Conheça Gribshunden, o “castelo flutuante” que pertencia a um rei da Dinamarca
Navio naufragou no final do século 15, interrompendo o plano mais importante do monarca


Certo dia, Brendan Foley, arqueólogo marinho e pesquisador da Universidade de Lund, na Suécia, encontrou uma caneca presa sob um emaranhado de pedaços de madeira, a cerca de 9 metros da superfície fria e turva do Mar Báltico.
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Enquanto o analisava, ele notou que o objeto liberava bolhas de gás, que poderiam ser resultado de algum processo químico — envolvendo resquícios de cerveja ou hidromel, por exemplo — iniciado há mais de 500 anos.


Mas essa seria apenas a primeira pista de que Foley estava muito perto de um verdadeiro tesouro submerso. Aqueles pedaços de madeira eram, na verdade, destroços do Gribshunden, navio pessoal do Rei Hans, que governou a Dinamarca e a Noruega entre 1455 e 1513.
De acordo com registros da época, essa histórica embarcação, apelidada de “castelo flutuante”, afundou por volta de 1495, enquanto estava ancorada — o monarca não estava presente. Acredita-se, ainda, que a causa do naufrágio foi uma explosão de pólvora.
A caneca deve ter sido derrubada, por um dos tripulantes, no momento em que o navio explodiu. Poder tocar algo assim é como uma conexão direta com essas pessoas– Brendan Foley
Um naufrágio real
Mais de 500 anos atrás, uma caneca como aquela não era vista em qualquer lugar, muito menos com cerveja ou hidromel. Logo, o pesquisador desconfiou que aquele navio pertencia a uma família bem rica, que tinha acesso a produtos que, no século 15, muitos não tinham. Ele não poderia estar mais certo.


Pouco antes da explosão, o Rei Hans embarcaria no Gribshunden e navegaria rumo a uma reunião política em Kalmar, na Suécia. A intenção era finalmente tirar do papel o plano de unificar os países sob sua coroa — o que nunca aconteceu.
Hans usou esse [navio] como uma fortaleza militar, mas também como centro administrativo, centro cultural e base para políticas econômicas– Brendan Foley
Semelhante aos barcos grandiosos e fortemente armados que Vasco da Gama usou para chegar à Índia e que Cristóvão Colombo usou para chegar às Américas, o Gribshunden representa a primeira geração de navios de artilharia naval. Essas “fortalezas” foram fundamentais para as longas viagens de exploração e colonização capitaneadas pelos europeus.
Naufrágios são como chamadas telefônicas, carregadas de informações– Foley
Um museu debaixo d’água
Um achado assim, é claro, não decepcionaria os especialistas no quesito artefatos históricos. Entre os principais até o momento, destacam-se itens que provavelmente eram usados pelos soldados a bordo, como bestas de madeira intactas e armas de fogo que, inclusive, marcam o início da transição para armamentos com funcionamento a base de pólvora.


No “castelo flutuante”, também foram encontrados uma bolsa de moedas de prata, que reflete o enfraquecimento da troca de produtos e serviços (escambo), e temperos como cravo, pimenta-do-reino, pedaços de gengibre e pedaços de açafrão, que teriam sido importados da Indonésia especialmente para dar sabor aos banquetes da realeza.
Encontramos coisas nesse navio que não têm precedentes arqueológicos. Tudo sobre ele é fascinante– Foley
Ah, e a caneca mencionada lá no início mostrou-se ainda mais singular. Feita de madeira de amieiro, ela tem uma coroa esculpida perto da base e, segundo os envolvidos na pesquisa, seu design é diferente de qualquer outra feita na época.


É importante pontuar que o Gribshunden já havia sido encontrado, no início dos anos 1970, por mergulhadores locais. No entanto, a embarcação não recebeu a devida atenção até 2018, com os trabalhos liderados por Foley.
Até o momento, aliás, no máximo 2% do navio foram explorados. Porém, de acordo com o arqueólogo, as descobertas já feitas são o suficiente para manter ele e o restante da equipe ocupados por anos.
Por Áleff Willian, sob supervisão da jornalista Denise de Almeida
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