De tubarão-guitarra a urso d’água: estudo descobre quase 900 novas espécies marinhas
Com parceria de 400 instituições, pesquisa explorou diversos pontos do globo ao longo de dez expedições em um ano e meio


Que o mundo é gigantesco e ainda há muito o que se descobrir todos já sabemos. Porém, novidades como essas ainda assustam: cientistas descobriram 866 novas espécies marinhas após 16 meses de intensas pesquisas em diferentes pontos do globo.
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Liderado pela iniciativa global “Censo Oceânico”, a pesquisa foi realizada ao longo de dez expedições, em profundidades de 1 a quase 5 mil metros. De acordo com o comunicado da organização, foram encontradas 866 espécies inéditas — algumas delas com nomes exóticos, como coral-leque e tubarão-guitarra.
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O trabalho contou com mais de 800 pesquisadores, mergulhadores, submersíveis e veículos operados remotamente (ROVs), além do apoio de 400 instituições — como museus, universidades e organizações filantrópicas.
Novas espécies marinhas
De acordo com o comunicado, entre as quase 900 novas espécies marinhas registradas, três se destacam. A primeira delas é o tubarão-guitarra (imagem destaque), que tem o formato do corpo bastante parecido com o instrumento musical.
Localizado a uma profundidade de 200 metros, na Costa de Moçambique e da Tanzânia, trata-se apenas do 38º animal da espécie conhecido até agora no mundo — o invertebrado tem dois terços de seus espécimes ameaçados de extinção.


A segunda é um gastrópode marinho, descrita pelos cientistas que a encontraram, entre 200 e 500 metros de profundidade, como uma “turridrupa magnífica”. Semelhante a um caracol, o animal encontrado na Nova Caledônia (território francês que abrange dezenas de ilhas no sul do Pacífico) e em Vanuatu caça usando “arpões” venenosos, que carregam peptídeos.
A espécie é fundamental para os cientistas, principalmente por seus peptídeos. A substância tem potencial no alívio da dor e no tratamento do câncer. Inclusive, um medicamento utilizado para tratar dor crônica foi originalmente desenvolvido a partir de uma família de caracóis relacionada.


A terceira espécie destacada pelos pesquisadores foi encontrada nas Maldivas: um novo octocoral. Existem apenas cinco destes conhecidos, e trata-se do primeiro do gênero registrado na região — número esse que representa a diversidade a ser descoberta. Esse ser é fundamental para a vida marinha, para a estabilidade dos recifes e no ciclo de nutrientes.
Além dos animais destacados, os pesquisadores encontraram novos exemplares de borboleta-marinha, lagosta agachada, camarão-de-capuz, urso d’água, estrelas-do-mar quebradiças e outros animais antes não identificados.
Número de espécies descobertas pode ser ainda mais alto
O processo entre a identificação na natureza e o registro de uma nova espécie pode durar até 13 anos. Há casos em que o animal pode ter sumido do mapa antes de ser reconhecido oficialmente, por estar ameaçado de extinção. Quando se trata da vida marinha, então, a pesquisa é ainda mais difícil.


Dado o tamanho dos ambientes aquáticos e a dificuldade técnica e econômica de realizar maiores expedições, o processo de descoberta de novas espécies marinhas se torna ainda mais demorado.
Isso significa que aproximadamente de 1 a 2 milhões de espécies existentes ainda não foram documentadas- explica Mitsuyuki Unno, porta-voz do projeto
Para mitigar esse problema, as ONGs Nippon Foundation, do Japão, e Nekton, do Reino Unido, lançaram este projeto, que nasceu em abril de 2023. O enorme esforço colaborativo reúne especialistas do mundo inteiro e planeja fazer sete workshops e realizar mais dez novas expedições nos oceanos Pacífico, Índico e Antártico.
Diversos grupos permanecem no limbo por anos porque o processo de descrevê-los formalmente em artigos científicos é muito lento- conta Lucy Woodall, chefe do Censo Oceânico
Segundo Oliver Steeds, diretor do Censo Oceânico, estimativas que sugerem que para descobrir 100 mil novas espécies marinhas (objetivo do estudo) será necessário pelo menos US$ 1 bilhão, aproximadamente R$ 5,6 bilhões (conversão realizada em março de 2025).
Estamos preparando o terreno para tornar a descoberta de espécies em larga escala uma realidade– conclui Oliver Steeds
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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