Novo estudo mostra que baleia-azul está acasalando com baleias-comuns mais do que deveria; entenda
Número até então desconhecido de animais com DNA híbrido colocou pesquisadores em alerta
As baleias-azuis são consideradas o maior animal do mundo, podendo chegar aos 34 metros. A caça à espécie fez o número dessas gigantes despencar no início do século 20. Agora, estudiosos parecem ter encontrado um novo problema envolvendo o animal: a diminuição de seu DNA, por consequência do acasalamento excessivo com baleias-comuns.
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Um estudo publicado na revista Conservation Genetics mostra que as baleias-azuis do Oceano Atlântico abrigam um nível de DNA híbrido, até então, desconhecido, e potencialmente alarmante. Isso porque genomas sequenciados demonstraram que baleias-comuns (Balaenoptera physalus) e baleias-azuis (Balaenoptera musculus) têm cruzado mais do que se pensava até então.
Como estudiosos identificaram o problema
Existem três subespécies de baleia-azul ao redor do mundo: B. m. musculus (ao norte dos oceanos Atlântico e Pacífico); B. m. intermedia (no oceano Antártico) e B. m. brevicauda, também conhecida como baleia-azul-pigmeia (encontrada no oceano Índico e no sul do oceano Pacífico). Além dessas três, a B. m. indica, do oceano Índico, pode ser uma outra subespécie.
Para realizar os estudos, pesquisadores analisaram os genomas da B. m. musculus em busca de sinais de endogamia (método de acasalamento que consiste na união entre indivíduos aparentados, que são geneticamente semelhantes), característica que poderia impedir a recuperação do grupo — geneticamente falando.
Os estudiosos criaram, do zero, um genoma para a espécie, juntando o DNA de diferentes indivíduos. A equipe usou esse genoma como modelo para analisar outros, completos ou parciais, de 31 baleias de toda a área do animal.
É um processo longo e trabalhoso, semelhante à montagem de um enorme quebra-cabeça, sem nenhuma imagem na caixa para orientação. Mas, uma vez resolvido o quebra-cabeça, fica muito mais fácil repeti-lo diversas vezes– Mark Engstrom, co-autor do estudo ao Live Science
Com a montagem do “quebra-cabeça”, os pesquisadores conseguiram identificar que cada uma das baleias amostradas tinha algum DNA de baleia-comum em seus genomas. Inclusive, cerca de 3,5% do DNA do grupo veio, em média, de baleias-comuns. A descoberta sugere que os híbridos de baleias são muito mais viáveis reprodutivamente do que se pensava até então.
Qual a problemática por trás da descoberta
Não é novidade para os cientistas que baleias-azuis e baleias-comuns podem se reproduzir, assim criando híbridos das duas espécies. Contudo, imaginava-se que esses híbridos eram inférteis, não podendo gerar descendentes próprios — como a maioria dos outros animais híbridos.
No entanto, um estudo de 2018 revelou que alguns desses animais híbridos poderiam, sim, se reproduzir no acasalamento com baleias-azuis — e parece que é justamente o que está acontecendo.
Com isso, pesquisadores acreditam que as baleias híbridas têm se reproduzido com as baleias-azuis, resultando em descendentes “retrocruzados”, principalmente com DNA de baleia-azul e algum DNA de baleia-comum. Este tipo de transferência de DNA de uma espécie para outra por meio de cruzamento é conhecido como introgressão.
De acordo com Engstrom, alguns estudos semelhantes, mas com as baleias-comuns, não encontraram registros de que a espécie tenha herdado DNA de baleia-azul por meio de introgressão. Contudo, ao que parece, apenas as baleias azuis são capazes — ou estejam dispostas — a reproduzir-se com os animais híbridos.
Não sabemos por que a introgressão parece unidirecional. No entanto, pode ser porque há muito mais baleias-comuns do que baleias-azuis– Mark Engstrom
A boa notícia é que, até o momento, não existem evidências de que o transporte de DNA da baleia-comum tenha impacto negativo sobre as baleias-azuis. O problema mesmo está na continuidade da introgressão que, de acordo com Engstrom, poderá reduzir a quantidade de DNA de baleia-azul em sua população, tornando esses animais menos resilientes à adaptação a novos desafios, como as alterações climáticas.
Outro ponto positivo é que são poucas as evidências de que essa introgressão aconteça em outros lugares do mundo. “Tanto quanto sabemos, este é um fenômeno apenas no Atlântico Norte”, disse Engstrom.
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