Sobrevivente de naufrágio brasileiro na 2ª Guerra relembra episódio em detalhes
Gigarzes Brito completa 100 anos em agosto. No dia do ataque ao navio, ele tinha apenas 18


Gigarzes Agostinho de Brito, hoje prestes a completar 100 anos, é um dos últimos sobreviventes do naufrágio do navio-auxiliar Vital de Oliveira, atacado por um submarino alemão durante a Segunda Guerra Mundial. A embarcação afundou na noite de 19 de julho de 1944, no litoral de Macaé (RJ), causando a morte de cerca de 100 tripulantes.
Barco a vapor histórico naufragado há mais de 150 anos reaparece no mar de Búzios
Destroços de naufrágio de 132 anos são encontrados
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Sobreviver a uma tragédia como essa é, por si só, algo que marca uma vida. Mesmo após oito décadas, o então Primeiro-Tenente Gigarzes guarda com nitidez as memórias daquela noite. Em entrevista concedida à Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha do Brasil em março, à qual a Revista Náutica teve acesso, ele relembrou em detalhes o que viveu — e sobreviveu.


Na época com apenas 18 anos, Gigarzes trabalhava como eletricista a bordo do Vital de Oliveira. Ele dormia em um alojamento à meia-nau quando foi acordado por um colega para assumir o turno e, minutos depois, ouviu a explosão.
Imaginei que a caldeira tivesse explodido, porque o navio era a vapor– relembra Gigarzes
Depois do susto, Gigarzes conta que correu até o convés e subiu em uma estrutura móvel que logo se aglomerou de vários marinheiros, até que um oficial cortou a corda de sustentação, jogando todos no mar. “Rapidamente tirei a minha roupa e fiquei completamente nu”, lembrou.


O torpedo atingiu a popa do navio, do mesmo lado onde Gigardez dormia. Ele conta que, em poucos minutos, a proa do Vital de Oliveira apontou para o céu o navio afundou no mar.
No escuro da madrugada, o marinheiro nadou por horas e conta ter rezado e pedido à Deus para que não morresse sem antes rever a mãe. Em meio às preces, ele ouviu a voz do colega Eleuso, e vice-versa, então os dois começaram a gritar até se encontrarem, seguindo o caminho da voz. Eleuso estava em um bote improvisado.
Juntos, passaram a noite à deriva até serem resgatados, no dia seguinte, por um navio mercante da Marinha. Antes disso, um navio de patrulha havia passado próximo a eles, mas segundo Gigarzes, não os avistou.
Mesmo após o naufrágio, o sobrevivente permaneceu na Marinha até 1963, quando se aposentou como Primeiro-Tenente. Embora tenha entrado na corporação por falta de opções, ele assume ter saído de lá com outra visão.
A Marinha é a minha vida– declarou o sobrevivente, emocionado
Único navio militar brasileiro afundado em combate
Construído em 1910 e incorporado à Marinha em 1931, o Vital de Oliveira era um navio-auxiliar responsável por transportar militares e suprimentos pela costa brasileira. Durante a Segunda Grande Guerra, passou a operar em áreas de risco, sob constante ameaça de submarinos inimigos.
Na noite de 19 de julho de 1944, a embarcação foi atingida por um torpedo disparado pelo submarino alemão U-861. Havia cerca de 270 pessoas a bordo, das quais aproximadamente 100 não sobreviveram.
O episódio entrou para a história como o único naufrágio de um navio militar brasileiro provocado por ação inimiga durante a Segunda Guerra Mundial.
Destroços localizados 80 anos depois
Em janeiro deste ano, os destroços do Vital de Oliveira foram localizados por uma embarcação homônima, o navio de pesquisa hidroceanográfico Vital de Oliveira, durante uma missão de mapeamento no litoral de Macaé. O resultado veio de uma expedição da Divisão de Arqueologia Subaquática da Marinha.


Utilizando equipamentos tecnológicos como ecobatímetro multifeixe e sonar de varredura lateral, foi possível não apenas localizar, mas gerar imagens precisas sobre os destroços do naufrágio. Nas imagens, é possível observar detalhes do casco e da estrutura do navio-auxiliar.


A Marinha reforça que a identificação e o estudo de sítios arqueológicos como este são importantes para diversas áreas como História, Arqueologia e até mesmo Engenharia Naval. Agora, os próximos passos da pesquisa incluem criar um modelo tridimensional do barco, com base em fotografias capturadas por Veículo Operado Remotamente (ROV).
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