Iceberg do tamanho de Chicago escondia ecossistema nunca explorado na Antártica

Região fica a 1.300 metros de profundidade e pode ter mais de cem anos de vida marinha, diz estudo

05/04/2025
Grande esponja e um aglomerado de anêmonas. Foto: Alex Ingle/ Schmidt Ocean Institute/ Divulgação

Em janeiro deste ano, um iceberg do tamanho da cidade de Chicago, nos Estados Unidos, se desprendeu da plataforma de gelo George VI, a segunda maior da Península Antártica. Contudo, o que os cientistas não esperavam, era que “escondido” debaixo dessa enorme camada existia um novo ecossistema antártico nunca explorado — e que pode ter centenas de anos.

A descoberta do novo ecossistema da Antártica foi realizada pelos cientistas da Schmidt Ocean Institute, que estavam trabalhando no Mar de Bellingshausen. Imediatamente, eles mudaram seus planos iniciais e fizeram o que seria o primeiro estudo detalhado de uma área tão grande, antes coberta por gelo.

O navio de pesquisa Falkor, no Mar de Bellingshausen, na Antártica. Foto: Alex Ingle/ Schmidt Ocean Institute/ Divulgação

Por lá, os pesquisadores ficaram oito dias estudando o lugar e encontraram de tudo: vida próspera, criaturas marinhas típicas e um ecossistema diversificado. Essas características são incomuns em regiões de mar profundo, como a área estudada, que chega a 1.300 metros de profundidade.

Com ajuda a de veículos operados remotamente (ROV), a equipe encontrou sistemas florescentes, grandes corais e esponjas que sustentam uma variedade de vida animal, como os peixes-gelo, aranhas-do-mar gigantes e polvos. Inclusive, os especialistas ficaram impressionados com o tamanho de algumas criaturas encontradas.

Com base no tamanho dos animais, as comunidades que observamos estão lá há décadas, talvez até centenas de anos– Dra. Patricia Esquete, cientista co-chefe da expedição

Cientista examina um ofiuroide no microscópio, dentro do laboratório úmido do navio de pesquisa Folker. Foto: Alex Ingle/ Schmidt Ocean Institute/ Divulgação

Não só Patricia, mas todos os pesquisadores envolvidos na exploração do novo ecossistema na Antártica ficaram surpresos com a biomassa e biodiversidade significativa do local. Além disso, eles ainda suspeitam ter descoberto várias novas espécies.

Não esperávamos encontrar um ecossistema tão bonito e próspero– Dra. Patricia Esquete

Como isso pode ter acontecido?

Normalmente, os ecossistemas de águas profundas dependem de nutrientes da superfície, que lentamente “chovem” para o fundo do mar. Porém, este novo encontrado da Antártica ficou coberto por um gelo de 150 metros de espessura durante séculos, completamente isolado de alimentos.

Água-viva fantasma gigante encontrada no novo ecossistema na Antártica. Foto: ROV SuBastian/ Schmidt Ocean Institute/ Divulgação

Neste caso, o gelo que se desprendeu do iceberg A-84 tinha aproximadamente 510 km quilômetros quadrados, com uma área equivalente de fundo do mar. Sendo assim, como esse ecossistema sobrevive a tantos anos?

 

Cientistas cogitam que as correntes oceânicas podem transportar da superfície os nutrientes necessários para o local. Assim, a vida na região tão profunda do mar teria sido sustentada por séculos, mesmo abaixo da camada de gelo. Entretanto, esse mecanismo ainda não é compreendido.

Polvo repousa no fundo do mar a 1.150 metros de profundidade, no Mar de Bellingshausen. Foto: Foto: ROV SuBastian/ Schmidt Ocean Institute/ Divulgação

O estudo, além de revelar um novo ecossistema marinho na Antártica, fez com que a equipe reunisse dados sobre o comportamento passado da camada de gelo da região — justamente quando o local está sofrendo sérios impactos com o derretimento das geleiras.

 

Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida

 

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