do aeroporto. A água a 38° C, rica em minerais e salina devido à proximidade do mar, é reputada pelos seus efeitos curativos nas doenças de pele e no embelezamento em geral.  O azul do nome da lagoa não foi dado em vão: a cor é de esmeralda com uma luminosidade que estonteia de longe.

A palavra “geysir” (gaiser, em português) foi inventada na ilha e descreve não só as fontes de água quente em geral como todos os jatos de água fervendo. Dirigindo-se em direção sul, a pouco mais de uma hora de Reykjavík, você pode  ver estes fenômenos naturais em plena exibição.  Haukadalur, onde ficam os gaisers, é um dos lugares mais frequentados pelos turistas, que querem ver de perto, mas muito perto mesmo, o célebre Grande Geysir.

Antes de contorcer a língua para aprender a pronunciar nem que seja o básico da polidez, como bom dia ou obrigado, é bom saber que no idioma islandês não existe uma palavra única para um mero  “por favor”. Então, orgulhe-se se conseguir apenas decorar o nome da capital, em si só uma proparoxítona complicada. Mas, caso for convidado para ir comer na casa de algum cidadão islandês, é de bom tom gravar pelo menos uma expressão que revela as praxes mais enraizadas na cultura nórdica – a de ser grato pela comida recebida: takk fyrir mig – obrigado pela refeição.

Deslumbre-se com algumas imagens da bela capital islandesa:

 

A jornalista e fotógrafa carioca Antonella Kann é uma travel expert em viagens que combinam atividades esportivas com quesitos de luxo 

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