Conheça a história da ponte Hercílio Luz, imponente na paisagem de Florianópolis
Motivo de orgulho dos catarinenses, a ponte centenária começou a ser erguida ainda em 1922
A ponte Hercílio Luz, cartão-postal de Florianópolis, só celebrará seu centenário daqui três anos, pois foi inaugurada oficialmente em 13 de maio de 1926, quando seu idealizador, o governador de Santa Catarina, Hercílio Luz, já havia falecido — daí o nome. Mas as comemorações começaram em novembro de 2022, quando completou-se 100 anos que a Velha Senhora, como também é conhecida, começou a ser erguida.
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Foi nesse mês, em 1922, que o primeiro trabalhador fez seu primeiro gesto para a construção do primeiro pilar submerso, de um conjunto que sustentaria duas torres de 74 metros de altura e um leito carroçável de madeira com 821 metros de extensão, gerando um vão suspenso de 339,5 metros, que até hoje dá passagem a embarcações de até 30 metros de altura.
Motivo de orgulho dos catarinenses, a estrutura (considerada a maior ponte pênsil do Brasil) foi erguida, como se sabe, para ligar a até então isolada ilha de Santa Catarina ao continente — o acesso à ilha, até aquele momento, dependia de um precário sistema de balsas.
Inicialmente, por conta das comemorações do primeiro centenário da emancipação do Brasil, deveria se chamar Ponte da Independência. Mas aí o governador catarinense faleceu durante a fase de construção e seu nome acabou sendo consagrado.
Além de unir a ilha ao continente, a estrutura passou a dividir as baías Norte e Sul, que banham toda a costa oeste da ilha de Santa Catarina e hoje são palco de inúmeras competições a vela. Tem bastante vento e lugares abrigados para jogar âncora.
Até hoje o projeto é considerado ousado. Em estilo Art Déco, é a única ponte pênsil do mundo que usa o apoio de barras de olhal (abertura ou vão de um arco que atravessa de lado a lado uma ponte ou arcada). Ao todo, foram aplicadas 360 barras de olhal, de 13 metros de comprimento cada, para sustentação da estrutura. O visual que proporcionam é um espetáculo. Lembram elos de uma corrente de bicicleta.
O projeto inicial previa o uso de vigas treliçadas, mas essa ideia teve de ser descartada devido a dificuldades de financiamento. Entrou em ação, então, o projeto da ponte pênsil, de autoria dos engenheiros americanos David Steinman e Duncan Robinson. A construção ficou a cargo da American Bridge Company, que trouxe dos Estados Unidos todo o material empregado na construção.
Sua singularidade deve-se ao sistema estrutural projetado por Steinman & Robinson, que, para viabilizar o projeto economicamente, substituíram os habituais cabos de suspensão por cadeias de barras biarticuladas — as tais barras de olhais. Atualmente a Hercílio Luz é a única ponte no mundo com este sistema estrutural.
Porém, sem qualquer manutenção nas primeiras décadas da sua existência e com uma manutenção precária a partir dos anos 1950, o cartão-postal de Florianópolis começou a dar sinais de deterioração. No fim de 1967, um alerta veio dos Estados Unidos com a tragédia da Silver Bridge, uma ponte de desenho e concepção estrutural similar à catarinense.
Sobre o rio Ohio, a Silver Bridge colapsou no horário de pico do dia 15 de dezembro de 1967, causando 46 mortes. Como a Hercílio Luz também tinha sido construída pela American Bridge Company, o acidente levantou uma desconfiança sobre a ponte de Floripa.
Mas o governo do Estado não deu muita bola. Em vez disso, em 1969, optou por trocar o barulhento piso de madeira por asfalto, muito mais pesado, o que comprometeu ainda mais a segurança da estrutura.
Até que, em 1981, uma perícia realizada pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) verificou que as barras de olhal estavam deterioradas, com uma trinca de cinco centímetros de abertura em uma das barras, e recomendou a interdição da ponte ao tráfego, o que foi feito em janeiro de 1982.
Felizmente, nessa época, já havia uma via alternativa, por conta da abertura, em 1975, da ponte Colombo Salles. (Em 1991, veio outra: a ponte Pedro Ivo Campos, que tem o vão central de aço). Mas, durante um período de 49 anos, a Hercílio Luz foi a única ligação entre Ilha e Continente.
Em 1988, a ligação do continente com a ilha até foi liberada para o tráfego de pedestres, bicicletas, motocicletas e veículos de tração animal. Mas em julho de 1991, o risco de colapso exigiu a interdição. Em 1992, a ponte foi tombada como Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico de Florianópolis. Em seguida, declarada Patrimônio Nacional.
Apesar disso, os anos de abandono se estenderam até 2005, quando finalmente o governo catarinense anunciou que iria restaurar o seu mais ilustre cartão-postal.
As obras foram iniciadas em fevereiro de 2006, com previsão de térmico em agosto de 2008. Mas a entrega foi sendo adiada, adiada… até o finzinho de 2019, quando — após quase três décadas servindo apenas como cenário para fotos —, a bela ponte recuperou seu antigo brilho.
No dia 30 de dezembro de 2019, com uma festa marcada pela presença de mais de 200 mil pessoas, a Velha Senhora retomou seu papel de ligar Ilha de Santa Catarina ao continente. Desde então, a estrutura continua imponente na paisagem do Centro de Florianópolis — principalmente à noite, quando rouba a cena, toda iluminada.
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