Brasil reivindica ilha submersa no Atlântico rica em minerais e do tamanho da Espanha

A mais de 1.000 km da costa do RS, região abriga elementos como cobalto, manganês, níquel e telúrio

14/07/2025
ROV (veículo não tripulado) registra imagens do Rifte Cruzeiro do Sul, um cânion que corta a Elevação do Rio Grande. Foto: Luigi Jovane/ Reprodução

Uma ilha submersa do tamanho da Espanha pode se tornar parte do território brasileiro. O Brasil solicitou à Organização das Nações Unidas (ONU) o reconhecimento da Elevação do Rio Grande — que contém “terras raras” e minérios cobiçados no mundo todo — como parte de sua plataforma continental.

Localizada a 5 mil metros de profundidade no Oceano Atlântico, a cerca de 1,2 mil km da costa do Rio Grande do Sul, a área que pode um dia ter sido parte do território que hoje forma o Brasil tem 500 mil km², segundo estudos da Universidade de São Paulo (USP).

Elevação do Rio Grande. Foto: USP/ YouTube/ Reprodução

A análise ainda apontou que a região abriga elementos essenciais para a transição energética, como cobalto, manganês, níquel e telúrio. O local ainda tem basalto (rocha vulcânica), camadas de argila vermelha — provas de que já foi uma ilha vulcânica tropical — e as chamadas “terras raras”.

 

Esse “status” se dá pela dificuldade em separar sua forma pura dos minerais onde se acumulam. Entre os 17 elementos químicos desse grupo, estão inclusos o ítrio, escândio e os lantanídeos.

 

De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil tem a segunda maior reserva de “terras raras” do mundo, apenas atrás da China. Entretanto, o país não domina plenamente a tecnologia para extrair esses minerais — logo, os exporta, em boa parte, como commodities brutas, sem agregar valor.

Um  pedacinho do Brasil

Depois de duas expedições à ilha submersa — uma liderada pelo Instituto Oceanográfico (IO) da USP e outra com um navio britânico — , foi possível colher evidências de que o solo dessa área é idêntico ao do interior de São Paulo, com terra vermelha.

Elevação do Rio Grande. Foto: USP/ YouTube/ Reprodução

Além disso, a Elevação do Rio Grande tem picos que ultrapassam 4 mil metros de altura — mais alto que o Pico da Montanha, a mais elevada do Brasil, que tem menos de 3 mil metros. O topo dessa ilha submersa está situado entre 700 e 2 mil metros abaixo do nível do mar.

 

Forte em riqueza natural, a região reúne montes submarinos, platôs, cânions, canais e um gigantesco rift (grande fenda tectônica) chamado oficialmente de Rifte Cruzeiro Sul.

ROV (veículo não tripulado) registra imagens do Rifte Cruzeiro do Sul, um cânion que corta a Elevação do Rio Grande. Foto: Luigi Jovane/ Reprodução

Análises de zircões (um tipo de mineral) trouxeram mais evidências de que a Elevação Rio Grande é um fragmento da crosta continental, o que fortalece o pedido brasileiro à ONU. As rochas pertencentes datam entre 540 milhões e 2 bilhões de anos — bem anteriores à separação entre América do Sul e a África.

 

De acordo com os estudos, a ilha submersa, na verdade, já foi emersa, sendo considerado uma ilha tropical no meio do Atlântico. As pesquisam também indicam que a área era recoberta de florestas e rodeadas de recifes. Porém, com o tempo, a formação foi sendo naturalmente erodida por diversos fenômenos.

A ilha submersa fará parte do Brasil?

A luta para que a Elevação do Rio Grande faça parte do território brasileiro é antiga. O Brasil reivindica soberania sobre a área desde 2018, quando apresentou o pedido à Comissão de Limites da ONU (CLPC). Em 2025, a solicitação foi reforçada com novos estudos geológicos e geofísicos.

Elevação do Rio Grande. Foto: LEPLAC-DHN/ Marinha do Brasil/ Reprodução

Como informa a Marinha do Brasil, a ilha submersa fica numa região conhecida como Margem Oriental-Meridional, sendo uma das três áreas que são reivindicadas pelo governo brasileiro em águas internacionais: Região Sul e Margem Equatorial são as outras duas.

A Margem Oriental-Meriodional tem 1,5 milhão de km², localizada mais ao Sul. Contudo, assim como as outras duas áreas, está fora da Zona Econômica Exclusiva do Brasil (ZEE), que define como pertencente ao governo brasileiro o território marítimo que abrange uma faixa de 200 milhas náuticas (cerca de 370 km) a partir do litoral. Fora disso, é considerado patrimônio da humanidade.

 

Atualmente, pesquisadores da USP e de outras universidades buscam estudar questões como legislação internacional, impactos ambientais, biologia, geologia e outros aspectos da ilha submersa. Sendo assim, resta ao Brasil apenas esperar a definição da ONU. Não há prazo para resposta.

Mais responsabilidade ambiental

O reconhecimento do território teria grande importância para o Brasil em inúmeros sentidos. Os minérios encontrados nas “terras raras” têm várias utilidades na indústria, como na produção de televisores de tela plana, tela de smartphones, lâmpadas LED, equipamentos de raio-X e tomografia e mísseis teleguiados.

Cobalto, um dos materiais encontrados na ilha submersa. Foto: Wikimedia Commons/ Creative Commons/ Reprodução

Além disso, os materiais também possuem aplicação em energia limpa, como em turbinas eólicas e ímãs de motores elétricos. Mas vale ressaltar que as consequências da exploração do local e os efeitos sobre a fauna ainda são incertas, segundo os pesquisadores.

 

Para o professor Luigi Jovane, especialista em geofísica marinha e paleomagnetismo que coordena as pesquisas sobre a Elevação do Rio Grande, o reconhecimento tem apelo estratégico e científico.

É muito importante para o desenvolvimento do Brasil e para ampliar estudos nessa região, que é estratégica, mas ainda muito desconhecida– afirmou Jovane ao UOL

Caso reconhecido, o Brasil ampliará a área de influência e terá total responsabilidade global sobre a conservação e o monitoramento ambiental do Atlântico Sul.

 

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