Dono de lancha Again fala sobre o polêmico acidente em Guarujá
O engenheiro civil Aquiles Rosa tem 55 anos e vive em Jundiaí, a cerca de 60 km de São Paulo, onde constrói galpões para locação. É casado e pai de três filhos. Nos fins de semana, costuma ir até a Marina Supmar, no Guarujá, onde pega sua Ferretti 48 (transformada em uma 53 pés, após uma reforma que alongou a popa do barco em 1,30 m), batizada de Again, para acelerar fundo rumo a localidades na região, onde passa o dia ao lado de familiares e amigos. Embora a embarcação seja equipada com uma cabine, ele prefere pernoitar em terra, já que tem um apartamento também no Guarujá.
Às vezes, Aquiles dá uma esticada até Ilhabela, a 60 milhas de distância, visitando também Indaiá e As Ilhas, no litoral norte paulista. O que não é difícil, uma vez que esta offshore navega a uma velocidade de cruzeiro de 50 milhas por hora (43,5 nós), podendo vencer facilmente percursos mais longos. Isso, graças à tripla motorização, que entrega um total de 2 700 cv de potência. Em uma das reformas que fez no barco, que foi fabricado em 1999 e está em poder de Aquiles desde 2005, além de pintá-lo de laranja com detalhes em cinza e preto (a cor original era branco, com uma faixa roxa no costado), e fazer outras modificações estruturais, o engenheiro mudou também o nome da embarcação, que se chamava Thayada, para Again. Porque, com a reforma, dizia estar fazendo tudo novamente, a partir do zero.
No fim da tarde de 28 de fevereiro, terça de Carnaval, o engenheiro voltava de um dia de lazer na Enseada do Guarujá. Navegava com a Again, que pesa 19 toneladas, exatamente na velocidade de cruzeiro, segundo o relato que concedeu hoje à NÁUTICA. Foi quando, perto da Ilha das Palmas, afirma ter perdido a direção do barco (o próprio Aquiles pilotava a lancha), que, então, abalroou outra embarcação, uma lancha de recreio cabinada de nome Dika Brothers. Aquiles diz que, na hora, parou ao ouvir um grito (da ocupante do barco abalroado que gravava o vídeo). “Eu parei, voltei e eles fugiram de mim. Não sei o porquê. Talvez estivessem assustados”, prossegue.
Diz também que são mentirosas as acusações de que, costumeiramente, pilota sua lancha de maneira perigosa, fazendo manobras imprudentes e colocando em risco a vida dele e de outros navegadores. “Falam isso porque o meu barco é o mais bonito da região. É uma obra de arte! Incomoda, sabe?”. Aquiles Rosa afirma, ainda, estar com a consciência tranquila em relação a tudo o que aconteceu e foi registrado em um vídeo feito pela ocupante do Dika Brothers — que gravava, na verdade, o pôr-do-sol. “Tudo aconteceu após o estouro de um flexível do flape de bombordo, o que fez com que a offshore navegasse a boreste, ocasionando o choque”, afirma. As causas, circunstâncias e responsabilidades são objeto de um inquérito administrativo instaurado pela Capitania dos Portos de São Paulo.
O QUE ACONTECEU ANTES DO ACIDENTE?
“Eu estava com um convidado, um senhor de 68 anos. Minha cachorra e meu marinheiro também estavam a bordo. Nós passamos o dia na enseada e estávamos voltando, à tarde. Antes de chegarmos no Clube de Pesca de Santos, tinham muitos barcos voltando e a água estava mexida, tinha muita marola… Minha velocidade de cruzeiro é 50 milhas, por ser um barco offshore. Eu vinha flapeado, justamente para manter esse controle do barco e fazer uma navegação mais tranquila. Quando eu cruzei por detrás desse barco (a lancha Dika Brothers, que seria abalroada), eu estava muito longe dele. Isso dá para notar no vídeo. Mas, quando eu ultrapassei a marola de outro barco, perdi a direção. Na minha cabeça, na hora, pensei ‘estourou a mangueira’ (da direção). Eu torcia o timão para a esquerda e o barco não me obedecia.”
O QUE OCORREU APÓS O CHOQUE?
“Eu fui atrás deles. Atraquei meu barco no Porto Marina Astúrias e tinha uma mulher me xingando de tudo quanto é nome. Eu falei (para o comandante do outro barco): ‘Senhor, está tudo bem? Eu ouvi um grito. Eu machuquei alguém?’. Ele me disse que tinha um filho paraplégico e eu dei graças a Deus por não ter machucado ninguém. Disse a ele, então, que meu marinheiro o procuraria (para arcar com os prejuízos decorrentes do choque), e ele disse que tudo bem. Só a mulher que não parava de gritar e me xingar. Então, eu disse a ela: ‘A senhora acha que eu gastei R$ 200 mil para pintar meu barco e vou sair riscando meu barco por aí?’. Expliquei que eu não tinha motivo para fazer aquilo, que eu perdi a direção. Nós não tínhamos discutido nem nada.”
QUAL FOI A CAUSA DA COLISÃO?
“Chamei um mecânico, tiraram o barco da água, e estourou um flexível do meu flape de bombordo. (Na hora do acidente) O flape subiu, deixou de exercer força e o flape de boreste continuou flapeado, me jogando a boreste de uma vez. Por isso que eu tentava corrigir com o volante e não conseguia de jeito nenhum! Houve pessoas que falaram: ‘Se tivesse tirado a mão (do manete, teria impedido a colisão). Isso é imperícia’. Se eu tivesse tirado a mão, tinha subido em cima deles (ocupantes do Dika Brothers). Seu eu tivesse desacelerado, perderia a tração do barco, porque meus hélices (dos motores) são de superfície, não são do tipo pé-de-galinha.”
HAVIA CONSUMIDO BEBIDA ALCOÓLICA?
“Olha, eu gosto de tomar uma cerveja, hein? Mas estou há três meses sem beber. Recentemente tive uma luxação de quadril. Estou sofrendo muito com isso. Tomo um medicamento pesado para tentar regenerar a cartilagem e não sentir tantas dores, mas está difícil. Todos os retornos de passeio quem faz é meu marinheiro, sempre — eu vou e ele volta. Como eu não tinha consumido nenhum tipo de bebida alcoólica, eu estava no comando na ida e na volta.”
O QUE PRETENDE FAZER AGORA?
“Fiquei muito chateado com essa repercussão toda, até porque o estrago que aconteceu foi insignificante. Apenas triscou um barco no outro. No meu barco eu preciso só passar uma cera para tirar o risco que foi feito. Já no outro, foi feito um risco também, de mais ou menos um palmo, abaixo do verdugo. O estirante do guarda-mancebo já estava solto, não estragou com a colisão. Estou tirando print de todas as pessoas que estão me ofendendo na internet e nas redes sociais. Já fiz um boletim de ocorrência e vou processá-los por calúnia, porque ninguém me conhece nem sabe o quanto eu trabalho. Já fiz cinco simpósios sobre segurança no mar, na Marina da Glória. Sou mestre amador e só não sou capitão porque não tenho veleiro. Não tenho necessidade. Já socorri muita gente no mar, já reboquei muitos barcos… Não quero livrar minha culpa. Mas, para mim, o que aconteceu foi como um motoqueiro que passou e arrancou o retrovisor do meu carro. Por que toda essa repercussão?”
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