A volta de um clássico: casal Ramiro e Giorgina deu vida nova à primeira unidade do veleiro Fast 500

Joia rara da vela nacional, embarcação dá impressão de nova, mesmo após 36 anos e quase ter sucumbido

05/10/2023
Foto: Aline Bassi / Balaio / Divulgação

Apaixonado por veleiros em geral e por modelos da Fast Yachts em particular, o casal Ramiro Eli e Giorgina Karolyi Eli mal acreditou quando encontrou um celebrado Fast 500 ano 1986 em estado de quase abandono nas águas de Cabedelo, na Paraíba.

Ainda mais quando soube que a unidade em questão era nada mais nada menos que a número 1 fabricada pelo memorável estaleiro, que caiu nas graças dos velejadores brasileiros, nos anos 1980, construindo barcos tão bons que mesmo hoje, muito tempo depois de deixarem de ser produzidos, continuam sendo objetos de desejo entre os amantes da vela.

Foto: Cesar Caldas / Divulgação

Eu e o Ramiro nos conhecemos velejando ainda na infância, quando nossos pais tinham veleiros. Casamos e continuamos dividindo essa paixão. Foi quando descobrimos o Força Maior, abandonado havia 17 anos em uma poita na Paraíba. – conta Giorgina

Era a primeira unidade do veleiro de 50 pés construído pelo estaleiro, em 1986, espécie de joia rara da vela nacional. Mal a primeira unidade do Fast 500 ficou pronta, os velejadores alvoroçaram-se. Era o maior veleiro oceânico de construção em série já feito no Brasil. E não era apenas o seu tamanho que chamava a atenção.

 

 

 

Ele trazia equipamentos sofisticados a bordo, coisa até então rara por aqui. Imagine só: 37 anos atrás, este veleiro já saía de fábrica com micro-ondas, freezer, som completo, gerador, navegador por satélite, vhf e um pré-gps, chamado Navsat. Para navegar, ele trazia três comandos diferentes de leme e velejava macio.

 

Apesar do grande comprimento, três pessoas conseguiam conduzi-lo com tranquilidade, já que havia catracas elétricas, por exemplo. Foi desenhado por um dos maiores projetistas do mundo, o argentino German Frers, que também fez os famosos Swan, considerados os Rolls Royces do mundo da vela.

Por coincidência, o Força Maior morava na imaginação de Ramiro desde que a revista Esportes Náutica (que daria origem à NÁUTICA) publicou uma reportagem sobre ele, no mesmo ano. “Eu gostava tanto desse veleiro que, quando era adolescente, tinha um poster do Força Maior na porta de um armário do meu quarto”, garante Ramiro.

Então, por uma daquelas coisas inexplicáveis da vida, lá estava ele, o nosso sonho unindo mais uma vez a nossa história. Não tivemos dúvida de que era hora de embarcar e mergulhar de cabeça nesse sonho. – conta Ramiro

Coincidência é pouco. O casal estava à procura de um veleiro para comprar, na região entre Ubatuba e Paraty, quando ficou sabendo da existência do Força Maior. “Foi por meio de uma conversa ocasional com seu próprio dono, o senhor Carlos, de quem fomos ver um outro veleiro, de casco de aço, em Paraty”, recorda Giorgina.

Foto: Aline Bassi / Balaio / Divulgação

Durante a conversa, surgiu a informação sobre o Fast 500, que estava fora de combate em uma poita na Paraíba. A notícia soou como música (das boas) para o ouvido do casal. Ainda mais quando souberam que se tratava do próprio Força Maior dos sonhos de Ramiro. “Eu não podia perder a oportunidade de comprá-lo”, lembra o velejador.

 

Os dois não perderam tempo: assim que a agenda permitiu, voaram para a Paraíba, atrás da preciosidade, mesmo sem o barco estar à venda. Encontraram o veleiro detonado, já quase a ponto de virar sucata, num canto da Marina Jacaré. Dava tristeza. Mesmo assim, fecharam negócio, determinados a promover a ressurreição do Força Maior.

 

“Sabíamos que ele precisaria de uma ampla reforma, para voltar a ser o belíssimo barco que foi em outros tempos e nos nossos sonhos. E decidimos encarar essa missão”, explica Ramiro, que sempre gostou de construção naval e, por um tempo, trabalhou com survey de barcos de grande porte, sua outra paixão.

“Fizemos a compra oficial, no papel, no dia 21 de janeiro de 2020”, lembra Giorgina. A princípio, o antigo dono não queria vender. Dizia apenas que, se algum dia fosse abrir mão do barco, seria para ela e o Ramiro. Mas acabou vendendo, pois houve uma empatia muito grande entre o trio.

 

Imediatamente, colocando eles próprios a mão na massa, os dois iniciaram uma meticulosa restauração do velho Fast 500, que teve Nelson de Sampaio Bastos (proprietário da Fast Yacht) como primeiro dono.

Em plena pandemia, passamos a voar de São Paulo para a Paraíba a cada 15 dias, quando as regras de isolamento social permitiam. E fomos fazendo tudo, passo a passo, atualizando os itens principais e de segurança, junto com um pessoal especializado em marcenaria. – lembra a velejadora

Nesse processo, da marcenaria à vela, passando pelo motor (que estava fora de combate), tudo foi pacientemente revisado e restaurado. Passaram pela reforma o estaiamento (completamente trocado), o motor, o leme e seu sistema, a parte elétrica (totalmente reinstalada) e até os tanques de diesel.

Nove meses depois, já com o Força Maior em condições seguras para navegar, com toda a parte de marcenaria concluída, o casal embarcou no velho veleiro rumo a São Paulo, onde a reforma seria concluída.

 

A viagem entre Cabedelo e Ubatuba demorou oito dias e foi feita quase toda a vela, com poucas horas de motor. “Chegamos a atingir singradura de 212 milhas náuticas nessa travessia, mesmo com o barco em condições precárias e o fundo sujo”, diz Giorgina, sem esconder uma ponta de orgulho.

 

A segunda fase da reforma, que envolvia o “recheio” do barco e, na fase final, a pintura do casco, foi feita no Iate Clube de Santos, no Guarujá. “Três vezes por semana, descíamos para lá, para acompanhar a obra e colocar a mão na massa”, afirma Ramiro, que mora em São Paulo.

O veleiro teve todo o seu interior desmontado, com cada item avaliado. Nesse processo, duas anteparas foram trocadas, por estarem comprometidas; e todas as ferragens foram removidas e revisadas, dos trilhos ao mastro.

 

“Preservamos o layout da distribuição interna como original, com pouquíssimas alterações, apenas o necessário para melhorar conforto da família”, ressalta Georgina, que ao lado de Ramiro e dos filhos, Martin, de 7 anos, e Nicolas, de 5, pretende morar a bordo do Força Maior num futuro próximo.

 

Mas o trabalho mais relevante mesmo foi a nova pintura, idêntica à original. E que deixou o veleiro com 36 anos de uso novo, de novo, como se tivesse acabado de sair do estaleiro. “Além de ser a cor original do barco, era com esse vermelho que o Força Maior morava na imaginação de Ramiro”, conta a velejadora.

Foto: Aline Bassi / Balaio / Divulgação

Antes de voltar para o mar, o barco ganhou ainda uma capota com extensão lateral, que permite cobrir tanto o posto de comando quanto a praça de popa, e um balão vermelho, combinando com o casco. E foi assim, impecável como barco de colecionador, que a unidade número 1 do Fast 500 voltou para a água no dia 15 de janeiro de 2022.


“De lá para cá, navegamos pouco ainda, menos de 1.000 milhas”, explica a comandante do barco, que avalia o resultado do árduo trabalho de restauração em apenas duas palavras: “melhor impossível”.

 

Ficou mesmo uma beleza, reluzente, como nos velhos tempos. Sem exageros, é um sério candidato ao posto de barco a vela mais bonito do Brasil.

 

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