Porto Livre
Se os nossos novos marinheiros não se atualizarem em conhecimento e tecnologia, darão lugar a um tipo de profissional mais bem preparado
Por Ney Broker
Nos últimos anos, estamos vivendo uma constante evolução no mercado náutico brasileiro, em que o conhecimento é fundamental, a tecnologia, inevitável e a atualização, obrigatória. O perfil do comprador de barco também mudou bastante. Tendo como referência meus clientes, a maioria são empresários jovens que programam a compra de uma embarcação para eles mesmos comandarem. Alguns deles veem o marinheiro como simples prestador de serviço, e não mais como um “lobo do mar”, o qual era respeitado, simplesmente, por sua experiência. Bastava alguém comentar na marina que fulano era “safo no mar” para que os donos de barcos contratassem o profissional. Esse tempo acabou.
As embarcações estão cada vez mais modernas, superequipadas e informatizadas. Isso significa que o serviço do marinheiro é cada vez menos “braçal” e mais “cerebral”, o que exige dele conhecimentos técnicos e teóricos. A prática continua sendo importante, claro! Imagine uma situação de visibilidade zero, em que mesmo sabendo operar gps, sonar, radar e outros equipamentos a bordo, o comandante não domine a embarcação? Imagine se ele, mesmo compreendendo o que mostram os aparelhos, não souber entrar numa “barra” com ondas de três a quatro metros de altura, desviando de arrebentações e bancos de areia e pedras? Nestes casos, a falta de prática poderá ser fatal.
Alguns marinheiros experientes que já saíram do mercado náutico devido às baixas ofertas de salários falam que o mercado de marinharia no Brasil está tomando um rumo diferente. Que devemos viver como americanos e europeus, ou seja, a era de “clean boat”, “delivery” e “skipper”. Resumindo: além da marina de guarda, o dono do barco contratará uma empresa para cuidar da limpeza e manutenção da embarcação e, quando for usá-la, já a encontrará pronta, na água (daí o conceito de “clean boat”). Caso o proprietário queira comandá-la sozinho, pagará apenas pelo serviço do delivery. Mas, se ele precisar de marinheiro temporário, para alguns dias ou meses, a empresa enviará o barco com um skipper.
O resumo dessa ópera é que a atividade de marinharia está a exigir mais substância teórica de seus profissionais, embora a prática ainda seja (e sempre será, a meu ver) essencial. Mas cabe perguntar: quem vai financiar esse processo, a fim de que a figura do marinheiro nunca deixe de ser essencial? O dono do barco — que, cada vez mais, se capacita para ser “independente” a bordo — é que deve investir na formação do marinheiro? Ou é o marinheiro — que não ganha tão mal assim… — quem precisa investir nele mesmo e procurar novas oportunidades no mercado?
*Ney Broker é marinheiro há 25 anos e já iniciou vários amigos na profissão, e espera que o futuro traga dias melhores para todos eles
Porto Livre publicado na edição 303 de NÁUTICA.
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