Naufrágio de 1941 é encontrado por mergulhadores em Salvador

Embarcação Belmonte está a 40 metros de profundidade em frente à ilha de Itaparica, na saída da Baía de Todos os Santos

15/01/2025
Foto: Instagram @robertocostapinto / Reprodução

Um pedaço da história foi encontrado nas profundezas das águas de Salvador, na Bahia. Trata-se do naufrágio do Belmonte, uma embarcação de 36,9 metros fabricada na Alemanha em 1914, que naufragou na Baía de Todos-os-Santos em 1941, após uma forte colisão com um cargueiro chamado Norma.

De acordo com László Mocsári, mergulhador, médico e autor, que descreveu o achado ao Naufrágios do Brasil, o Belmonte atuava na navegação de cabotagem (transporte de cargas entre portos) desde, pelo menos, 1920.

Uma das âncoras encontradas nos destroços do naufrágio do Belmonte. Foto: Instagram @robertocostapinto / Reprodução

Transportava, além de passageiros e malas postais, até 180 toneladas de açúcar, madeira, óleo e cargas diversas– explicou Mocsári

Mocsári explica ainda que o Belmonte era muito utilizado para levar café e cacau até barcos a vapor maiores, que tinham o exterior como destino, mas não podiam atracar em portos pequenos, como os de Belmonte e Ilhéus, ambos no sul da Bahia.

Grande quantidade de garrafas foram encontradas. Foto: Instagram @robertocostapinto / Reprodução

Seu afundamento aconteceu há mais de 80 anos, mais precisamente, na madrugada de 18 de dezembro de 1941, quando navegava rumo a pequenos portos carregado de bebidas e remédios. Já na saída da Baía de Todos-os-Santos, em frente à Ilha de Itaparica, a embarcação de 90 toneladas colidiu com o navio Norma, de 400 toneladas.

 

 

O Norma saiu ileso da situação, enquanto o Belmonte não resistiu ao enorme rombo que se abriu no seu casco diante do choque. Na ocasião, dez tripulantes e nove passageiros foram resgatados pelo Norma e levados a Salvador.


Embarcação era procurada desde 2018

O processo de encontro do Belmonte, concretizado neste ano pelos mergulhadores László Mocsári, Peter Tofte, Marcelo Rosário, José Manoel Lusquinhos, Roberto Costa Pinto e Fagner Rodrigues, teve início ainda em 2018.

László Mocsári. Foto: Instagram @robertocostapinto / Reprodução

Naquele ano, junto com mais três colegas mergulhadores, Mocsári conseguiu negociar o ponto do naufrágio com pescadores, que o haviam descoberto em 2010, enquanto perseguiam um peixe cioba (Lutjanus analis).

 

Em uma primeira visita ao local, um dos pescadores apresentou aos mergulhadores alguns artefatos encontrados por ali. Entre eles, estavam uma garrafa de Fratelli Vita (fábrica de refrigerantes de Salvador fundada em 1902), outra de Elixir Galenogal (vendido até hoje na região) e o principal: um dos telégrafos do navio, que tinha gravado o nome “Belmonte Bahia” — uma primeira pista de que se tratava, de fato, do naufrágio do Belmonte.

Motor do Belmonte. Foto: Instagram @robertocostapinto / Reprodução

Na ocasião, os mergulhadores fizeram os primeiros registros da embarcação, disponíveis no vídeo a seguir.

 

 

A partir do telégrafo, os mergulhadores começaram a levantar dados sobre o navio. Uma das fontes de pesquisa foi o livro Naufrágios e Afundamentos na Costa Brasileira, de José Góes de Araújo, em que constataram que um navio de mesmo nome havia naufragado em 1941. A garrafa de Fratelli Vita, outra pista, levantou a hipótese do navio ter sido abastecido com o suprimento em Salvador.

Motor do compressor de ar. Foto: Instagram @robertocostapinto / Reprodução

A confirmação final veio quando Mocsári entrou em contato com Maurício Carvalho, biólogo, mergulhador e pesquisador de naufrágios. Através de um trabalho minucioso de pesquisas em jornais da época, Carvalho encontrou outros pontos em comum que confirmavam: tratava-se do naufrágio do Belmonte.

Motor do Belmonte. Foto: Instagram @robertocostapinto / Reprodução

Conforme explica Mocsári, a projeção mais proeminente dos destroçoes é o motor a diesel da embarcação, de três cilindros.

A impressão é que o casco abriu no sentido longitundial, tombando lateralmente– conta

Foram encontradas ainda quatro âncoras: uma na popa, uma ao lado do motor e duas na proa. Para Moacir, isso sugere que elas não foram lançadas ao mar no momento do naufrágio. Completam a lista dois guinchos — ambos encontrados na proa — e muitas garrafas, à meia-nau, além de um outro telégrafo.

 

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