Conheça o barco “tipicamente amazônico” em que Lula ficará hospedado durante a COP30
IANA 3 traz características comuns de embarcações que navegam pelos rios amazônicos. Franco Netto, especialista no assunto, deu detalhes


A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) tem movimentado a rede hoteleira de Belém, no Pará, onde ocorre oficialmente de 10 a 21 de novembro. Nessa corrida por uma hospedagem no emblemático encontro, muitos optaram pelos barcos, como é o caso do presidente Lula. Ele ficará hospedado numa espécie de barco-hotel tipicamente amazônico, o IANA 3.
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Em outubro, o presidente já havia expressado a vontade de se estabelecer em uma embarcação durante o evento. “Eu vou querer dormir no barco […] porque eu não quero luxo”, disse.


Sendo assim, embora um barco da Marinha tenha sido cogitado para a hospedagem, Lula e sua equipe passarão os dias de COP30 a bordo do IANA 3, da Icotur Transporte e Turismo. Segundo o Palácio do Planalto, o presidente e sua comitiva se instalaram no barco já nesta segunda-feira (3), para compromissos que antecedem o encontro na capital paraense.
Franco Netto, consultor no segmento de embarcações de lazer e serviço, com 35 anos de atuação no mercado e participação na fundação e operação de estaleiros na região amazônica, deu à NÁUTICA detalhes dessa embarcação.
Um barco tipicamente amazônico
Basta olhar para o IANA 3 para ser transportado para os rios amazônicos. Isso porque embarcações como essa são bastante comuns na região, uma vez que constituem o principal meio de transporte e de turismo de quem mora por ali, seja entre os “ônibus fluviais”, os barcos-hotel (como o caso da IANA) ou as lanchas.


Para se ter uma ideia, o estado de Manaus praticamente não se conecta ao resto do Brasil por rodovias. As únicas duas disponíveis — BR-319, que liga Manaus a Porto Velho (RO); e BR-174, que liga o estado a Boa Vista (RR) — são extremamente precárias e desafiadoras, com históricos de falta de pavimentação e manutenção. Logo, barcos como o IANA 3 possuem grande autonomia e muitas acomodações.
Nessa região, ter um barco é mais importante do que ter um carro– ressaltou Franco
Para o especialista, o barco tem entre 40 e 45 metros, com vários níveis. Abaixo do deck principal, ficam as vigias — pequenas janelas próximas à linha d’água. No deck principal, há janelas quadradas maiores, que iluminam a área de convivência, onde estão, por exemplo, cozinha e sala de televisão.
Acima, o barco conta com dois andares de camarotes, cada um com uma porta e duas janelas por cabine. No deck superior, à proa, está o posto de comando, instalado em um ponto elevado para facilitar a navegação — que, na maioria das vezes, ocorre de forma contínua, inclusive à noite.
A navegação por lá é contínua. São grandes percursos e eles normalmente não param de navegar à noite– explicou o especialista
Para garantir visibilidade noturna, então, o barco é equipado com dois holofotes. Segundo Franco, essas embarcações costumam dispensar equipamentos eletrônicos, já que os comandantes confiam mais no conhecimento dos rios e da topografia da região.
Eles usam o básico. É cultural– detalhou
Apesar disso, existe uma clara atenção dada à comunicação, visível pelos dois domos e antenas parabólicas — essas, convencionais, mesmo — instalados no topo. Os domos servem para conexão via satélite, internet e televisão. Destaca-se ainda a estrutura de ar-condicionado, geralmente composta por aparelhos splits residenciais.


Ainda sobre a estrutura do barco, há na proa uma sacada que permite ao comandante acompanhar as manobras de atracação. Logo atrás, fica o posto de comando propriamente dito, seguido pela suíte do comandante. A tripulação, por sua vez, ocupa a parte inferior da embarcação.
O olhar do especialista aponta para uma embarcação equipada com dois motores, com propulsão por linha de eixo — um sistema muito comum na região, já que lá há problemas de calado, uma vez que os bancos de areia se movimentam constantemente, deixando a profundidade da água bastante variável em alguns pontos.
Não à toa, o barco conta com um sistema de semitúnel, uma característica do formato do fundo da embarcação que ajuda a reduzir o calado e facilitar a navegação em áreas rasas. Falando em navegação, aliás, Franco destaca o casco do tipo deslocante, o que indica uma velocidade máxima entre 15 e 16 nós.
Além dos dois motores, segundo o especialista, a IANA 3 possui dois geradores principais e um gerador auxiliar, que garantem energia suficiente para todas as operações. O IANA 3 pode acomodar até 40 hóspedes à noite — chegando a mais de 70 passageiros durante o dia, conforme detalhou Franco.
Manaus abriga uma das maiores frotas de embarcações acima de 90 pés
Enquanto muitos olhares estão voltados às embarcações produzidas, principalmente, no Sul do país, Franco chama atenção para um fato curioso: “a maior frotilha de embarcações de lazer acima de 90 pés está em Manaus”.
É impressionante a quantidade de embarcações desse tamanho– comentou


Combinando elementos da arquitetura residencial com técnicas navais, os barcos que navegam pela região são produzidos por lá mesmo, a partir de técnicas simples e pouca tecnologia embarcada, mas com muita história.
Nenhum barco é igual ao outro. São projetos personalizados, feitos sob medida. A essência da construção se mantém, mudando apenas o tamanho– explicou Franco
O IANA 3 ficará atracado na Base Naval de Val-de-Cans. Em nota, a assessoria de Lula detalhou que “a embarcação atende às especificações necessárias para receber o presidente e sua equipe, operando como um hotel”.
A presidência buscou soluções que fossem adequadas para receber o presidente, cumprindo a legislação vigente, o que inclui segurança, preço e conforto– destacou o comunicado
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