Bateu na trave
Na terça-feira dourada da vela olímpica, não pintou nem sequer um bronze para o Brasil. E não foi por falta de aplicação dos nossos atletas — no caso, Robert Scheidt, na Laser, e Jorginho Zarif, na Finn —, que demonstraram muita garra nas águas da Baía de Guanabara, esta tarde. O insucesso de ambos, no sentido de beliscar uma medalha, deveu-se, principalmente, à falta de regularidade ao longo das regatas classificatórias. Dessa forma, os brasileiros chegaram às suas respectivas Medal Races dependendo não só de suas forças, mas, também, de combinações de resultados que envolviam supostos maus desempenhos de seus oponentes — o que não aconteceu.
Robert Scheidt deu show na raia do Pão de Açúcar. Aproveitando bem os ventos na casa dos 10 nós, liderou a prova final durante quase todo o percurso, numa estratégia agressiva, buscando sempre a layline (linha imaginária na extremidade da raia, em que é possível rumar direto para a boia, sem cambar), algo que seu parceiro de vela por 13 anos, Bruno Prada, lhe havia sugerido antes da Medal Race. E funcionou: Scheidt cruzou a linha de chegada com autoridade. Mas isso não foi suficiente em termos de pontuação geral. O neozelandês Sam Meech, seu principal concorrente, controlou o barco de maneira a cumprir uma prova apenas regular, porém vitoriosa. Terminou em quarto lugar e ficou com o bronze na classe. Na classificação geral, Scheidt ficou na quarta colocação, arrancando aplausos emocionados do público que acompanhava tudo da praia.
“Vou começar pelo lado positivo: ganhar a Medal Race, num dia maravilhoso, com essa torcida, com essa energia toda, e sendo minha última regata de Laser numa Olimpíada, é uma coisa muito especial”, falou o multimedalhista olímpico de 43 anos, ao final da Medal Race, após receber um forte abraço e um beijo consolador da mulher, Gintare (que defendeu a Lituânia na Laser Radial, terminando o torneio no sétimo lugar geral). “Por outro lado”, prosseguiu ele, “não cheguei no meu objetivo final, que era a medalha olímpica”. E concluiu: “Eu sabia que tinha uma chance hoje, ainda, mas sabia, também, que era uma chance pequena. Lutei com todas as armas pra chegar nela — quase deu! —, mas acho que o neozelandês teve muito sangue frio de ‘segurar’ a regata dele”.
Scheidt confidenciou aos jornalistas que chegou a “frear” o barco, na tentativa de causar um incidente (“Uma colisão, protesto ou algo assim”, falou), mas, analisando friamente a situação, sabia que, se isso acontecesse, o francês Jean Baptiste Bernard, que estava fora dessa briga mas vinha na sua cola, em segundo lugar, poderia ultrapassá-lo, o que seria ainda pior. “Fiz o que deu pra fazer. Eles foram um pouco mais consistentes que eu durante toda a semana, a realidade é essa”, sentenciou. “Tive uma semana com um pouco de altos e baixos. Não que tenha sido uma semana ruim, mas foi um pouco inconsistente da minha parte, com três regatas que causaram essa defasagem de pontos (Robert Scheidt amargou um 23º, um 26º e um 27º lugares, este último descartado, mas que, na somatória da pontuação, o afastaram do pódio). Acho que isso acabou custando a medalha de bronze.”
Na classificação geral, descontadas as piores pontuações, Robert Scheidt somou 89 pontos contra 85 de Sam Meech. Já o medalhista de prata, o croata Tonci Stipanovic, fez 75 pontos — a propósito, foi a primeira medalha olímpica na vela para a Croácia, que, paradoxalmente, tem larga tradição no esporte. O ouro ficou com o australiano Tom Burton, que marcou 73 pontos.
A Medal Race seguinte foi a da classe Finn, também realizada na raia do Pão de Açúcar, e a tarefa de Jorginho Zarif era pra lá de complicada. O brasileiro, no entanto, fez uma regata, senão brilhante, cheia de garra. Chegou, inclusive, a liderar a prova, mas cruzou a linha final num honroso terceiro lugar — o que lhe rendeu a quarta colocação geral na categoria, com 87 pontos (já descontada sua pior nota), a 11 pontos do terceiro colocado, o americano Caleb Paine (76). O ouro ficou com o britânico Giles Scott. Apontado pela imprensa de seu país como sucessor do multimedalhista Ben Aislie, ele venceu com larga vantagem (36 pontos), enquanto a prata coube ao esloveno Vasilij Zbogar, que marcou 68 pontos.
“A diferença entre ser quarto e terceiro é muito pequena, né? Se olhar a pontuação, antes da Medal Race, minha classe estava muito equilibrada. Dei meu máximo. Nos últimos quatro anos, minha vida foi só vela. Uma pena… Não deu e vamos partir pra próxima!”, desabafou Jorginho, um tanto desolado, após deixar a água. “Se tiver condições, como eu tive nesses últimos quatro anos, de treinamento, com técnico, infraestrutura boa, com material… a gente tem uma boa chance de, quem sabe, dar um próximo passo”, avaliou ele, que, de toda forma, saltou de um 20º lugar em Londres-2012 para bem perto do pódio nesta Rio-2016. “Queria ter ganho uma medalha aqui, mas meu sonho fica para Tóquio-2020.”
Outras duas Medal Races ocuparam as raias da Baía de Guanabara esta tarde. Na Laser Radial, sem a presença de uma atleta brasileira, deu Holanda em primeiro lugar, com Marit Bouwmeester, Irlanda em segundo, com Annalise Murphy, e Dinamarca em terceiro, com Anne-Marie Rindom. Um detalhe é que a holandesa comemorou dando um mergulho na Baía de Guanabara, o que surpreendeu a todos, dada a polêmica em torno da qualidade da água — o que foi, inclusive, frequentemente comentado pelos velejadores que participam da Rio-2016.
Já a Nacra 17, que fez sua estreia olímpica nos Jogos do Rio, terminou com vitória da dupla argentina, formada por Cecilia Carranza e Santiago Lange. A medalha de prata ficou com os australianos Lisa Darmanin e Jason Waterhouse, enquanto os austríacos Tanja Frank e Thomas Zajac faturaram o bronze — sem chances de medalha, os brasileiros Samuel Albrecht e Isabel Swan terminaram a prova em oitavo lugar. Velejador mais velho desta Olimpíada, Lange, de 54 anos, fez tratamento contra um câncer de pulmão durante o ciclo olímpico. E, não bastasse ter chegado ao lugar mais alto do pódio na classe, coroando sua luta dentro e fora da água, pretende figurar entre os velejadores que irão a Tóquio-2020.
Foto: Divulgação
Assine a revista NÁUTICA: www.shoppingwww.nautica.com.br
Náutica Responde
Faça uma pergunta para a Náutica
Relacionadas
Com novidades nas bancas, churrasqueiras, mesas da marca, produtos foram exibidos na Bahia Marina
Grupo Vittacar levou produtos da canadense BRP ao salão náutico, incluindo veículos off-road da Can-Am
Representante da Agroquímica São Gabriel apontou ainda que é essencial estar no mercado nordestino
Divisão Industrial e Marítimo, centro autorizado da marca no Nordeste, participa do salão até domingo (10)
Revenda da marca japonesa exibe "embarcação campeã" e motores de potências variadas no evento, que acontece até dia 10