Marinha e especialistas se unem para combater coral invasor na Baía de Todos-os-Santos
Avistado há cerca de um ano, ser vivo pode "expulsar" espécies nativas e comprometer ecossistema


Para conter uma ameaça que pode impactar diretamente a vida marinha da Baía de Todos-os-Santos, a Marinha do Brasil — em parceria com pescadores, universidades e órgãos públicos — está na luta contra um coral invasor, o octocoral Chromonephthea braziliensis.
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Avistados na região pela primeira vez há cerca de um ano, o coral invasor pode ganhar território pela sua capacidade reprodutiva. Com rápida proliferação e resistente a predadores nativos — como os peixes — , ele ameaça espécies locais e impacta os modos de subsistência da comunidade local.


Embora não tenha sido encontrada em praias da capital baiana, o octocoral já foi avistado por pescadores na Ilha de Itaparica, localizada na Baía de-Todos-os-Santos. Desde então, militares da Marinha, a Capitania dos Portos da Bahia (CPBA) e parceiros têm fornecido apoio e orientação contra a invasão.
Caracterizado por sua estrutura de esqueleto macio e flexível e possuir tons avermelhados ou brancos, o octoral Chromonephthea braziliensis também é conhecido como “coral mole”. Originário do Indo-Pacífico, a espécie foi registrada inicialmente nos anos 1990, no munícipio de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro.


A curto prazo, o coral “disputa” espaço com as espécies nativas, como o baba-de-boi, coral-de-fogo e coral-casca-de-jaca. Além disso, este ser vivo libera metabólitos que causam necrose em octocorais e dificultam a predação do ecossistema.
Já no longo prazo, o invasor pode causar a perda da biodiversidade marinha e comprometer a estrutura ecológica do ecossistema de recifes e serviços ecossistêmicos — como a manutenção de habitats pesqueiros e proteção costeira. Logo, essa questão é uma necessidade ambiental e econômica.
Todos contra o coral invasor
Além de proteger a Baía de Todos-os-Santos, a ação em conjunto também procura evitar que o coral invasor seja encontrado em Salvador, onde fica o Parque Natural Municipal Marinho da Barra. O local é uma área de proteção integral e um dos maiores destinos turísticos da Bahia.


Porém, no momento, a remoção está concentrada na segunda maior baía navegável do mundo. E, por lá, a operação enfrenta desafios, como a complexidade de remover as colônias sem estimular a reprodução. No entanto, a detecção precoce da espécie é vista como um ponto fundamental no processo.
As estratégias de longo prazo incluem maior controle de embarcações que chegam à região e ações educativas de conscientização sobre as espécies invasoras. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente (Sema), a operação acontecerá até fevereiro.


Além do suporte da Marinha e da CPBA, a operação tem o apoio da Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (COPPA), universidades federais da Bahia e Alagoas, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Senai/ Cimatec e da organização socioambiental Pró-Mar.
A luta é longa
Tatiane Aguiar, bióloga da Universidade Federal da Bahia (UFBA), contou que três substâncias químicas foram utilizadas: sal azedo, água doce e vinagre. Ela também explicou o método físico, que se dá por meio da remoção manual da espécie com uma espátula.


O objetivo foi avaliar a eficácia dos métodos aplicados no manejo e controle do coral invasor, que chegou de região distantes (Oceano Índico) e está afetando a área de Itaparica– Tatiane Aguiar
De acordo com a oceanógrafa Alice Reis, da Sema, as espécies invasoras empurram as nativas para fora do ambiente que ocupam. E, quando se trata dos corais, o espaço é crucial por servirem como base para outras formas de vida e comprometer “a complexa teia de relações do ecossistema”.


Mesmo que os efeitos possam variar em intensidade, sabemos que ela compete com as nativas e altera a estrutura dos recifes de coral, que são fundamentais para proteger a zona costeira– Alice Reis
Alice ainda destacou que a espécie invasora já está estabelecida no Rio de Janeiro e que, por conta disso, é possível realizar um comparativo para entender os possíveis impactos deste coral na Baía de Todos-os-Santos.
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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