Caixão com formato de barco? Conheça prática curiosa da cultura Xiaohe

Durante a Idade do Bronze, povo enigmático povoou a Bacia do Tarim, na China, e se destacava pelas práticas funerárias

Por: Nicole Leslie -
19/06/2025
Representação artística da jornada simbólica rumo ao "mundo espelho", segundo as crenças funerárias da cultura Xiaohe. Foto: Anja Schorneck / Revista Asian Archaeology / Reprodução

Um recente estudo publicado na revista Asian Archaeology revelou novidades sobre a cultura Xiaohe, que viveu na Idade do Bronze — entre 3.300 a.C. e 1.200 a.C. O povo se diferencia na história pelas práticas funerárias bastante elaboradas, que resultaram em uma preservação tida como “extraordinária” pela ciência. Entre elas está o uso de um caixão em formato de barco.

A pesquisa foi assinada pelo arqueólogo suíço Gino Caspari. No artigo, ele contextualiza que as populações Xiaohe tinham hábitos de pastoreio, por isso o gado desempenhou um papel central na história deles.

Cemitério de Xiaohe. Foto: Wenying Li, Xinjiang Institute of Cultural Relics and Archaeolog / Reprodução

Essa importância se mostrou presente nos ritos funerários dos Xiaohe, onde peles de gado eram usadas para cobrir caixões em formato de barco e crânios bovinos pintados marcavam as cerimônias dos enterros. Mas outros detalhes também chamam atenção.

Caixão em forma de barco cruzavam mundos

Entre os achados mais fascinantes estão os chamados “barcos funerários”. Os corpos dos Xiaohe eram enterrados em caixões com formato de barcos pequenos, cuidadosamente posicionados de forma vertical.

Ilustração de um típico enterro em barco da cultura Xiaohe, com postes cerimoniais distintos fixados aos caixões. Foto: Anja Schorneck / Revista Asian Archaeology / Reprodução

Cada caixão em formato de barco era envolto em peles de gado e coberto com estacas de madeira pontiagudas — que chegavam a quase dois metros de altura. Para os pesquisadores, a simbologia sugere que os mortos embarcavam em uma jornada espiritual através de um rio ou lago metafórico.

 

A ideia de viagem para a vida após a morte revela uma dimensão cosmológica da cultura Xiaohe, que via a travessia como parte do processo de morte.

Bens funerários escavados no cemitério de Xiaohe. A: escultura de madeira escavada na camada superior de caixão Xiahoe. B: remo colocado em frente a sepultamento masculino. C: poste de madeira colocado em frente a sepultamento feminino. D: sepultamento que ilustra características típicas da cultura. E: vista lateral do cemitério Xiaohe, com marcadores de túmulos e cercas. Foto: Artigo As origens genômicas das múmias da Bacia do Tarim da Idade do Bronze / Nature / Reprodução

O cemitério no coração do deserto

O cemitério desse povo foi descoberto no início dos anos 1900 e, até hoje, cerca de 170 túmulos foram revelados. A região se assemelha a um monte que se espalha por 74 metros de comprimento e 35 de largura, atingindo sete metros de altura.


A combinação do clima árido e da construção meticulosa dos túmulos resultou em uma preservação impressionante dos corpos e dos objetos funerários. Ou seja: os tecidos, ossadas e elementos orgânicos se mantiveram bastante intactos.

Mistérios no deserto da Ásia Central

Apesar dos avanços nas escavações, muitos aspectos da origem e da identidade dos Xiaohe seguem desconhecidos. Os pesquisadores ainda não conseguem definir a genealogia desse povo, que aparenta ter sido relativamente isolado no contexto da Ásia Central pré-histórica.

Mapa dos túmulos escavados no setor sul do sítio Xiaohe; em vermelho, os enterros analisados no novo estudo. Foto: Revista Asian Archaeology / Reprodução

Caspari explica que a cultura Xiaohe representa um raro vislumbre das formas como grupos humanos reagiram às condições ambientais extremas com soluções culturais singulares, o que a torna uma peça única do quebra-cabeça arqueológico.

 

A riqueza simbólica dos túmulos somadas à preservação praticamente incomparável, alimentam debates entre arqueólogos e historiadores. Afinal, não é todo dia que se descobre um povo que transformava a morte em um ritual de travessia celeste, com caixões imitando barcos e bois como “guias”.

 

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