Como criaturas das profundezas do oceano sobrevivem sem sol?

Novo estudo descobriu comunidades prósperas a 9.500 metros de profundidade, onde não chega luz solar

20/08/2025
Vermes tubulares (siboglinídeos frenulados) vivendo junto com os pepinos-do-mar (Elpidia hanseni). Foto: Xiaotong Peng, Mengran Du et al./ Nature/ Reprodução

No fundo do mar não chega luz solar e um mistério que já intrigou muitos cientistas é: de onde criaturas das profundezas do oceano conseguem tirar energia? A resposta veio recentemente: pesquisadores descobriram ecossistemas completos que, em vez de fotossíntese, fazem quimiossíntese, alimentando-se de energia química.

A descoberta, realizada por pesquisadores do Instituto de Ciência e Engenharia do Mar Profundo da Academia Chinesa de Ciências por meio do submersível Fendouzhe — capaz de explorar profundidades maiores de 10 km por várias horas seguidas — , foi publicada na revista científica Nature, em 30 de julho.

Cotton Field, a uma profundidade de 9.332 metros, com muitos poliquetas brancos (M. grandicirra) que vivem entre os grupos de vermes tubulares (siboglinídeos frenulados). Foto: Xiaotong Peng, Mengran Du et al./ Nature/ Reprodução

No fundo das fossas oceânicas Curilas Kamchatka e Aleutas, no noroeste do Oceano Pacífico, foram localizadas comunidades prósperas repletas de vermes tubulares, moluscos e criaturas brancas espinhosas. Isso tudo a 9.500 metros de profundidade — o local mais fundo onde já foi encontrada formas de vida que se utilizam da quimiossíntese.

Em Blue Marsh e Icy River, foram encontrados vermes tubulares finos e grossos misturados. Foto: Xiaotong Peng, Mengran Du et al./ Nature/ Reprodução

A equipe de pesquisa explorou e descobriu que essas criaturas estão espalhadas nas profundezas do oceano numa área de 2.500 km de comprimento.

 

Segundo o estudo, a chave para a sobrevivência desses seres são os vazamentos frios — que funcionam como nascentes do fundo do mar responsáveis por liberarem fluidos ricos em metano e sulfeto de hidrogênio.

Em Clam Bed, a 5.743 metros de profundidade, há muitos moluscos bivalves grandes (até 23 cm) que servem de abrigo para anêmonas-do-mar. Foto: Xiaotong Peng, Mengran Du et al./ Nature/ Reprodução

As análises mostraram que o metano é produzido por micróbios em camadas de sedimentos profundas. Esses micróbios, por sua vez, se alimentam da matéria orgânica que desceu da superfície.

 

Logo, os cientistas envolvidos na pesquisa sugerem que essa forma de vida pode ser mais disseminada em outras fossas oceânicas do que se pensava anteriormente, de acordo com uma declaração divulgada pela editora da revista Springer Nature.

É emocionante — especialmente para um cientista de águas profundas — ir a um lugar que os seres humanos ainda não exploraram– disse Xiaotong Peng , um dos principais autores do estudo, à BBC

Não há dúvidas

Há muito tempo os pesquisadores propõem que as criaturas das profundezas do oceano se alimentam de reações químicas dependentes de sulfeto de hidrogênio e metano, produzidas no fundo do mar. Assim, o estudo quebra um paradigma: elas não dependem apenas da comida que cai da superfície.

Uma grande quantidade de moluscos bivalves chamados I. fossajaponicum (com até 3 cm) foram encontrados junto com vermes tubulares (Anobothrus sp.) em uma área de sedimentos pretos a 6.928 metros de profundidade. Foto: Xiaotong Peng, Mengran Du et al./ Nature/ Reprodução

Até então, essas espécies raramente eram documentadas, de acordo com o estudo. Em pesquisas futuras, eles esperam descobrir como os corpos dessas criaturas quimiossintéticas convertem esses produtos químicos em energia.


Além disso, o metano encontrado nessas profundezas pode ser uma forma importante de armazenar carbono. O que também chama atenção da comunidade científica é como essas criaturas sobrevivem em condições extremas, suportando enormes quantidades de pressão na escuridão total.

 

De acordo com o estudo, as fossas oceânicas não são um deserto de vida. Pelo contrário: é uma região muito ativa geologicamente, responsável por abrigar vários sítios com atividade vulcânica e sísmica. Por mais hostil que seja o ambiente, as criaturas estão prosperando em grandes profundidades.

 

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